Prata da casa do Atlético MG, campeão da Libertadores em 2013, convocado para a Copa do Mundo no Brasil e recebendo elogios do chefe, então lembrado como o último treinador campeão mundial com a amarelinha, Felipão afirmou que o jogador tem “alegria nas pernas”. A trajetória meteórica de Bernard, com apenas 22 anos, ficaria marcada por sua transferência ao Shaktar Donetsk da Ucrânia e pela fatídica eliminação da Seleção após o famigerado 7 a 1.

Bernard era reserva no ataque da seleção brasileira, mas após a contusão de Neymar nas quartas de final contra a Colômbia, a bomba de substituir o principal jogador do time caiu no colo do jovem atacante. A partida contra a Alemanha seria uma prova de fogo para os comandados de Felipão, que chegaram às semifinais sem ter enfrentado nenhum campeão mundial e, para Bernard, seria a primeira partida como titular da Seleção, num palco conhecido pelo jogador, o Mineirão, em Belo Horizonte.

O desfecho da história brasileira na Copa do Mundo não é mistério para ninguém. Na sua volta ao Shaktar, Bernard ainda teria que  conviver com uma guerra que assolava a Ucrânia, o clube de Donetsk teve que mudar sua sede para Kiev, onde ficariam mais distantes do conflito. A guerra no país era preocupante, mas os problemas não se limitavam às ruas da região ucraniana da Crimeia. Dentro do clube, o clima entre os vários jogadores brasileiros chamava a atenção pela desunião.

Bernard também havia se desentendido com seu treinador Mircea Lucescu. Como resultado, o atacante brasileiro amargou a reserva do time, se viu sem espaço no clube, que ainda assim refutava cada oportunidade de saída do jogador que possuía contrato ainda vigente por três anos.

Apesar do momento mais conturbado de sua carreira, Bernard permaneceu na Ucrânia e parece estar recebendo nessa temporada a oportunidade de ouro para recomeçar após as traumáticas experiências. A relação com MIrcea Lucescu teve suas arestas aparadas e o camisa 10 do Shaktar tem sido titular e importante para o esquema do time. O técnico romeno chegou a afirmar que Bernard será a liderança técnica do time de Donetsk.

Com apenas 11 jogos já disputados na temporada 2015/16, o jogador tem mais tempo em campo do que em toda a temporada passada. São números animadores para quem precisa retomar seu espaço no mundo da bola. O time de Bernard lidera o campeonato ucraniano e tem difícil missão na Champions League. O Shaktar figura num grupo que tem, além do Mälmo, da Suécia, os poderosos Paris Saint-Germain e Real Madrid.

Recentemente, Benard cedeu entrevista ao portal Globoesporte.com e contou detalhes dos momentos conturbados vividos em sua carreira. O “guri com alegria nas pernas” tomava remédios para dormir e controlar a ansiedade antes e após os 7 a 1 e espera agora não ser mais lembrado apenas pelo rótulo dado por Felipão. 

 "É uma situação complicada, já que essa primeira passagem (pela Seleção) terminou de forma um pouco conturbada. Não só para mim, mas para todos na Copa. Ganhar o apelido (de alegria nas pernas) foi uma surpresa e foi bem recebido, principalmente vindo de quem veio, de um técnico pentacampeão. Eu gosto do apelido, mas meu momento agora é de ser lembrado como Bernard", sobre o apelido que carrega até hoje.

"Tomei (remédio para dormir) duas vezes: antes do jogo, porque fiquei sabendo na noite anterior que jogaria, e depois, porque foi uma noite complicada para todos. Ninguém conseguiu explicar o que aconteceu. O Felipão me falou na noite anterior (que substituiria Neymar). Foi a melhor forma para que o jogador que entrasse e pudesse se preparar sem perder a concentração. A (noite) seguinte foi mais difícil para dormir. Lembro chegando na Granja, para jantar, era um silêncio total, ninguém sabia explicar, cada um foi para um quarto. Para mim, foi horrível, não consegui dormir.", sobre a ansiedade antes e depois da goleada.

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Sobre o autor
Bernardo Estillac
Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais