Torcedor assumido do Santos e fã de Romário, o volante Luiz Gustavo não durou muito tempo no futebol brasileiro: após um ano dividido entre os rivais CRB e Corinthians Alagoano, o paulista de Pindamonhangaba se mudou para a Alemanha, onde viria a brilhar. Já são sete temporadas no país europeu e um rendimento que lhe rendeu uma vaga no grupo que defenderá o Brasil na Copa do Mundo.

Nos últimos anos, sucesso se tornou palavra constante no vocabulário do jogador: no Hoffenheim, se firmou em um período de transição da equipe, conseguindo o respeito do torcedor. De lá foi para o Bayern de Munique e fez parte da espinha dorsal da equipe campeã de tudo na temporada 2012/2013. Esta temporada defendeu o Wolfsburg, onde se firmou como peça importante do setor de marcação da equipe.

Apesar de absoluto na campanha campeã da Copa das Confederações de 2013 e atuações de destaque nas partidas decisivas, Luiz Gustavo ganhou no início deste ano a concorrência de Fernandinho. O atleta do Manchester City, que já vinha pedindo passagem há alguns meses, estreou bem, e apesar de ainda não ameaçar a titularidade do camisa 17, exige do jogador um desempenho ainda melhor.

Para o volante, disputar uma Copa do Mundo em casa é especial, e por isso deve ser aproveitada: "Essa é uma oportunidade que muitos esperavam. Jogar uma Copa no seu país é uma oportunidade única, e queremos vivê-la da melhor forma. A chance é de uma em mil".

Carreira curta em Alagoas

Apesar de paulista, o início de Luiz Gustavo se deu na base do modesto Universal, da segunda divisão de Alagoas. Sem clube, nem empresário, o garoto se mudou para o Nordeste aos 17 anos para tentar dar sequência ao sonho de ser jogador de futebol. Conta o jogador que chegou a disputar jogos oficiais como zagueiros, foi visto pelo presidente (e por ora olheiro) do Corinthians Alagoano, e ganhou a oportunidade de mostrar pela primeira vez seu futebol em um clube de maior exposição.

João Feijó, o responsável pelo primeiro grande teste de Luiz Gustavo, se gaba de também ter descoberto jogadores como Deco e Hulk, não hesitou ao ver o atleta mais de perto: quis logo no time profissional, e por um salário mínimo, assinou com Luiz. Então apareceu Tomas Fedel, olheiro do Hoffenheim, que ajudou a moldá-lo para o que achavam que seria seu melhor encaixe, a volância. O jogador fez um bom estadual, foi emprestado para jogar a Série B do Brasileirão pelo CRB, e deu certo. Ainda naquele ano foi negociado com os alemães.

À época, o clube havia oferecido o jogador ao empresário Eduardo Maluf, então dirigente do Cruzeiro, que, porém, rechaçou sa contratação: "Eu não sei nem a posição do jogador". Moldado para ser volante, porém com características para atuar tanto como zagueiro, quanto lateral-esquerdo, foi emprestado de graça ao Hoffe, e não demorou para agradar.

Ida para a Alemanha e importância na ascensão do Hoffenheim

Quando chegou no Hoffenheim, o time havia sido recém-promovido da 2.Bundesliga (segunda divisão local) para a elite do futebol da Alemanha. Em uma série de investimentos após ser comprado por um magnata da indústria da informática, o time contava com jogadores como os atacantes Ibisevic (bósnio que vem à Copa) e Demba Ba (hoje no Chelsea). Logo em suas primeiras aventuras na primeira divisão, bons resultados, e com Luiz Gustavo no time.

Durante as três temporadas que ficou no Hoffe, Luiz demorou a se firmar na sua posição, à frente da zaga, porém, uma lacuna na lateral-esquerda permitiu que pudesse ganhar espaço. Posteriormente foi deslocado e jogando como volante se consolidou: dentro das limitações impostas pelo nível da equipe, virou destaque, atraindo o interesse do Bayern de Munique.

Negociado por algo em torno de 17 milhões de euros, o brasileiro assinou com o Bayern em janeiro de 2011, com a missão de ser o virtual substituto do holandês Mark van Bommel.

Consolidação atuando no Bayern

Jogador coroou melhor temporada da carreira com título da Champions (Foto: Alex Livesey/Getty Images)

Em Munique, foram dois anos e meio de um salto inesperado na carreira do jogador. Pelo clube, foram um total de 64 jogos e seis gols anotados, além da participação vital na temporada em que o clube venceu tudo: Supercopa, Bundesliga, Champions League e DFB-Pokal.

Sob o comandod e Jupp Heynckes, Luiz mais jogou justamente na temporada 2012/2013, quando o Bayern de Munique alcançou, em meses irretocáveis, o título de todas as competições que disputou. Ao mesmo tempo, lesões de Schweinsteiger contribuíram para que ganhasse mais espaço, ao mesmo tempo que as saídas de Van Bommel, e depois Tymoshschuk também ajudaram.

Logo após sua primeira temporada pelo clube bávaro, o jogador que era avaliado em 7 milhões de euros passou a valer 16 milhões. Agenciado pela mesma empresa que cuida de jogadores como Roberto Firmino (meia, Hoffenheim), Rafinha (lateral, Bayern) e Julian Draxler (meia, Schalke), se viu em uma situação delicada com a chegada do espanhol Javi Martínez, contratado a peso de ouro, e a também vinda do treinador Pep Guardiola.

Na iminência de disputar menos jogos e na mira de boas equipes, Luiz Gustavo chegou a flertar com o Arsenal, porém, optou pela permanência na Bundesliga, onde, com direito a lobby dos compatriotas Naldo e Diego Ribas, assinou pelo Wolfsburg.

Títulos pelo Bayern Temporada
Supercopa da Alemanha 2012/2013
Bundesliga 2012/2013
Uefa Champions League 2012/2013
DFB-Pokal 2012/2013

De destaque da temporada a preocupação do treinador

Com a chegada de Guardiola, a presença de Luiz Gustavo no time do Bayern de Munique se viu ameaçada. Porém, o discurso inicial misturou valentia com esperança, buscando brigar por uma vaga no time com o espanhol Javi Martínez. A persistência do brasileiro existiu até o momento em que o Wolfsburg fez boa proposta e que, em comum acordo entre clube e jogador, foi aceita. Assim, o Bayern balanceou parte do caixa, enquanto o volante pôde ter uma sequência de jogos garantida na temporada que antecedeu a Copa do Mundo.

Foi expulso três vezes na temporada

Apesar da sequência, o novo clube trouxe uma nova realidade ao jogador: no aspecto disciplinar, o até então confiável e frequente deu lugar a um Luiz Gustavo temperamental, com entradas duras e lances mais ríspidos em boa parte dos jogos. Tal mudança de estilo se comprova nos números: jogador com mais expulsões na temporada alemã (3) e um lugar entre os dez mais faltosos da Bundesliga. Disciplina à parte, o volante conquistou seu lugar.

Com bom passe e a confiança do grupo, mesmo em uma temporada em que a equipe passou por uma série de mudanças, Luiz foi intocável. Além disso, boa média de desarmes e combatividade ajudaram a dar confiança ao jogador: em toda sua carreira nunca havia tido números ofensivos tão bons quanto em 2013/2014, com um total de quatro gols e duas assistências.

Clubes na carreira Ano Jogos Gols
Corinthians-AL 2007 e 2008 21 2
CRB 2007 14 1
Hoffenheim (ALE) 2007 à 2011 99 2
Bayern de Munique (ALE) 2011 à 2013 64 6
Wolfsburg (ALE) 2013 e 2014 26 4
Total: 224 15

Passagem pela Seleção Brasileira

Luiz virou um dos homens de confiança do técnico Felipão (Foto: Buda Mendes/Getty Images)

A estreia de Luiz Gustavo pela Seleção se deu ainda com Mano Menezes no comando, e em território conhecido. Em agosto de 2011 o volante foi convocado para amistoso diante da Alemanha; entrou na segunda etapa substituindo Ramires, jogando apenas cinco minutos e tendo a mistura da alegria da estreia com o dissabor da derrota por 3 a 2.

"Sou um torcedor em campo"

Em outubro do mesmo ano fez também sua estreia como titular, em mais uma amistoso, diante da Costa Rica. Jogou toda a primeira etapa e o Brasil venceu por 1 a 0, com gol de Neymar. A partir daí, não saiu mais da equipe nacional.

Sob o comando de Luiz Felipe Scolari, o volante ganhou a disputa individual com Fernando, primeira opção do técnico ao assumir o time, se firmando ao lado de Paulinho no setor. A dupla deu certo e se garantiu para a Copa das Confederações, onde Luiz teve papel importante no título brasileiro.

Para a Copa do Mundo, o jogador garante que o espírito será o mesmo das Confederações, se doando ao máximo para que o Brasil seja campeão: "Além de jogador, eu sou um torcedor em campo. Podem esperar o melhor possível dessa Seleção, porque não vai faltar vontade".

Mais do que entrar para a história, o jogador pretende repetir o feito de 2013, quando a Seleção brasileira bateu a Espanha no Rio de Janeiro: "Aquele momento marcou minha carreira, deixou um gosto de quero mais. Poder jogar no estádio histórico do Maracanã, ainda mais uma decisão pelo Brasil, é um sentimento único".

Ficha técnica

Nome: Luiz Gustavo Dias

Data de nascimento: 23 de julho de 1987 (26 anos)

Local de nascimento: Pindamonhangaba (SP)

Altura: 1,86m

Passagem pela Seleção Ano Jogos Gols
Amistosos 2011 à 2014 12 1
Copa das Confederações 2013 5 0
Total: 17 1