O Santos, após vencer no tempo normal por 2 a 1, bateu nesse último domingo (03) o Palmeiras nos pênaltis e ficou com o título do Campeonato Paulista 2015. Pela 4ª vez em sete anos, a equipe da Vila Belmiro ergue a taça do estadual, mas, dessa vez, sem ter um time espetacular, vencido na raça e na mescla de juventude com experiência, superando a desconfiança de tudo e todos.

Depois de sair atrás do placar no primeiro jogo, o Santos surpreendeu o Palmeiras no domingo, venceu dentro de campo por 2 a 1 e bateu o rival alviverde nos pênaltis por 4 a 2, ficando assim com a taça do Campeonato Paulista 2015. Das sete finais que disputou seguidamente nos últimos anos, foi a 4ª vez que o time da Vila Belmiro fica com o caneco. Diferente dos outros anos, quando tinha um time encantador, o Santos superou todas as dificuldades extra campo e venceu o estadual na raça, guiado pela juventude de Lucas Lima e Geuvânio, mas com a sabedoria e experiência decisiva de Robinho e Ricardo Oliveira.

O Começo

De longe o Santos, antes da bola rolar, era um dos clubes a se apontar como candidato ao título do Campeonato Paulista. Com problemas de salários atrasados, que o fez perder jogadores como Arouca, Aranha e Mena, o Santos iniciou 2015 vivendo uma grande crise. Sem dinheiro para grandes contratações, o Santos resolveu apostar nas categorias de base. Promoveu alguns jogadores, manteve os que já estavam no profissional desde o ano passado e trouxe jogadores já conhecidos pela torcida, experientes, com contrato de riscos, casos de Elano e Ricardo Oliveira.

Além desse, o Santos apostou também em jogadores “renegados” em outros clubes e reforçou seu plantel com Werley, Marquinhos Gabriel, Valencia e Chiquinho. A grande contratação do clube no ano foi um goleiro, mas não qualquer goleiro. Destaque no Coritiba, Vanderlei trocou o Paraná pela Baixada Santista e foi o grande nome na janela de verão de contratações em Santos. Comparado ao elenco que um dia conquistou quase tudo o que disputou, sob a regência de Neymar e Ganso, o Santos foi apontado por muitos como apenas um coadjuvante nesse ano, e, dificilmente, chegaria na final novamente, como fez nos anos anteriores. Mas, mais uma vez, a equipe da Vila Belmiro mostrou sua força e calou a tudo e a todos.

A Campanha

O Santos estreou no Campeonato Paulista contra o Ituano, algoz da final no ano anterior, aonde, justamente nos pênaltis, como derrotou o Palmeiras, viu a equipe do interior calar o Pacaembu e ficar com o estadual de 2014. Diferente daquela decisão, o Santos não deu chance para o azar e goleou o Ituano por 3 a 0. Com dois gols de Geuvânio e um de Chiquinho, o Santos iniciou sua campanha em 2015 com vitória. Naquele momento também a equipe da Vila Belmiro iniciava uma série de invencibilidade que duraria 11 partidas, quando, na 12ª rodada, acabou perdendo para a Ponte Preta por 3 a 1. Nesse meio tempo, apesar dos bons resultados, o Santos demitiu o então treinador Enderson Moreira. Ao que dizem, o forte temperamento do técnico com os jogadores, principalmente os mais jovens, fez com que a direturia o demitisse, colocando em seu lugar o interino, que foi efetivado três jogos depois, Marcelo Fernandes, auxliado pelo ex-jogador Serginho Chulapa.

Dos 17 jogos que fez até a grande decisão contra o Palmeiras o Santos venceu 12, empatou 4 e perdeu apenas 1, justamente o resultado negativo diante da Macaca em Campinas. Na fase de grupos o Santos disparou e se isolou na liderança do Grupo 4, terminando com 34 pontos, 16 a mais que o segundo colocado XV de Piracicaba, sendo ainda a segunda melhor campanha do torneio, perdendo apenas para o Corinthians.

Nas quartas de finais o Santos enfrentou justamente o segundo colocado de sua chave, o XV. Em jogo único na Vila Belmiro, o Peixe não tomou conhecimento e derrotou o time do interior por 3 a 0, gols de Ricardo Oliveira, Robinho e Lucas Lima. Nas semifinal um velho conhecido, e uma história que tornou a se repetir.

Geuvânio anotou um golaço contra o São Paulo
(Foto: FolhaPress)

Também em jogo único na Vila Belmiro, o Santos recebeu o São Paulo pela semifinal, e assim como em 2010, 2011 e 2012, o Peixe derrotou o Tricolor novamente, dessa vez por 2 a 1 com gols de Ricardo Oliveira e Geuvânio, chegando assim a sua sétima final consecutiva, aonde enfrentaria o Palmeiras, que eliminou nos pênaltis o favorito Corinthians e voltaria a decidir contra o Santos um Campeonato Paulista depois de 55 anos.

A final, não é mistério para ninguém. Depois de perder no Allianz Parque por 1 a 0, o Santos provou mais uma vez o coro da torcida em ser o time da virada e bateu o Verdão na sua casa por 2 a 1, resultado que levou para os pênaltis, onde saiu vitorioso mais uma vez, vencendo por 4 a 2 e levantando o seu 21° título de São Paulo.

O capitão e diferencial Robinho

De fora do primeiro jogo por conta de lesão, Robinho era a esperança e grande trunfo do Santos para o jogo de volta na Vila Belmiro. Dias antes do duelo contra o Palmeiras, o camisa 7 se envolveu em uma polemica ao ser flagrado, em um vídeo, cantando um rap aonde dizia que, na Vila Belmiro, o Santos derrotaria o Palmeiras. Provocativo ou não, Robinho provou o que disse e foi o grande responsável pela virada do Santos. Com seus passes e dribles, o camisa 7 incomodou a defesa alviverde e participou efetivamente dos dois gols santistas, dando o passe para David Braz abrir o placar e iniciando a jogada que acabaria em gol de Ricardo Oliveira. Por não estar 100% fisicamente, o atacante foi substituído ainda no segundo tempo e não participou das cobranças de pênaltis, aonde assistiu, aflito, do banco de reservas, os seus companheiros derrotarem o Palmeiras e dando ao seu capitão o primeiro título do atleta conquistado dentro da Vila Belmiro.

O herói Vladimir

Quem diria que o goleiro, muitas vezes contestado pela torcida, ajudaria o Santos um dia a conquistar um título. Após a lesão de Vanderlei, Vladimir assumiu a titularidade no gol santista e, se não fosse suas defesas, o Santos, certamente, não teria ficado com o título. Com defesas importantes durante o jogo, como a cabeçada de Rafael Marques defendida em cima da linha e o chute colocado de Zé Roberto, que ele foi buscar no ângulo, Vladimir ajudou a evitar o pior e foi um dos grandes nomes dessa final contra o Palmeiras. Se não bastasse isso, o goleiro ainda defendeu um pênalti, fechando assim sua brilhante noite e sangrando-se campeão Paulista pela quarta vez na carreira, já que o atleta, de todo o plantel, é o único remanescente daquele time que foi tricampeão consecutivo em 2010, 2011 e 2012.

O maestro Lucas Lima

Mais uma vez o camisa 20, que só não veste a 10 porque a mesma é de Gabriel Barbosa, foi fundamental, não só no jogo, mas sim em todo o campeonato. Com arrancadas, dribles, e passes certeiros, Lucas Lima vem se destacando e mostrando que a aposta do Santos no atleta rejeitado pelo Internacional deu certo. Hoje ele já é sondado por vários clubes, mas sempre que pode reitera sua vontade de seguir jogando no Santos. O meia foi quem selou a conquista, batendo o último pênalti e decretando assim a conquista do Campeonato Paulista pelo Santos, mas, antes disso, quando a bola estava rolando, deu passe, deixou Ricardo Oliveira em condição de fazer gol por diversas vezes, e assustou e chutes a longa distancia. Sem duvidas, Lucas Lima foi o cara do Santos nesse campeonato, e faz valer o assédio de clubes de fora e dentro do Brasil.

O ressurgimento do ‘Caveirinha’

Muito antes de Gabigol surgir, quem era apontado como sucessor de Neymar no Santos era Geuvânio, apelidado pelos companheiros de clube como ‘Caveirinha’, devido ao frágil porte físico na época. Ele começou em alta, mas caiu de rendimento e amargou durante um bom tempo a reserva do Santos. Ainda com Enderson Moreira, Geuvânio voltou a ganhar chances e, aos poucos, voltou a fazer grande jogos e ser decisivo. Nesse Campeonato Paulista ele colocou Gabriel no banco e assumiu de vez a titularidade no time, aonde fez parte do trio ofensivo ao lado de Robinho e Ricardo Oliveira. Com velocidade, dribles e jogadas individuais, Geuvânio contribuiu e também foi um dos grandes nomes desse Santos. Na final, porém, o meia se envolveu em uma troca de empurrões com Dudu e foi expulso, deixando o campo mais cedo, retornando no final da partida aonde comemorou ao lado da torcida que tanto pegou no seu pé o seu primeiro título profissional pelo clube.

O ‘iluminado’ David Braz

Esse é mais um daqueles jogadores que foi perseguido pela torcida, mas, depois de ser emprestado a outros clubes, retornou ao Santos, ganhou a confiança de Oswaldo de Oliveira e desde Janeiro de 2014 vem sendo titular no time. David Braz é ‘iluminado’ por sempre estar no lugar certo e na hora certa, aonde, muitas das vezes, decidiu partidas assim, e contra o Palmeiras não foi diferente. Após a zaga do Palmeiras afastar a cobrança de falta, o zagueiro, que deveria voltar para o seu setor, como manda a cartilha, ficou e apareceu dentro da área como um centro avante para empurrar a bola para o fundo das redes e colocar o Santos de volta a decisão do Campeonato Paulista 2015. Não só com gols, mas também na defesa, o zagueiro santista cumpriu com seu papel e evitou o gol palmeirense com desarmes e travando as finalizações de Rafael Marques e Leandro Pereira. David Braz, mais um que foi rejeitado pela torcida e hoje foi abraçado como herói e um dos melhores defensores do torneio.

O pastor e artilheiro Ricardo Oliveira

Religioso que é, Ricardo Oliveira, que quando não veste a chuteira prega a palavra de seu Deus Brasil a fora, levou ao Santos sua experiência e calou aos críticos com seus gols e a artilharia do campeonato consolidada. Apontado como uma contratação de risco, por ser um atleta com mais de 30 anos e que estava atuando no futebol da Arábia, Oliveira foi colocado em cheque, inclusive pela torcida do Santos, se seria tido uma boa contratação ou não. O camisa 9 não se importou com isso e se propôs até a assinar um contrato de curto prazo, de 3 meses, com produtividade, comprometendo-se a provar que ainda era o Ricardo Oliveira que encantou a torcida do Santos e do São Paulo nos últimos anos. Dito e feito, e ele provou. Com belos gols, arrancadas e visão de jogo, Ricardo provou não só estar em forma como ainda é um centro avante de classe e ‘matador’, como referem-se aos jogadores com faro aguçado para fazer gols. Com 11 tentos, o “velho”, como foi apontado por muitos, fechou o campeonato anotando mais um lindo gol, o segundo do jogo contra o Palmeiras, e se firmou de vez como o artilheiro do campeonato, tendo renovado com o Santos, na semana da decisão, por mais duas temporadas.

A revelação Paulo Ricardo

Apesar de ter aparecido apenas na reta final do Campeonato Paulista, o zagueiro Paulo Ricardo se mostrou ser um defensor promissor para o futuro do Santos. Jovem, ele começou jogando o primeiro jogo contra o Palmeiras, no Allianz Parque e, mesmo se tratando de uma final, demonstrou segurança e maturidade, exceto na hora em que cometeu um pênalti infantil em Leandro Pereira, que acabou gerando na expulsão do garoto, que ainda assim reconheceu seu erro e admitiu a falta, dizendo que era a única alternativa para tentar para o atacante. Paulo Ricardo, ao lado de Gustavo Henrique, pode formar uma grande dupla de zaga no futuro do Santos Futebol Clube.