As cenas vistas após o fim do último Clássico das Multidões de 2016 – o qual o CRB conquistou o bicampeonato alagoano sobre o arquirrival CSA – nunca tinham sido presenciadas em Alagoas. O Estádio Rei Pelé, principal palco esportivo do estado, localizado em Maceió, foi cenário de uma briga com fortes imagens, um problema ainda mais escancarado e a sensação de insegurança voltou a reinar.

Tudo começou quando o árbitro Dewson Fernando Freitas (Fifa/PA) apitou pela última vez a vitória regatiana por 1 a 0. Em vez da comemoração alvirrubra, pancadaria. Torcedores do CRB invadiram o gramado do Estádio Rei Pelé e começou um pequeno tumulto. Torcedores do CSA também invadiram as quatro linhas e a briga começou. Nas arquibancadas, confusão entre a Polícia Militar (PM) e azulinos. Gás de pimenta, balas de borracha. Fora de campo, muitas ocorrências registradas.

Médico do CRB, Orlando Baía, presta primeiras assistências a torcedor gravemente agredido no gramado do Estádio Rei Pelé (Foto: Thiago Davino/Minuto Esportes)

Diante de todo esse cenário, o saldo de horror e pânico tomou conta e se tornou o principal assunto das conversas desta segunda-feira. A assessoria de comunicação do Hospital Geral do Estado (HGE) informou que seis torcedores deram entrada na unidade por causa da guerra campal. Apenas um adolescente de 17 anos segue internado em estado estável e consciente. Na manhã desta segunda-feira (09), autoridades direta e indiretamente envolvidas no caso se pronunciaram. Coincidentemente, todos estavam reunidos em um evento de formação de oficiais da Polícia Militar.

O comandante de Policiamento da Capital (CPC), coronel Wilson, afirmou que alguns torcedores foram identificados e que pertencem a torcidas organizadas. O coronel também falou que eles podem ser presos a qualquer momento para dar uma resposta à sociedade, além de defender as ações militares durante todo o conflito.

“Algumas das pessoas que localizamos pertencem a torcidas organizadas. Recebemos informações pelo Disque-Denúncia, e também trabalhamos com as imagens da transmissão da partida e das redes sociais. Tínhamos um efetivo de 300 homens dentro de campo para fazer a segurança dos jogadores e dos árbitros. Isso foi perfeito. Quando começou a confusão, é possível ver que o tempo de resposta entre as primeiras agressões e a chegada do primeiro policial foi de 33 segundos, o que podemos classificar como uma resposta rápida. Devido às circunstâncias, a atuação dos policiais foi satisfatória”, afirmou.

O presidente do Conselho Estadual de Segurança (Conseg), Antônio Carlos Gouveia, declarou que vai apurar a atuação da Polícia Militar e que o responsável pelo policiamento será convocado para prestar esclarecimentos sobre todos os incidentes. Se a coleta de informações for satisfatória, uma reunião extraordinária do conselho pode ser convocada.

“O governador solicitou ao Conseg que apurasse e desse uma resposta rápida para essa situação. Convocamos o comandante da guarnição para esclarecer se houve negligência, qual a justificativa para o ocorrido e qual foi o plano de ação elaborado para a partida, necessário em um caso como esse. Eu irei ouvi-lo, e, se necessário, ouvirei outras pessoas. Temos reunião do conselho em três segundas-feiras seguidas do mês. A próxima está marcada para o dia 16, às 17 horas. Se, antes disso, eu conseguir aprofundar as informações necessárias, podemos marcar uma reunião extraordinária para analisar os fatos”, disse.

O governador de Alagoas, Renan Filho, lamentou o episódio de selvageria no Estádio Rei Pelé e nos arredores, elogiou a atuação da polícia para tentar reduzir os problemas em campo, mas destacou que todos têm responsabilidade por ter ocorrido algo fora do comum e que manchou a conquista do bicampeonato alagoano pelo CRB. Segundo suas palavras, a tendência é que as torcidas organizadas sejam banidas e que os próximos clássicos disputados entre CSA x CRB, a serem realizados no Campeonato Alagoano 2017, sejam com torcida única.

“Muitos bandidos, criminosos e traficantes se infiltram nas torcidas organizadas, travestidos de torcedores. Mas, na verdade, essas pessoas vão verdadeiramente aos estádios para criar problemas. A Polícia Militar esteve na sede da principal torcida do CSA e na principal torcida do CRB no ano passado. O que precisamos fazer é assumir a responsabilidade. O Estado, o Ministério Público, o Judiciário, a imprensa, os clubes de futebol e os próprios torcedores têm responsabilidade. Se cada um fizer a sua parte, não veremos se repetir episódios lamentáveis como os que aconteceram neste fim de semana. O ideal era o estádio ser dividido metade para uma torcida e metade para outra, mas infelizmente não é possível. Esse atual modelo, onde há 15 mil torcedores de um clube e 3 mil de outro propicia uma batalha campal. Por isso, é preciso tomar medidas urgentes”, explanou Renan Filho.