No dia 19 de julho de 2003, o garoto João Alves de Assis Silva entrava para a história de um dos maiores clubes do país. Aos 16 anos e 111 dias, o atacante se tornava o mais jovem jogador a vestir a camisa do Corinthians em uma partida contra o Guarani pelo Brasileirão. Pouco menos de 11 anos depois, ele, depois de passagens por outros dois grandes clubes brasileiros e pela Europa, se prepara para a disputa de sua primeira Copa do Mundo.

Jô está longe de ser uma convocação incontestável. Em uma posição bastante disputada, ele desbancou nomes como Robinho e Alan Kardec para ter a oportunidade de estar no banco de reservas dos comandados de Luiz Felipe Scolari. Seu desempenho recente pela amarelinha, contudo, deixa claro que ele é muito mais que um simples reserva. Mesmo sem viver sua melhor fase na carreira, ele ainda é uma das principais esperanças de Felipão para aquele momento em que nada dá certo.

A perda do irmão e o ótimo início no Corinthians

Apesar de não ter nascido em berço de ouro, Jô tinha uma família razoavelmente bem estruturada. A despeito das dificuldades, o pai taxista e a mãe empregada doméstica conseguiam manter a casa que parecia ser a morada de um futuro craque. Não, não era Jô, que, aliás, nem gostava tanto de futebol, embora já tivesse sido aprovado em um teste no Corinthians aos nove anos de idade.

O craque da família era o irmão que já se destacava na Portuguesa quando, aos 20 anos, morreu em um acidente de carro: "Meu irmão era meu segundo pai, digamos assim. Era minha referência em tudo", relembra. Aos poucos, o filho do seu Dário que nem ligava tanto para a bola, foi crescendo nas categorias de base do Corinthians e a família começava a ganhar um novo jogador profissional.

Aos 16 anos, ele já se destacava no juniores de um Corinthians que tinha problemas no profissional. O técnico Geninho, entre lesões e jogadores negociados, não tinha quem relacionar para a partida contra o Guarani, em um sábado a tarde, no Pacaembu, pelo Campeonato Brasileiro e resolveu dar uma chance ao garoto Jô: "'Jô, você tem que se apresentar à tarde pra treinar com o profissional'. Falei, 'ah deve ser uma pegadinha'. Fui com aquilo na cabeça, no ônibus, no metrô, cheguei em casa, falei pro meu pai: 'Eu vou pro jogo sábado contra o Guarani'. Meu pai quase infartou, né? Joguei acho que cinco minutos, mas foram os cinco minutos mais felizes da minha vida", conta.

Aquele Corinthians não era exatamente um grande time e, aos poucos, as chances de Jô foram aumentando no profissional. Além do bom futebol apresentado, contribuía a favor do atacante a responsabilidade. Proibido de dar entrevistas durante a má fase no Brasileiro de 2003, ele afirmou, no ano seguinte, à Revista Placar, que se espelhava em casos como o do amigo Abuda, outro destaque corinthiano cuja carreira não engrenou, entre outras coisas, por conta das baladas, para seguir uma carreira sem extravagâncias e de maneira bastante cuidadosa.

Após uma boa temporada em 2004, Jô ficou sem espaço no galático time formado pela MSI para a temporada 2005. Ele até jogava, mas já não era mais um destaque em um time que tinha, entre outros, Tévez, Mascherano e Nilmar. Era a hora de iniciar uma carreira internacional.

Sucesso na Rússia, primeira oportunidade na Seleção e volta ao Brasil

O futebol de Jô chamou a atenção de um dos mais tradicionais clubes da Rússia, o CSKA, de Moscou. Com apenas 18 anos, ele já estava disputando competições importantes como a Copa da UEFA, hoje UEFA Europa League.

Nas três temporadas em que esteve no ataque do clube russo, Jô se destacou com seus 47 gols em 83 jogos. Bem visto pela torcida, ele logo chamou a atenção de clubes de grandes países europeus, como o Valência, da Espanha que, em 2008, fez uma proposta - rejeitda - de 18 milhões de euros (R$ 47 milhões na cotação da época) ao clube de Moscou pelo atacante.

À época, ele já não era mais o menino que havia ficado surpreso com a oportunidade de jogar cinco minutos pelo Corinthians. No ano anterior, havia sido chamado pelo técnico Dunga para a Seleção Brasileira, para um amistoso contra a Turquia, que terminou empatado por 0 a 0. A chance seria a única de Jô pela Seleção principal em algum tempo.

Poucos meses depois da recusa à proposta espanhola, o CSKA não conseguiu mais segurar Jô. Aos 21 anos e por cerca de 60 milhões de reais, ele foi vendido ao Manchester City, da Inglaterra, que, se não é a potência dos dias atuais, já era um time de bom poder econômico. Até então, essa havia sido a contratação mais cara da história do clube.

Mas, dentro de campo, as coisas não foram como Jô esperava. Sem muitas chances no time do técnico Mark Hughes, a temporada 2008 valeu apenas por ter levado o atacante aos Jogos Olímpicos de Pequim, quando conquistou a medalha de bronze junto com a Seleção Brasileira. Jô jogou apenas a disputa pelo terceiro lugar, contra a Bélgica, quando marcou dois gols na vitória brasileira por 3 a 0.

Sem espaço no escrete de Hughes, ele foi emprestado ao Everton, também da Inglaterra, em 2009, onde ficou, também sem muito destaque, até o ano de 2010, quando, ainda contratado pelo City, foi emprestado a um dos grandes times da Turquia, o Galatasaray. Outra vez, uma passagem longe de ser brilhante, com apenas três gols em 15 jogos. Cada vez mais distante dos holofotes e da Seleção Brasileira, Jô dificilmente seria uma aposta para os convocados para a Copa de 2014 três anos antes, em 2011, quando deixou a Europa e voltou ao Brasil.

Passagem pelo CSKA foi a melhor de Jô na Europa (Foto: Getty)

O pior momento da carreira, o renascimento no Atlético e a volta à Seleção

Aos 24 anos, Jô voltava ao Brasil para atuar pelo Internacional. A estreia pelo Colorado veio em um empate em zero a zero com o Atlético Goianiense no Serra Dourada, pelo Brasileirão. Aos poucos, ele foi recuperando o bom futebol e passou a ter boas atuações no Rio Grande do Sul.

Entretanto, em março de 2012, chegou ao momento mais difícil de sua carreira. Alegando uma "indisposição", não viajou para a Bolívia, onde o Inter enfrentou o The Strongest em um jogo pela Libertadores. Dias depois, veio a notícia de que ele foi afastado pelo técnico Dorival Júnior por indisciplina. Foi o momento mais difícil de sua carreira, mas que provocou uma mudança na carreira do jogador, que retomou a responsabilidade do início da carreira: "Para mim, foi o fim da vida, achei que a carreira ia atravancar ali, sabe? Ele abaixou a cabeça, jurou pra gente que não ia acontecer mais nada disso aí", conta seu pai.

Quando pensava até em desistir do futebol, ele foi contratado pelo Atlético Mineiro, que começava a montar o time que se sagraria campeão da Libertadores. Em Minas Gerais, Jô alcançou o ápice de sua carreira. Ele já foi muito bem no Brasileirão de 2012, mas foi o desempenho na Libertadores de 2013 que o trouxe de volta a Seleção. Dos sete gols, o mais importante foi o marcado no segundo jogo da final contra o Olimpia, o primeiro da vitória por 2 a 0 que levou a decisão para a prorrogação.

A oportunidade de voltar a vestir a amarelinha havia surgido meses antes. Ele não era convocado desde 2008, quando esteve entre os titulares nas partidas contra Chile (3 a 0 em Santiago) e Colômbia (0 a 0 no Maracanã) pelas Eliminatórias. A primeira convocação foi justamente para a Copa das Confederações. O desempenho no torneio poderia ser fundamental para garantir seu passaporte na Copa do Mundo do Brasil.

A volta por cima no Atlético Mineiro (Foto: Divulgação/Atlético Mineiro)

Talismã da Copa das Confederações e bom desempenho em amistosos garantem vaga no Mundial

Jô entrou no segundo tempo da partida de estreia do Brasil na Copa das Confederações contra o Japão. Ele havia entrado sem muito brilho na vitória por 3 a 0 sobre a França em um amistoso, mas foi em Brasília que começou a conquistar seu espaço no elenco de Scolari. Já nos acréscimos, ele recebeu belo passe de Paulinho para marcar o terceiro gol da vitória por 3 a 0, o seu primeiro com a camisa do Brasil.

Na segunda partida, a história se repetiu, mas agora com maior importância. O Brasil vencia o México por 1 a 0 em um jogo tenso quando Neymar fez linda jogada e tocou para o atacante que, livre, marcou o segundo. Dois gols nos minutos finais dos dois primeiros jogos o fizeram o Talismã do Brasil na Copa das Confederações. Ele entrou novamente na final contra a Espanha, mas, com o placar favorável em 3 a 0, pouco fez.

Na sequência, ele deu conta do recado nos amistosos em que entrou. Foram dois gols na goleada de 6 a 0 contra a Austrália e um na vitória por 3 a 1 ante Portugal. Assim, mesmo sem viver seu melhor momento na carreira, ele conquistou a confiança de Felipão e garantiu vaga na Copa. Recentemente, ele contou ter recebido uma ligação de Scolari um dia antes da convocação perguntando sobre sua condição física: "estou muito bem", respondeu, confirmando seu nome na lista de 23 nomes, o que, para ele, "é um orgulho muito grande".

Jô marcou dois gols na Copa das Confederações (Foto: EFE)

Ficha técnica

Nome completo: João Alves de Assis Silva

Data de nascimento: 20 de março de 1987

Local de nascimento: São Paulo, SP

Altura: 1,90m

Clube atual: Atlético Mineiro

Clubes anteriores: Corinthians (2003-2005), CSKA-RUS (2005-2008), Manchester City-ING (2008-2011), Everton-ING (2009-2010), Galatasaray-TUR (2010) e Internacional (2011-2012)

Títulos na carreira: Campeonato Paulista (2003), Campeonato Brasileiro (2005), Campeonato Russo (2006), Copa da Rússia (2005-2006 e 2007-2008), Supercopa da Rússia (2006 e 2007), FA Cup (2010-2011), Recopa Sul-Americana (2011), Campeonato Gaúcho (2012), Taça Farroupilha (2012), Campeonato Mineiro (2013), Copa das Confederações (2013) e Copa Libertadores da América (2013)

Títulos individuais: não possui

Ano 2007 2008 2013 2014 Total
Jogos pela Seleção (gols) 1 (0) 2 (0) 11 (5) 1 (0) 15 (5)

Durante os dias que antecedem a Copa do Mundo de 2014 a VAVEL Brasil irá publicar uma série de especiais abordando os principais temas que envolvem o torneio. Na sequência 'Rumo à Copa', os 23 escolhidos por Luiz Felipe Scolari serão analisados.

Jô ao lado de Neymar na Copa das Confederações (Foto: Reprodução/Sportv)