Sensação do futebol brasileiro no início dos anos 90, o Bragantino está longe de viver seus dias mais gloriosos. Longe da primeira divisão desde 2000, quando disputou a Copa João Havelange, o Massa Bruta é o time que está há mais tempo na Série B sem subir para a Série A ou cair para a Série C. O Leão disputa a segunda divisão ininterruptamente desde 2007. Em alguns anos, como 2008 e 2011, passou perto do acesso. Em outros, como 2012 e 2013, flertou com o rebaixamento.

Agora, para 2014, o Braga mais uma vez entra na Série B longe de ser favorito. Com um desempenho regular no Paulistão e um futebol longe de ser brilhante, o alvinegro aposta em sua boa estrutura, em seu potencial financeiro e em um elenco experiente para tentar surpreender. Neste guia preparado pela VAVEL Brasil, você confere toda a preparação do Massa Bruta para a Segundona.

Memória

O Bragantino era a nova sensação do futebol brasileiro. Em 1988, o Massa Bruta conquistou um acesso inédito para a primeira divisão do Campeonato Paulista, onde estreou em 1989, já chegando às semifinais, caindo para o São Paulo. No ano seguinte, foi além. Na final mais alternativa da história do futebol paulista, o Braga bateu o Novorizontino na final caipira e se sagrou Campeão Paulista de 1990.

No mesmo ano, o Braga estreou na Série A do Campeonato Brasileiro após conquistar o título da Série B em 1989. Debutando entre os maiores times do país, o clube do interior paulista alcançou um bom oitavo lugar. Assim, o Bragantino entrou no Brasileirão de 1991 almejando mais uma boa campanha. Naquele ano, 20 clubes disputavam o torneio. Em turno único, todos jogavam contra todos e os quatro primeiros avançariam para a semifinal. O Bragantino surpreendeu com uma ótima campanha e terminou em segundo lugar, somando os mesmos 26 pontos do líder São Paulo. O adversário na semifinal foi o Fluminense de Super Ézio, que, apesar de ter somado dois pontos a menos na fase inicial, tinha um leve favoritismo, principalmente pela força de sua camisa.

No dia 26 de maio de 1991, o Bragantino encarou o Fluminense e um Maracanã lotado para o primeiro jogo da semifinal. Apesar do apoio da torcida tricolor, o Flu não conseguiu furar a defesa bragantina e, aos 43 minutos da etapa final, Franklin abriu o placar para o Bragantino e colocou a modesta equipe de Bragança Paulista muito perto da grande final do Brasileirão. Vale lembrar que, depois de revelar Vanderlei Luxemburgo como treinador, o Braga tinha em seu banco de reservas Carlos Alberto Parreira, que três anos depois se sagraria tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira.

O Braga ainda contava com outro futuro tetracampeão, o lateral Mauro Silva, e recebeu o Tricolor Carioca em Bragança Paulista para o segundo jogo da semifinal. Artilheiro do Fluminense, Ézio abriu o placar no primeiro tempo, mas, na etapa final, Franklin marcou o gol da classificação para a final. O adversário seria o São Paulo de Telê Santana, então atual vice-campeão Brasileiro e que dava os primeiros passos para se tornar uma das equipes mais vitoriosas do futebol brasileiro.

Zetti; Ricardo Rocha, Antônio Carlos, Ronaldão, Cafu e Leonardo; Bernardo, Elivelton e Raí; Müller e Macedo. Depois da decepção de 1990, quando perdeu a final para o maior rival Corinthians, o super-time do São Paulo tinha pela frente o modesto Bragantino para conquistar o terceiro título brasileiro de sua história. Mais de 62 mil torcedores estiveram presentes no Morumbi no dia 5 de junho de 1991 para acompanhar o primeiro jogo da decisão. O jogo foi tenso e o São Paulo só conseguiu marcar aos quatro minutos do segundo tempo, com gol de Mário Tilico, e ficou nisso. Uma vitória simples do Bragantino no jogo de volta forçaria uma disputa por pênaltis. Mais de 12 mil torcedores se amontoaram no Marcelo Stéfani para conhecer o Campeão Brasileiro de 1991 quatro dias depois.

Para o São Paulo, mais um título à vista. Para o Bragantino, o capítulo final de uma saga que poderia o transformar no maior time do Brasil apenas três anos depois de estar no ostracismo da segunda divisão paulista. Foram 90 minutos de muita tensão e de uma pressão bragantina, que não deu resultado. O São Paulo conseguiu se segurar e venceu o Brasileirão pela terceira vez. O Bragantino nunca mais repetiria tamanha façanha, mas conseguiu deixar marcado seu nome na história do futebol brasileiro com uma das mais impressionantes campanhas feitas por uma equipe do interior.

O surpreendente Bragantino na final contra o São Paulo. (Foto: Divulgação/São Paulo Futebol Clube)

Na última edição...

Depois do susto passado em 2012, quando terminou em 14º lugar o Campeonato Brasileiro da Série B, com apenas dois pontos a mais que o CRB, que foi rebaixado, o Bragantino entrou no campeonato de 2013 tentando, ao menos, brigar na parte de cima da tabela. O começo de campeonato foi pouco promissor. Na primeira rodada, o Massa Bruta perdeu por 3 a 0 para o Joinville em Santa Catarina e, na sequência, perdeu em casa para o Boa Esporte por 1 a 0, ficando, assim, em último lugar.

A recuperação começou na terceira rodada, quando o Braga venceu o Guaratinguetá por 2 a 0 em Bragança e respirou aliviado, saindo do Z-4, para onde nunca mais voltaria. A situação do Bragantino melhorou bastante na sexta rodada, quando venceu o Sport por 2 a 0 na Ilha do Retiro e chegou ao sexto lugar. Até a 15ª rodada, o Bragantino só ficou de fora do G-10 na 13ª. Ainda sonhando com o acesso, o Leão começou a se afastar do G-4 nas rodadas finais do primeiro turno, que encerrou na 11ª colocação.

Alternando bons resultados com outros pouco positivos, o Massa Bruta fez um campeonato tranquilo. Sem chances de subir, correndo poucos riscos de cair e se mantendo quase sempre na 11ª posição. Uma série de jogos ruins a partir da 30ª rodada, porém, deram um pouco de emoção ao campeonato do clube da Terra da Linguiça. Na 33ª rodada, a seis jogos do fim, o Braga perdeu por 2 a 0 para o Oeste em Itápolis e chegou ao 15º lugar, a apenas duas posições da zona de rebaixamento.

O Bragantino respirou aliviado na rodada seguinte, ao vencer o Atlético Goianiense por 2 a 0 em Bragança Paulista. O alívio completo, porém, só veio na 37ª e penúltima rodada, com uma vitória por 1 a 0 sobre o Paysandu no Mangueirão. Com essa vitória, o Massa Bruta se livrou enfim de todo e qualquer risco de ser rebaixado para a Série C. A despedida da Segundona foi em Bragança Paulista com um empate em 1 a 1 com o Figueirense, que, com o resultado, garantiu o acesso para a Série A. O Bragantino encerrou o campeonato em décimo segundo lugar com 47 pontos. Foram 13 vitórias, oito empates e 17 derrotas, com 37 gols marcados e 43 sofridos.

O nome de 2013: Lincoln

Longe de ser um dos ataques mais positivos da Série B de 2013, o Bragantino pôde contar com os gols de Lincoln para se salvar do rebaixamento na Série C. O camisa 9 marcou 12 dos 37 gols do Massa Bruta na competição, sendo fundamental em algumas partidas que terminaram com vitória do Leão.

Aos 30 anos, o atacante, no Bragantino desde 2011, foi sondado pelo Corinthians, mas jogou o Paulistão pelo próprio Bragantino antes de ser emprestado ao Chongging Lifan, da China.

O início da temporada

O Bragantino fez uma campanha regular no Campeonato Paulista de 2014. No Grupo D, ao lado de Palmeiras, Rio Claro, Mogi Mirim e Oeste, o Massa Bruta conseguiu a classificação em segundo lugar e fez alguns bons jogos, chegando a vencer São Paulo (em casa) e Corinthians (no Pacaembu), ambos por 2 a 0.

Com a sétima melhor campanha dentre os oito classificados, o Leão enfrentou o Palmeiras nas quartas de final e não conseguiu se segurar, sendo derrotado por 2 a 0 e abandonando o campeonato. Na Copa do Brasil, o Braga sofreu para bater o Lajeadense, do Rio Grande do Sul, na primeira fase. Após o empate por 0 a 0 em Lajeado, o Bragantino sofreu enorme pressão no Marcelo Stéfani e suou para vencer por 1 a 0. Na próxima fase, o Braga enfrenta o Figueirense.

No Paulistão ou na Copa do Brasil, o futebol apresentado pelo Bragantino tem sido considerado abaixo da média, apesar de eventuais bons resultados e das metas para a primeira parte da temporada – avançar na Copa do Brasil e chegar ao mata-mata do Paulistão – terem sido cumpridas.

Quem comanda: Marcelo Veiga

Em tempos onde um treinador de futebol está sempre na corda bamba, é raro ver um técnico com tanta identificação com um clube quanto Marcelo Veiga tem com o Bragantino. Aos 49 anos, Veiga iniciou a carreira de treinador em 1999, na Matonense. Depois de muito rodar pelo interior, ele chegou ao Braga em 2004 e ficou até o ano de 2005. Saiu e voltou em 2006, dessa vez para a sua melhor passagem pelo clube, quando chegou até a semifinal do Paulistão de 2007. Ele então foi para Paulista e América de Natal para, ainda em 2007, voltar a Bragança Paulista.

Sua passagem mais longa pelo Marcelo Stéfani durou cinco anos, quando ele se tornou um dos treinadores com maior tempo de trabalho em um time das principais divisões do Brasil. Em 2012, ele deixou o Leão, passou por Botafogo-SP e São Caetano, até retornar ao Braga no ano de 2013. Em 2014, ele completará, entre idas e vindas, 10 temporadas no comando do Massa Bruta. Se não é um treinador dos mais brilhantes, com táticas geniais e revolucionárias, Veiga conseguiu impor um padrão ao alvinegro, montando uma defesa consistente e apostando bastante no toque de bola.

Certamente, a opção da família Chedid, cujo patrono maior, o falecido Nabi, foi responsável por levar o Braga ao topo do país, por manter o técnico mesmo com resultados nem sempre positivos é mais inteligente que trocar de treinador a cada fracasso. Ao menos taticamente, o Bragantino se tornou, com Marcelo Veiga, um time diferente dos demais. Ao todo, Veiga treinou o Massa Bruta em mais de 400 jogos.

Quem decide: Léo Jaime

Outro dos jogadores bastante identificados com o Bragantino, está no clube de 2009, Léo Jaime tem crescido cada vez mais no ataque do Leão. Aos 28 anos, o atacante assume agora o posto de artilheiro do Massa Bruta após a saída de Lincoln. Nessa temporada de 2014, o oportunismo de Léo Jaime o fez artilheiro do Braga no Paulistão, com três gols marcados.

Jaime deve ser fundamental para que o Braga resolva um de seus principais problemas: a falta de gols.

Quem promete: André Astorga

Pode um jogador de 33 anos, com passagens por clubes tradicionais do futebol brasileiro como o Santos, ser considerado uma promessa? No caso do volante André Astorga, sim. Depois da rápida passagem pelo alvinegro da Vila Belmiro, ele passou por Bragantino, Sport e Boa Esporte. Especialmente no primeiro, teve alguns bons momentos, mas não brilhou.

Em 2014, porém, ele voltou à Bragança Paulista e voltou jogando bem. No Campeonato Paulista, foi fundamental na organização do meio-campo do Massa Bruta e também na criação de jogadas. Além disso, ainda se mostrou bastante eficiente dentro da grande área e marcou o gol da classificação bragantina na Copa do Brasil. Se mantiver o ritmo, deve ajudar o Bragantino a fazer uma boa campanha na Série B.

O desafio

O desafio principal do Bragantino nessa Série B é superar o estereótipo de ser um time de meio de tabela. Com o passar dos anos, o clube interiorano se acostumou a entrar no campeonato sem grandes expectativas e sem ser temido pelos adversários mais fortes. Com uma média de público que dificilmente passará dos 1000 torcedores, o Massa Bruta também precisa melhorar o seu desempenho jogando em Bragança Paulista, onde, ao menos nos últimos anos, tem deixado pontos preciosos para trás. Fora de casa, o Braga até consegue surpreender, mas acaba sendo justamente em seus domínios que perde a chance de alçar voos mais altos.

Avaliação VAVEL

Boa estrutura, boa condição financeira, experiência na competição, um time mediano, pouco apoio da torcida e acomodação em relação a sua atual posição no futebol brasileiro. Essa combinação de fatores levam o Bragantino a começar o torneio, mais uma vez, candidato a ficar no meio da tabela na Série B de 2014. Evidentemente, no decorrer da competição, a equipe do interior paulista pode se tornar candidata a brigar por uma das quatro vagas na Série A de 2015 ou a lutar até o fim para não voltar para a Série C.