Após uma atuação abaixo da crítica contra o Chile, a Seleção Brasileira ligou o alerta vermelho para o embate contra a Colômbia, pelas quartas de final da Copa do Mundo de 2014. A preocupação é justa. Sem apresentar um bom futebol desde que o Mundial começou, o escrete canarinho tem pela frente os cafeteros, única seleção invicta do torneio, que detém o artilheiro da competição e apresenta o melhor futebol dentre os oito quadrifinalistas.

Outro agravante para a partida: Luiz Gustavo, o jogador mais regular da seleção, recebeu o segundo amarelo e está suspenso. Candidatos para a vaga deixada não faltam, mas a preocupação com o toque de bola veloz colombiano pode influenciar na escolha do treinador. Na próxima sexta-feira (04), o Castelão será palco do confronto que poderá ser o divisor de água para Luiz Felipe Scolari e seus comandados nesta edição de Copa do Mundo.

Rendimento abaixo da média diante do Chile

Durante o segundo tempo da partida entre Brasil e Chile, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, os rojos chegaram a obter 62% de posse de bola, além do domínio total da partida, quando tocavam livremente e criavam oportunidades atrás de oportunidades. Visivelmente atônito, nada encaixada. A Seleção não conseguia marcar pressão, fato que lhes consagrou durante a Copa das Confederações, não tinha o poder do contra-ataque, em vista que o meio de campo era inexistente e batia cabeça na defesa, em prol do nervosismo.

Salvam-se Julio César, herói nos pênaltis, mas que evitou uma derrota já no tempo regulamentar, a dupla de zaga, Luiz Gustavo, Thiago Silva e David Luiz, que mantiveram as boas atuações e Hulk, talvez o melhor em campo por parte do escrete canarinho, por ser o único a tentar pegar a bola ir pra cima. Já por outro, Daniel Alves e Marcelo pareciam perdidos em suas laterais. Fernandinho não repetiu a boa atuação diante de Camarões e, completando o meio-campo, vemos um Oscar nulo na partida. O mesmo vale para Neymar, que sumiu do jogo à partir de segundo tempo. Fred e não entraram em campo, não merecem ser avaliados.

Após uma atuação tão abaixo da média, a expectativa é de uma postura diferente diante da Colômbia, vide que nem sempre a sorte ajudará, como contra o Chile.

Insegurança e descontrole emocional

A média de idade da Seleção Brasileira é de 28,4 anos, muitos dos convocados estão em seu primeiro Mundial e peculiarmente em sua própria casa, o que aumenta ainda mais a pressão. Thiago Silva, com 29 anos, está em sua segunda Copa, mas logo na primeira como titular, é o capitão. Outro agravante de uma Copa do Mundo em casa são os hinos nacionais cantandos a capela por todos os estádios do país, fato que já levou diversos jogadores as lagrimas. Culminando tudo isso, podemos ter as explicações do descontrole emocional da equipe brasileiro dentro de campo, não? Talvez.

Mesmo com a pouca idade, os atletas da Seleção Brasileira já passaram por muitos confrontos decisivos em seus determinados clubes, nada que se compare a importância de uma Copa do Mundo, mas colabora para a preparação em um Mundial. No primeiro tempo contra a Croácia, o nervosismo tomou conta da seleção, que chegou a estar atrás no placar, com o adversário dominando a partida. Contra o México, um 0 a 0 onde os comandados de Scolari pouco criaram. Contra Camarões, um primeiro tempo lamentável, mas superado por uma boa segunda etapa. Contra o Chile, a pior atuação, pressão gigantes e classificação nos pênaltis. O sinal de alerta está ligado.

A cena que chamou atenção diante do Chile foi a de Thiago Silva, sentado em cima de uma bola, fora do campo, enquanto os atletas se concentravam para as penalidades máximas. Em entrevista, o capitão revelou que "não estava confiante para bater os pênaltis". No segundo tempo e na prorrogação, a seleção chilena tocava bola e pressiona ao seu bel-prazer, enquanto os escrete canarinho - atônito - não tinha forças para reagir, marcar pressão, ou tentar um contra golpe. A eliminação não veio no tempo regulamentar por milagres de Julio César e falta de pontaria por parte do adversário.

Após o susto, a expectativa é de que uma lição tenha sido aprendida: é preciso ter força para reagir. Contra a Colômbia, que é um forte adversário, nas quartas de final de uma Copa do Mundo, se faz necessário o controle da partida. Fato que só foi conquistado durante o segundo tempo contra Camarões, por apenas 45 minutos, em 255 jogadores.

(Foto: Getty Images)

O que Felipão pode fazer?

O confronto diante do Chile, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, mostrou várias deficiências da Seleção Brasileira para quem quisesse ver, desde o emocional coletivo a conceitos técnicos e táticos. Diante da Colômbia, erros bobos como o que motivou o gol chileno, ainda na etapa inicial, não podem se repetir. A catimba sul-americana estará presente de novo, porém, os colombianos tem um meio campo rápido, de bom toque de bola, e três setores do campo que se interligam diretamente, o bate de frente com o esquema de Luiz Felipe Scolari.

Se os meias colombianos estão em perfeita sintonia, o mesmo não se pode dizer dos brasileiros. Luiz Gustavo, Paulinho ou Fernandinho e Oscar não mantém uma conexão dentro de campo, fazendo com que o setor seja o mais frágil da equipe brasileira. Contra Camarôes, a entrada do volante do Manchester City arrumou a casa e o Brasil controlou a partida, mas diante do Chile, o erro manteve-se o mesmo. A ligação do campo de defesa para o ataque na base do chutão não foi raridade, e a fragilidade surge a partir dessas rebatidas.

Com Luiz Gustavo suspenso, a possível entrada de Paulinho, Hernanes ou Ramires contribuirá para uma melhor saída de jogo, mas nada que resolva o problema. Oscar segue isolado na criação - esta inexistente desde a partida contra a Croácia - e nulo durante a partida. A solução seria sacrificar um dos pontas canarinhos em busca de um meio-campo mais compactato, no caso, Hulk. O criticado atacante é outro que está abaixo da média e recorrentemente substituito durante os jogos. Para seu lugar, temos Willian, que pode tanto fazer a função de ponta, quanto de armador, revezando com Oscar, assim como fazem no Chelsea.

Outra solução - esta mais para o segundo tempo - seria a entrada de Bernard. Jogando nas costas dos laterais colombianos - que saem muito para o jogo -, o atacante pode se dar bem. Porém, falando em laterais, vemos mais erros: Daniel Alves e Marcelo. Ofensivamente, o lateral-esquerdo brasileiro é eficiente, e defensivamente tem dado conta do recado. Mas, ainda cede espaço, o que será perigoso no combate direto com Juan Cuadrado, que jogará por ali. Já Daniel Alves, não tem rendimento nem no ataque e nem na defesa. Soluções? Maicon, o que seria óbvio. Ou então o recuo do defensor, limitando sua subida para o campo de ataque e completando o setor defensivo.

Finalizando, chegamos ao ataque e Fred e levam o cargo de não assumirem o posto de goleadores da seleção. Por que? Porque a bola não chega. Diferente da Copa das Confederações, o camisa 9 canarinho é pouco acionado na partida, tendo que trombar com os zagueiros para criar alguma oportunidade. Jô, contra o Chile, teve de sair da área para receber a bola, o que não condiz com sua característica. Ineficientes, o Brasil perde apenas seus goleadores. Já Felipão, visto isso, terá alguns dias para treinar e mudar a postura de seus jogadores em campo. Caso contrário, não passaremos da Colômbia. Em vista que será um adversário mais complicado que o Chile. Abre o olho, professor!

(Foto: Ryan Pierse/FIFA/Getty Images)

Luiz Gustavo suspenso

Completando o ciclo de problemas para o técnico Luiz Felipe Scolari, temos Luiz Gustavo, que recebeu o segundo cartão amarelo diante do Chile - após acertar um carrinho em Vidal, já no segundo tempo - e está suspenso do embate diante da Colômbia. Concorrentes para a vaga? Paulinho, Hernanes, Ramires, David Luiz e Henrique. Peças não faltam, mas a preocupação do treinador vai além disso.

Luiz Gustavo vinha sendo uma das grandes surpresas da Seleção Brasileira, ou a aposta que mais trouxe frutos na segunda 'Era Felipão'. Maior ladrão de bolas canarinho nesta edição de Copa do Mundo, o volante é elogiado pelos zagueiros pela seu comando frente a área defensiva e é um dos poucos que conseguiu manter a média de boas atuações durante os quatro jogos disputados até aqui. Sua regularidade no mundial impressiona até treinadores de outras esquadras, que já manifestaram elogios ao jogador.

Sem o camisa 17, Felipão se vê de frente com mais um problema: sem jogadores com a mesma característica para a posição, é digno apostar em uma improvisação para o setor ou recuar Fernandinho para sua posição de origem seria o ideal? Contra a Colômbia, uma seleção que detém um excelente toque de bola e James Rodríguez, melhor jogador do Mundial até aqui, a preocupação com a marcação é prioridade.

(Foto: Ian Walton/Getty Images)

Prováveis substitutos

Com a ausência de Luiz Gustavo, o técnico Luiz Felipe Scolari terá de mudar a escalação inicial da Seleção Brasileira pela segunda vez nessa edição de Copa do Mundo. Porém, o desfalque do volante mais regular do elenco implica na falta de um substituto com as mesma caractéristicas, criando dúvida e deixando no ar a pergunta sobre qual será a escolha do treinador.

Entre os concorrentes, Paulinho, que iniciou o Mundial como titular, mas devido a opções técnicos terminou indo para o banco de reservas, Ramires, que tem entrado constantemente durante as partidas, mas que ainda não engrenou, Hernanes, que já atuou na posição com Felipão diante da Inglaterra, e corre por fora pela vaga, David Luiz, que pode ser improvisado como volante, assim como joga no Chelsea, deslocando Dante para a zaga, ou Henrique, a surpresa da concorrência, que já jogou nesse mesmo estilo com Felipão, ainda no Palmeiras. Confira os prós e contras dos candidatos que Scolari tem em mãos.

- Paulinho

Com a entrada de Paulinho no lugar de Luiz Gustavo, Fernandinho seria recuado para a posição de primeiro volante, com o camisa 8 fazendo a função de segundo homem de meio-campo. Dessa maneira, Fernandinho jogaria da mesma maneira em que atuava no começo de sua carreira, no Atlético Paranaense, e no Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, além de melhorar a saída de bola brasileira, deficiência muito sentida diante da forte marcação chilena nas oitavas-de-final, enquanto Paulinho faria a função que o consagrou com a camisa do Corinthians. O recuou de Fernandinho seria fundamental para segurar o ótimo James Rodríguez, cérebro colombiano e um dos principais jogadores desta Copa do Mundo.

A melhora na saída de bola também faria o Brasil abusar menos dos lançamentos de Thiago Silva e David Luiz, dando uma qualidade maior a construção de jogadas e aumentando o poder coletivo da equipe, muito dependente de Neymar. Caso a equipe melhore no âmbito coletivo, Paulinho tem tudo para recuperar o ótimo futebol dos tempos de Corinthians e da Copa das Confederações do ano passado e ser a válvula de escape que a Seleção Brasileira tanto precisa para conquistar o hexacampeonato. Com a proteção de Fernandinho e com espaço para chegar ao campo de ataque, Paulinho poderia se aproveitar do espaço entre Carlos Sánchez e Aguilar, a dupla de volantes, e Yepes e Zapata, dupla de zaga, para desequilibrar a partida.

(Foto: Ian MacNicol/Getty Images)

- Ramires

Caso Luiz Felipe Scolari opte por Ramires na vaga de Luiz Gustavo, a Seleção Brasileira ganha em força e velocidade, principais características do ex-cruzeirense. Ramires pode ser uma ótima válvula de escape, mas por diversas vezes já se mostrou até violento e pode colocar a partida em risco. Se o volante for o escolhido, provavelmente Fernandinho será recuado para a função de primeiro volante, como joga no Manchester City, e quem sabe melhore o grande defeito da equipe: a ligação entre a defesa e o ataque. No entanto, a marcação ficaria um pouco mais frouxa, o que não pode acontecer diante de uma equipe que conta com James Rodríguez.

Contra a Croácia, Ramires foi escolhido por Felipão para segurar o jogo, compôr o meio campo e fechar os espaços contra a grande pressão que Modric e seus companheiros faziam na partida. A escolhe foi certeira, e o volante não comprometeu. Contra o Chile, foi cogitado para a equipe titular, entrando no lugar de Hulk para fechar o arco de três volantes, visando que enfrenteria um meio campo de excelente toque de bola. Pode ser uma boa opção contra James Rodríguez e seus companheiros.

(Foto: Elsa/Getty Images)

- Hernanes

Com a entrada de Hernanes, o Brasil pode ganhar em um dos seus principais problemas apresentados na Copa do Mundo: a ligação entre a defesa e o ataque. Com Paulinho ou Fernandinho, o time de Felipão tinha um segundo volante que tinha como característica principal a boa chegada ao ataque. Com Ramires de terceiro homem de meio-campo, um jogador que carregasse a bola em velocidade. Caso opte por Hernanes, uma opção diferente: um dos poucos atletas do elenco que pode fazer a bola chegar -- e se aproveitar da velocidade de Neymar ou do posicionamento de Fred. Neymar, esgotado fisicamente e sentindo uma lesão contra o Chile, é obrigado a vir buscar a bola no meio de campo e partir com ela dominada. Com Hernanes em campo, fazer a bola chegar até ele talvez seja mais viável -- e menos perigoso para não forçar o craque do time.

Contra uma Colômbia com toque de bola rápido e com pontas insinuantes, Felipão terá que trancar seus laterais na defesa se quiser êxito. E, assim, liberaria seu segundo volante para atacar. Não importa se o primeiro homem seria David Luiz improvisado ou um Fernandinho recuado. Hernanes é, como dizem os ingleses, um jogador 'box-to-box'. Apesar de não ter a velocidade como forte, é bom marcador e faz o time funcionar no ataque. Em campo nas quartas de final, pode ser o motor que o Brasil precisa para melhorar seu jogo na região central.

(Foto: Buda Mendes/Getty Images)

- David Luiz e Dante

Com a suspensão de Luiz Gustavo - que vinha sendo um dos grandes nomes do Brasil nesta Copa do Mundo, o principal nome para assumir sua vaga passa a ser o de David Luiz. O atleta, que vem sendo titular no time de Felipão, joga na posição de meia defensivo no Chelsea, clube onde atua. Para seu lugar deverá entrar Dante, zagueiro do Bayern de Munique e primeiro substituto não só de David Luiz, como também de Thiago Silva.

A possível substituição faz sentido, em vista que Felipão sempre elogiou a grande versatibilidade de seu elenco durante duas convocações. David Luiz é destaque no Chelsea, onde sob comando de José Mourinho, atua como volante, tendo Terry e Cahill como seus companheiros na zaga. Já Dante, reserva imediato de qualquer um dos defensores e titular absoluto no Bayern de Munique, assumiria o posto na defesa, ao lado de Thiago Silva. Substituição padrão, provando a alta qualidade do elenco brasileiro.

(Foto: LLuis Gene/AFP/Getty Images)

- Henrique

Convocado em cima da hora para a Copa do Mundo, o zagueiro Henrique pode ser uma boa opção para substituir Luiz Gustavo no confronto diante da Colômbia. O homem de confiança do técnico da seleção já atuou assim com o próprio Felipão em 2012, quando o Palmeiras foi campeão da Copa do Brasil. Com vários desfalques, o jogador foi improvisado como primeiro volante e dando cobertura à defesa. Às vezes saindo para o jogo e sem a bola, atuando como terceiro zagueiro, lembrando o volante Edmilson, que fez a mesma função em 2002. E como a Colômbia é um time de jogo rápido, um zagueiro a mais pode ajudar na marcação, principalmente do seu camisa 10, o artilheiro da Copa, James Rodrigues.

Perguntado sobre a inesperada convocação de Henrique, o técnico Luiz Felipe Scolari afirmou que o motivo de sua presença entre os 23 escolhidos foi devido a sua versatilidade no elenco, podendo atuar em diferentes posições ao longo do campeonato. Pode ter chegado a vez do defensor mostrar a que veio na Copa do Mundo.

(Foto: Buda Mendes/Getty Images)
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