Palmeiras e Santos fazem a terceira final estadual da história da Copa do Brasil. Na ida, vitória santista por 1 a 0 na Vila Belmiro, embora os donos da casa tenham mostrado repertório para um placar mais elástico - evitado por Nilson e Fernando Prass, especialmente. 

De um lado, um time que venceu apenas dois dos últimos 10 jogos disputados em todas as competições, um deles pela Copa do Brasil, em partida que sacramentou sua classificação para a final desta competição. De outro, um conjunto que vive um semestre de afirmação e que não perde atuando no Estado de São Paulo desde o dia 20 de setembro. 

De fato, os dois finalistas desta quarta-feira (2) vivem momentos distintos em 2015. Mas nada disso é por acaso. Com massacrante parte do elenco montado neste ano, o Palmeiras ainda passa por uma metamorfose ambulante e não encontrou a melhor maneira de jogar com Marcelo Oliveira, treinador bastante contestado pela torcida palmeirense. Bicampeão brasileiro com o Cruzeiro (2013 e 2014), o comandante alviverde não conseguiu convencer sua torcida de que será capaz de fazer da Sociedade Esportiva Palmeiras um clube com bom desfecho de ano. Ao menos não dentro de campo. 

O futebol palestrino sofre de carências básicas, a começar pelo sistema defensivo. O time do Allianz Parque sofreu gols em todos os seus últimos 17 jogos no ano, e o motivo não é uma simples coincidência, muito menos uma "pane geral", como disse Felipão após levar cinco gols da Alemanha em um curto intervalo de tempo.

O fato é que o time palmeirense não consegue trabalhar a cobertura em setores, e acaba cedendo espaços para os adversários atacarem. Na final desta quarta-feira, o lateral-esquerdo titular deve ser Zé Roberto, um jogador presente em algumas destas falhas. Com o time subindo ao ataque, ele deixa o lado desprotegido, e um volante acaba por fazer sua cobertura, cedendo espaços para que o armador adversário trabalhe pela meia-cancha e, consequentemente, encontre espaços para arrematar ou deixar o atacante em boas condições de encontrar o gol.

Zé Roberto sobe e obriga o volante a dar espaços no meio-de-campo, a fim de cobrir o setor ocupado por Zé Roberto (Imagem: Léo Miranda/Blog Painel Tático)

Embora tenha encontrado em Fernando Prass uma salvação enobrecedora, o Palmeiras demonstrou, no jogo de ida, na Vila Belmiro, uma série de erros que podem ser fatais contra um time altamente ofensivo como o Santos. A fraca saída ao ataque preocupa o técnico Marcelo Oliveira, que não consegue fazer com que sua equipe faça a transição ofensiva de maneira coordenada.

Além de possuir uma saída de bola lenta e ineficiente, o time alviverde carece de apoio dos laterais enquanto sobe ao ataque. Além disso, o número excessivo de chutões e passes errados irrita o torcedor, haja vista a ineficiência destes recursos.

Ou seja, se quiser equilibrar o jogo e encontrar gols, a chave para isso é trabalhar mais a bola no meio-de-campo, encaixando passes e saindo para o ataque de maneira coordenada e controlada, com os laterais dando apoio aos atacantes que atuarão pelo lado do campo. Falando em laterais, o Palmeiras deve se preocupar, já que o titular pela direita, Lucas, está suspenso, e deve dar lugar para João Pedro, de aspectos mais defensivos. 

4-2-3-1 palmeirense, tendo Robinho (dir.), Dudu (centro) e Kelvin (esq.) bem distantes um do outro. Laterais não avançam e deixam os pontas sozinhos na ação ofensiva. Arouca muito distante dos jogadores de frente e não há opções de passe. Kelvin só tem a opção de acionar Barrios na área através de um cruzamento falho

No entanto, existe uma virtude muito forte que conspira a favor de Marcelo Oliveira. O poder ofensivo palmeirense agrada bastante, especialmente quando a bola chega em boas condições de ataque com os homens de velocidade da equipe. Gabriel Jesus, prodígio do time e que pode começar a partida derradeira da Copa do Brasil como titular - se não se recuperar a tempo, dará lugar a Rafael Marques -, dá um toque de aceleração e muita praticidade ao time da capital paulista.

Geralmente postado à esquerda, mas circulando e invertendo lado, o camisa 33 faz boa parceria com Dudu, dando um toque mais rápido às subidas ofensivas, enquanto Robinho, pela direita, faz a organização do jogo de maneira mais cadenciada, buscando o centro do jogo. Essa é a receita do bolo! Controlar o jogo com passes no meio de campo e, no momento certo, usar a velocidade de Gabriel Jesus e Dudu para buscar chances de gol, especialmente com toda a qualidade de Lucas Barrios no comando de ataque.

Para ajudar Robinho na função de controlar e organizar as jogadas no centro do campo, Arouca aparece, aliando a qualidade no passe à boa marcação - ainda que seja inegável a falta do volante Gabriel neste setor do time. 

Ir a campo adversário com a vantagem de um gol é uma enorme vantagem, especialmente tratando-se do Santos de Dorival Júnior, feroz e aproveitador de contra-ataques. Se o alvinegro praiano deve ficar ligado com o controle de jogo palmeirense no meio de campo - inexistente no jogo de ida - e as subidas rápidas dos jogadores de velocidade do plantel palmeirense, os donos da casa no último jogo desta competição devem tomar ainda mais cuidado com o time santista.

Tendo o padrão de jogo desde os seus zagueiros, os comandados do litoral paulista devem jogar pressionando a defesa adversária, e tendo os três jogadores à frente dos volantes como ponto fundamental nesse estilo de jogar.

Autor de 37 gols em 2015, Ricardo Oliveira não conseguiu tal feito sozinho. Embora altamente oportunista e com forte faro de gol, o centroavante santista contou com um belo trabalho do trio que trabalha em sua assistência. Marquinhos Gabriel, Lucas Lima e Gabriel se destacam com as saídas muito rápidas ao ataque, principalmente quando o time do Santos sobe em contragolpe, tendo Lucas Lima como o "enganche" e ligando um dos lados de campo para envolver o adversário.

Além disso, Dorival Júnior trabalha uma virtude que os adversários não possuem. Seu time consegue trabalhar a subida ao ataque com os laterais em ultrapassagem, tendo vantagem numérica e campo amplo, uma vez que os lados direito e esquerdo trabalham no apoio ofensivo e na recomposição defensiva. Essa foi uma das grandes virtudes alvinegras no jogo de ida, e que deve ser utilizada na partida de volta.

4-2-3-1 santista é bem diferente do palmeirense. Ataque coordenado com laterais subindo junto aos pontas, facilitando trocas rápidas e jogadas de velocidade. Contra-ataque veloz tendo Lucas Lima como condutor e passador. Laterais abrem o campo e dão amplitude. Alvinegro praiano também ataca com os volantes - que não aparecem na imagem - e tem superioridade numérica quando chega à frente

Com todas as limitações existentes, a ideia é de um jogo bastante disputado e, especialmente, complicado para o Palmeiras. Se quiser se livrar do dissabor de sempre obter vice-campeonatos na Copa do Brasil - até aqui, já foram três e nenhum título, Marcelo Oliveira terá de superar conceitos de jogo impostos pelo rival desta noite, cujo treinador já venceu uma competição dessa com esse mesmo time. De fato, muita coisa mudou de lá pra cá, e Dorival Júnior está aí para provar que, ainda que de maneira vagarosa, o futebol brasileiro pode apresentar resquícios de modernidade e evolução.