Nesta quarta-feira (28), às 22h, horário de Brasília, a Chapecoense receberá o River Plate na Arena Condá. Histórica para o Verdão do oeste catarinense, a partida vale pela segunda mão das quartas de final da Copa Sul-Americana. Depois de despachar a compatriota Ponte Preta na fase nacional e o paraguaio Libertad, nos pênaltis, nas oitavas, o clube de Chapecó ficou frente a frente com o atual campeão da Sul-Americana, da Recopa e da Libertadores. Fortes postulantes a mais um título continental, os Millonarios venceram o jogo de ida, no Monumental de Núñez, por 3 a 1.

Portanto, à Chape só interessa uma vitória por 2 a 0 ou um triunfo por três gols de diferença. A missão é muito difícil. Contudo, independente do que venha a acontecer, os alviverdes já fizeram história, tendo em vista os recursos dos quais dispõem. Além do mais, ficar entre os oito melhores colocados em sua primeira competição internacional é um feito a ser exaltado e recordado pelas próximas gerações.

O futebol brasileiro já foi representado em competições internacionais por inúmeros clubes, dos mais tradicionais aos mais modestos. Exemplos como os da Chapecoense de Guto Ferreira não faltam. A falta de lógica do futebol possibilitou a presença de clubes sem o mesmo prestígio do famigerado "G-12"

1992 - Criciúma na Copa Libertadores da América

Divulgação/Criciúma

Campeão da Copa do Brasil de 1991 e então integrante da Série B, o Criciúma surpreendeu o planeta com a campanha digna na Libertadores de 1992. Antes comandado por Luiz Felipe Scolari, que deixou o clube após o triunfo na copa nacional, e Lori Sandri, que guiou o elenco rumo ao tricampeonato estadual no final do ano, o Tigre foi treinado por Levir Culpi no torneio continental.

Estreia mais emblemática não poderia haver: o tricolor aplicou 3 a 0 no São Paulo de Telê Santana, que viria a ser campeão da Copa Libertadores naquele ano e no ano seguinte. Jairo Lenzi, Gélson e Adílson Gomes anotaram os gols da memorável partida no Heriberto Hülse.

Nas duas rodadas seguintes, o Tigre viajou à Bolívia para medir forças com San José e Bolívar. E trouxe quatro pontos na bagagem, com uma vitória por 2 a 1 e um empate em 1 a 1, respectivamente. Cansado pelas longas viagens, o Criciúma entrou em campo para mais uma partida fora de casa. Dessa vez, contra o São Paulo, no Morumbi. Foi goleado por 4 a 0 e experimentou o prato frio da vingança.

Apesar da tabela cruel, os dois últimos compromissos seriam em casa. E o Criciúma fez valer o mando de campo, com triunfos de 5 a 0 sobre o San José e 2 a 1 frente ao Bolívar. Com nove pontos (quatro vitórias, um empate e uma derrota - vale lembrar que, àquela época, vitória valia dois pontos), os catarinenses encerraram a primeira fase na liderança, classificados juntamente com o tricolor paulista (oito pontos) e o Bolívar (seis pontos).

Nas oitavas de final, mais uma viagem internacional pela frente. O destino agora era o Peru, onde o oponente seria o Sporting Cristal. Os comandados de Culpi trouxeram de lá uma impressionante vitória por 3 a 2 e confirmaram o passaporte para as quartas com outro triunfo, por 2 a 1, em seus domínios.

Na fase de quartas de final, dois reencontros com o São Paulo: derrota por 1 a 0 na capital paulista e empate em 1 a 1 no interior catarinense. Mesmo com a eliminação, a torcida local reconheceu a garra do time que a representou e aplaudiu os jogadores de pé. O Criciúma estava entre os oito melhores escretes da América do Sul e saiu de cabeça erguida diante de uma grande potência do continente.

2000 - Juventude na Copa Libertadores da América

Campeão gaúcho de maneira invicta em 1998, campeão da Copa do Brasil diante de mais de 100 mil pessoas apoiando o Botafogo no Maracanã e presença frequente na Série A. O Juventude era uma das maiores sensações do futebol brasileiro no final do Século XXI. E o ápice veio com a participação na Libertadores de 2000. A equipe caiu no grupo do Palmeiras, atual campeão do torneio, e também fez companhia ao The Strongest, da Bolívia, e ao El Nacional, do Equador.

A estreia não poderia ser em ambiente melhor: no Alfredo Jaconi, diante de seus adeptos. E o resultado foi igualmente emblemático: 1 a 0 sobre o El Nacional. A consagração veio através da cabeça de Mabília, após uma antológica pressão.

Nas rodadas seguintes, os primeiros baques: 5 a 1 para o The Strongest, na altitude boliviana, e 3 a 0 para o Palmeiras, em São Paulo - em um "apagão" no início do segundo tempo, com gols de Rogério, Asprilla e Júnior.

O sonho da ida ao mata-mata se distanciou na "virada do turno", com um revés de 2 a 0 diante do El Nacional em território equatoriano. Eram necessárias duas vitórias e uma combinação de resultados nas últimas partidas para passar de fase. E o Papo bateu na trave. Goleou o The Strongest por 4 a 0 e empatou de forma heróica com o Palmeiras - perdia por 2 a 0 e chegou à igualdade. O time do técnico Flávio Campos terminou a participação com sete pontos, três atrás do próprio Palmeiras e do El Nacional. O Verdão de São Paulo mais tarde foi finalista, perdendo para o Boca Juniors nos pênaltis.

2001, 2002 e 2004 - São Caetano na Copa Libertadores da América

Talvez o crescimento mais meteórico de um clube no Brasil tenha sido o do São Caetano. Fundado em 1989, o Azulão rapidamente figurou entre os grandes times do futebol brasileiro. Foi vice-campeão da elite em 2000, contra o Vasco, e 2001, contra o Atlético-PR. As boas campanhas se estenderam para o exterior.

Na primeira participação, os caetanistas ficaram em segundo na sua chave, atrás apenas do mexicano Cruz Azul (que mais tarde seria o vice-campeão ao sucumbir diante do Boca Juniors) e à frente do uruguaio Defensor e do equatoriano Olmedo. Nas oitavas, bateu de frente com o Palmeiras e caiu nos pênaltis.

Em 2002, o clube contrariou a lógica ao superar Cobreloa, Cerro Porteño e Alianza Lima na fase de grupos e os tradicionais Universidad Católica, Peñarol e América-MÉX (superou os dois primeiros nos pênaltis e o último por 3 a 1 no placar agregado) no mata-mata. Esta última eliminatória foi conhecida por abrigar uma das maiores brigas da história da Libertadores. Tudo por conta da provocação dos brasileiros contra os mexicanos.

Na decisão, o Azulão provou do próprio veneno: perdeu o título para o Olimpia, do Paraguai, nos pênaltis. Venceu por 1 a 0 no Paraguai e foi derrotado por 2 a 1 no Pacaembu. Na disputa, o Decano triunfou: 4 a 2.

Em 2004, por ter sido quarto colocado no Brasileirão de 2003, o São Caetano retornou à copa. Ficou em segundo num grupo com América (que foi o líder), Peñarol e The Strongest, voltou a eliminar os mexicanos no mata-mata (3 a 2 no agregado) e sucumbiu diante do Boca Juniors (1 a 1 no agregado, 4 a 3 nos pênaltis). Terminavam ali as participações continentais do que pode ser considerado o maior time que o ABC Paulista já viu.

Jair Picerni, Tite e Muricy Ramalho foram os técnicos que passaram pelo Azulão durante os anos dourados do time de São Caetano do Sul. Muricy guiou o escrete no maior título de sua história: o Paulistão de 2004, conquistado diante do Paulista de Jundiaí. Nas quatro linhas, ídolos como o goleiro Silvio Luiz, o zagueiro Serginho (falecido em decorrência de uma parada cardíaca em 2004), o volante Marcos Senna e o atacante Adhemar se consagraram no São Caetano.

2003 - Paysandu na Copa Libertadores da América

Daniel Garcia (AFP/Getty Images)

O aproveitamento do Paysandu na primeira fase da Libertadores de 2003 impressionou: o Papão da Curuzu somou quatro vitórias, dois empates e uma derrota, totalizando catorze pontos. Integrantes do torneio graças ao título da extinta Copa dos Campeões em 2002, conquistado diante do Cruzeiro, uma das potências nacionais, os paraenses estrearam com uma importante vitória de 2 a 0 sobre o Sporting Cristal no Peru.

O primeiro jogo em casa foi morno: 0 a 0 com o Cerro Porteño. Mas o time comandado por Dario Pereyra desencantou nos próximos compromissos ao vencer a Universidad Católica por 3 a 1 e o Sporting Cristal, agora por 2 a 1.

A campanha na fase de grupos se encerrou com uma impressionante goleada de 6 a 2 sobre o Cerro em plena Assunção e com um burocrático empate em 1 a 1 com a Católica em Santiago.

O adversário nas oitavas seria ninguém mais e ninguém menos do que o gigante Boca Juniors, com o jogo de ida na Bombonera e a partida de volta no Mangueirão. Até aquele instante, os únicos brasileiros que bateram o Boca em Buenos Aires eram o Santos de Pelé, em 1963, e o Cruzeiro de Ronaldo e Dida, em 1994.

Mas, naquele 23 de abril, o clube da Amazônia mostrou que o impossível não existe. Não se intimidou com a pressão de mais de 45 mil torcedores na Argentina e venceu por 1 a 0, com gol de Iarley. Resistiu ao bombardeio do Boca, que terminou o jogo com um a mais - teve uima expulsão contra duas do Papão. Resultado digno de filme ("La Bombonera é nossa", lançado em 2012) e de muita comemoração nas ruas de Belém.

No jogo da volta, mesmo com a festa da torcida bicolor, os xeneizes protagonizaram uma reviravolta impressionante. Venceram por 4 a 2 e conquistaram a classificação. Mais tarde, levantariam a taça após vitórias incontestáveis (2 a 0 e 3 a 1) sobre o Santos nas decisões. O "copeirismo" do Boca vitimou o Paysandu, mas nada que ofuscasse o brilhantismo do triunfo na Bombonera. O único escrete da região Norte a participar da Libertadores terminou o torneio com 75% de aproveitamento, um dos melhores da história da competição.

2005 - Santo André na Copa Libertadores da América

Outro tradicional clube do ABC paulista, o Santo André calou um Maracanã flamenguista e se sagrou campeão da Copa do Brasil em 2004. A conquista rendeu ao Ramalhão o direito de participar da Libertadores de 2005. A estreia veio com derrota: 1 a 0 para o Deportivo Táchira na Venezuela.

Na jornada em sequência, novo tropeço: 2 a 2 com o Cerro Porteño no Estádio Bruno José Daniel. Depois, a equipe comandada por Sérgio Soares visitou o Palmeiras e arrancou um honroso empate em 1 a 1. Na rodada seguinte veio, enfim, a primeira vitória: 2 a 1 sobre o mesmo Palmeiras, em casa.

No Paraguai, o revés para o Cerro pelo placar mínimo dificultou as pretensões do Santo André, que precisava vencer o Táchira e torcer para o Palmeiras ser derrotado pelo clube paraguaio. Mesmo goleando por 6 a 0, com tentos de Rodrigão (2), Sandro Gaúcho, Romerito, Leandrinho e Richarlyson, o Ramalhão viu sua aventura na América ter um ponto final com o empate sem gols entre o Verdão e o Cerro no antigo Palestra Itália. Encerrou a competição com oito pontos, um a menos do que os palmeirenses.

2006 - Paulista na Copa Libertadores da América

Talvez a vitória do Paulista sobre o River Plate na Libertadores de 2006, por 2 a 1, seja o jogo de maior incentivo para a Chapecoense nesta noite. Placar emblemático a ponto de ter sido o único triunfo do clube de Jundiaí naquele torneio. A campanha do campeão da Copa do Brasil de 2005 se resumiu a uma vitória, três empates e duas derrotas.

Na estreia, o grupo treinado por Vágner Mancini arrancou um empate em 1 a 1 com o El Nacional no Equador. No primeiro compromisso em casa, um insosso empate sem gols com o Libertad. Eis que, na terceira rodada, veio o primeiro revés: 4 a 1 para o River no Monumental de Núñez.

Depois da goleada, a epopeia: um golaço de Amaral, de fora da área, colocou o Galo em vantagem no Jaime Cintra. Jaílson ampliou a vantagem dos donos da casa e Patiño fez o gol de honra dos argentinos, à época comandados por Daniel Passarella.

O sonho da classificação terminou com uma derrota de 1 a 0 para o Libertad no Paraguai e outro empate sem gols em casa, dessa vez com o El Nacional. Mas a vitória sobre os Millonarios valeu pela copa inteira.

2009 - Sport Recife na Copa Libertadores da América

De volta à Copa Libertadores depois de 21 anos de ausência, o Sport era a sensação do Brasil graças ao título da copa nacional em 2008 e à força de sua torcida na Ilha do Retiro. A união do time de Nelsinho Baptista e a pressão de seu território foram os principais aliados do Leão na histórica campanha da Libertadores de 2009.

As históricas vitórias sobre o Colo-Colo (campeão de 1991) por 2 a 1, em Santiago, e a LDU (atual campeã à época) por 3 a 2, em Quito, foram os ápices da campanha rubro-negra. No Recife, novas vitórias: 2 a 1 frente aos chilenos e 2 a 0 contra os equatorianos. Contra o Palmeiras, uma derrota (2 a 0 na Ilha) e um empate (1 a 1 no Palestra). No final das contas, 13 pontos e a liderança do chamado "Grupo da Morte" do torneio. E um feito grandioso: até hoje, o Sport é o único time brasileiro que derrotou a LDU no Equador.

A combinação possibilitou reencontros entre o Leão e o Verdão nas oitavas. Uma vitória de 1 a 0 para cada lado levou a eliminatória para os pênaltis, e o time paulista venceu a disputa por 3 a 1, com o herói de costume: o goleiro Marcos.

2010 - Goiás na Copa Sul-Americana

Divulgação/FGF

O Goiás não conquistou a América do Sul por um triz. Comandado por Arthur Neto e tendo como destaques o goleiro Harlei, o zagueiro Rafael Tolói e os atacantes Rafael Moura e Otacílio Neto, o Esmeraldino do Planalto Central despachou três grandes clubes do continente (Grêmio, Peñarol e Palmeiras) e uma sensação do futebol brasileiro (o Avaí) até medir forças com o Independiente, maior campeão da história da Libertadores, na decisão.

Nos primeiros 90 minutos, em um Serra Dourada tomado por mais de 30 mil esmeraldinos, Rafael Moura e Otacílio Neto construíram uma gigante vantagem para os goianos. Entretanto, no Estádio Libertadores de América, em Avellaneda, o Diablo Rojo saiu na frente com Velázquez, sofreu o empate com Rafael Moura e igualou a contagem no placar agregado com dois gols de Parra.

Após uma prorrogação tensa e sem gols, o campeão foi decidido nos pênaltis. Melhor para os argentinos, que converteram as cinco cobranças e viram o atacante Felipe jogar o título do Goiás na trave. Além da perda do título, o Goiás também teve que se conformar com o rebaixamento no Brasileirão.

2013 - Ponte Preta na Copa Sul-Americana

Victor Hafner/Ponte Preta

A primeira participação internacional da Ponte Preta foi antológica. Em situação delicada no Brasileirão, o time de Campinas jogou as fichas na Sul-Americana. Treinada por Jorginho, campeão mundial com a Seleção Brasileira em 1994, a Macaca eliminou o Criciúma na fase nacional e o modesto Deportivo Pasto, da Colômbia, até medir forças com duas potências do continente: Vélez Sarsfield e São Paulo.

O empate sem gols com o Vélez no Moisés Lucarelli já era considerado um bom resultado. Mas o melhor veio depois: uma vitória por 2 a 0 em pleno José Amalfitani, em Buenos Aires, com tentos de Elias e Fernando Bob.

Nem mesmo o São Paulo, campeão da edição anterior e favorito ao bicampeonato, foi páreo para a Ponte. O Tricolor saiu na frente com Paulo Henrique Ganso, mas viu a Macaca passar na frente com Antônio Carlos, Leonardo e Uendel. No jogo da volta, um empate em 1 a 1 (Leonardo marcou para a Ponte, e Luís Fabiano anotou para o SPFC) bastou para ir à final.

O título se mostrou distante com o empate em 1 a 1 frente ao Lanús no Pacaembu - Goltz colocou os visitantes em vantagem e Fellipe Bastos deixou tudo igual. E as chances caíram por terra no Ciudad de Lanús, em Buenos Aires. Os grenás triunfaram por 2 a 0, com gols de Ayala e Blanco, e levantaram a taça. Assim como o Goiás, a Ponte Preta foi vice-campeã da Sul-Americana e rebaixada na Série A no mesmo ano.

Menções honrosas

Os também modestos CSA, São Raimundo-AM e Sampaio Corrêa não enfrentaram grandes potências da América em suas participações internacionais, mas merecem ser mencionados por terem chegado longe. Único clube do Nordeste a participar de uma final continental, o CSA deixou o título escapar diante do Talleres, da Argentina, em 1999. Venceu por 4 a 2 na ida, em Maceió, mas foi derrotado por 3 a 0 na volta, em Córdoba.

Na mesma edição, o Tufão de Manaus, eliminado pelo próprio CSA, foi o terceiro colocado. Desempenho semelhante ao do Sampaio Corrêa, despachado pelo campeão Santos em 1998.

Vice-campeão brasileiro em 1985 e presente na Libertadores de 1986, o Bangu também merece destaque. Somou apenas dois pontos e foi lanterna de um grupo com Barcelona-EQU, Coritiba e Deportivo Quito, mas ficou na história de qualquer forma.

O mesmo vale para o Náutico, vice-campeão brasileiro em 1967 e eliminado na fase de grupos da Libertadores de 1968 por fazer uma substituição a mais contra o Deportivo Português, da Venezuela. Os outros adversários na competição foram o também venezuelano Deportivo Galícia e o então campeão brasileiro Palmeiras, que foi vice-campeão continental diante do Estudiantes naquele ano.