Ele é formado em Educação Física e Fisioterapia. Pós-graduado em Treinamento Esportivo e Fisiologia do Exercício. Está em fase de conclusão do mestrado na área de Psicologia do Esporte. A recente e inédita convocação para a seleção brasileira sub-20 é a grande oportunidade da sua vida. Aliás, não é, está sendo. Está sendo a principal chance da carreira de um profissional que, aos 33 anos, coleciona experiências múltiplas e vive um momento que, certamente, o impulsionará a figurar outros tantos cenários. E é por isso que está sendo. Conheça Leonardo Henrique Silva Fagundes, o promissor preparador físico do América-MG, convocado para a seleção brasileira sub-20.

Desde os tempos de colégio, quando o nosso personagem ainda era somente o Léo, o futebol já lhe dava vestígios de que sua carreira não se desvincularia dele. De um jeito ou de outro. Até os 20 anos, Leonardo jogou futsal e futebol de campo, integrando as seleções dos colégios pelos quais passou e tentando nutrir o sonho de ser um atleta profissional. Mas vendo que não seria possível, decidiu optar por um outro caminho, o curso de graduação em Educação Física. Essa era a chance de manter viva sua relação com o esporte, bem mais intimamente com o futebol, aquele mesmo que nunca o deixaria.

Foto: Carlos Cruz/América-MG

Durante a sua primeira graduação, estagiou na Escola Municipal Professor Paulo Freire, em Belo Horizonte, desenvolvendo atividades com adolescentes de 14 a 16 anos e também na Academia Aquário. Nessa fase, passou a integrar a Academia Companhia Athletica, na condição de professor de musculação e personal trainer, por onde permaneceu até o ano de 2010, data fundamental na carreira de Leonardo, cuja compreensão logo mais será alimentada. "Tudo isso fez parte da construção da minha carreira, até chegar na realização deste sonho", sinalizou Leonardo, em entrevista à VAVEL Brasil.

Nessas experiências, principalmente na Companhia Athletica, Leonardo atingiu bons patamares, mas chegou em uma fase onde a percepção de evolução não mais existia, sobretudo porque aquilo ainda não era o que ele certamente queria. Diante desse cenário de distanciamento do que ele havia se proposto, que era trabalhar com futebol, pensou em se graduar em Fisioterapia, buscando uma maneira de voltar o foco para o futebol e canalizar seus esforços para aquilo que sempre o agradou mais. "Fisioterapia foi uma ideia que eu tinha de ser um profissional diferente e de ter uma visão mais completa do ser humano", pontuou Leonardo.

Se cursar Fisioterapia possibilitava-lhe a manutenção do seu sonho de trabalhar com o futebol, as conjunturas realmente começaram a se desenhar para quem ele se tornou hoje. Isso porque, depois de estagiar em uma clínica geriátrica chamada Centro Geriátrico Boa Estadia, por cerca de seis meses, apareceram-lhe as duas oportunidades mais fortemente ligadas ao futebol, desde quando optou por buscar suas graduações. Aquele mesmo futebol que nunca o deixaria.

Dessas duas experiências, a primeira, mesmo sendo curta, foi muito importante. Em maio de 2010, Leonardo participou de um programa de estágio no Atlético-MG, que, inicialmente, era estimado em apenas uma semana de duração. Tendo agradado, permaneceu por um mês, onde era supervisionado pelo preparador físico Antonio Carlos Mello, integrante da comissão técnica de Vanderlei Luxemburgo, no comando do time alvinegro na época. Era a primeira vez que Leonardo tinha a oportunidade de acompanhar, diariamente, a rotina de uma equipe profissional.

Foto: Carlos Cruz/América-MG
Foto: Carlos Cruz/América-MG

O ano de 2010, certamente, foi marcante na carreira de Leonardo, e aquela compreensão sobre essa fase, que foi prometida de explicações, começa, agora, a ganhar sustentação. Durante a graduação em Fisioterapia, em agosto daquele ano, surgiu uma oportunidade de estágio no América-MG, clube onde trabalha até hoje. Naquele momento, surgiu também um outro personagem, ao qual Leonardo trata com enorme gratidão. Jomar Ottoni, que atualmente é coordenador do Departamento de Fisioterapia do Palmeiras, era o chefe desse departamento no América e recebeu o estagiário. Relembrando a admissão, Jomar revela que já percebia potencial de preparador físico em Leonardo.

"Na entrevista que fiz com o Leonardo, já percebi que o perfil dele encaixava muito com o perfil de preparador físico, porque ele já era formado em Educação Física e ainda estava cursando Fisioterapia. Ele poderia ser melhor aproveitado na preparação física, sem deixar de lado os estudos da Fisioterapia, que iam complementar muito a sua profissão", afirmou Jomar.

Se Leonardo tinha optado pela Fisioterapia porque tentava voltar o foco para o futebol, que era mesmo o seu destino, ter a chance de estagiar em um grande clube firmava-se como um marco em sua carreira, por isso, os agradecimentos a Jomar são extensos. "O Jomar foi um cara importantíssimo na minha carreira como profissional, é uma pessoa que eu jamais vou esquecer. Ele me deu a oportunidade de iniciar um estágio no América, em Fisioterapia. Ele era uma pessoa que me orientava muito, conversava muito comigo, me falava de valores, de princípios, de métodos, de como, realmente, trabalhar com atletas profissionais", disse Leonardo sobre Jomar, que ainda teria um papel ainda mais importante na carreira dele.

Foto: Carlos Cruz/América-MG
Foto: Carlos Cruz/América-MG

O estágio na Fisioterapia do América seguia até agosto do ano seguinte, quando Leonardo foi efetivado como preparador físico da equipe. Com a saída do técnico Mauro Fernandes, Antônio Lopes chegou para o comando do Coelho e solicitou mais um preparador físico na equipe, que já contava com os preparadores Júlio Alencar Hudson Barros. Se desde a entrevista realizada com Leonardo, ainda no programa de estágio, Jomar já percebia características de preparador físico no profissional diversificado, essa era chance de vê-lo exercendo tal atividade, tornando-se fundamental na carreira de Leonardo ao indicá-lo para suprir a vaga que Antonio queria.

"Surgiu a oportunidade dele ser contratado como preparador físico do clube, para fazer trabalhos a parte, transição do jogador quando machuca e volta, onde fazia a primeira parte do recondicionamento físico do jogador. Ele tinha muito conhecimento das limitações do jogador porque estava cursando Fisioterapia. Estávamos muito próximos e nos dávamos muito bem", lembrou Jomar, que ainda pontuou a empatia como uma das características do trabalho de Leonardo. "Ali eu já vi que seria um profissional que iria decolar. Ele tem um carisma muito grande. O Léo jogou futebol, e quando a pessoa sabe, sente na pele os efeitos do futebol, facilita a sua compreensão das limitações e das necessidades dos atletas", completou.

Pelo admissão no estágio e pela indicação para a vaga de preparador físico do América, tendo figurado duas grandes fases da carreira de Leonardo, Jomar tem o reconhecimento e o agradecimento do profissional. "Hoje tenho uma gratidão enorme ao Jomar, e quando a convocação saiu, ele foi uma das pessoas com que eu logo queria falar, queria comentar, porque ele participou de todo esse crescimento e foi a pessoa que, no momento que precisou, me indicou como preparador. Tenho certeza que ele ficou muito feliz com essa convocação", relatou Leonardo.

Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Ficou feliz e tem grandes expectativas quanto à colaboração de Leonardo à seleção sub-20. "A seleção está recebendo um profissional extremamente capacitado, extremamente atualizado, com uma noção completa do futebol, não só da parte da preparação física, mas da nutrição, fisioterapia, psicologia, parte tática e técnica. O Léo é um profissional bem completo, então a seleção recebe um profissional bem preparado e completo", exaltou Jomar.

Para muitos, a passagem de Antônio Lopes naquele mês de agosto, em 2011, pelo América, foi improdutiva. Com dois empates e duas derrotas, comandou a equipe em apenas quatro jogos. Para muitos, não todos. A carreira de Leonardo alcançou outro patamar, e algum ponto positivo resultou da rápida passagem de Antônio Lopes pelo clube. Foram quatro jogos na carreira de Antônio, e cinco anos que têm se estendido na carreira de Leonardo como preparador físico do Coelho. O futebol, realmente, não o deixaria.

Foto: Carlos Cruz/América-MG
Foto: Carlos Cruz/América-MG

O América, então, foi o clube que ofereceu grandes oportunidades de ascensão na carreira de Leonardo, e por todas as circunstâncias, tem um papel muito importante na vida dele. "Eu tenho um grande respeito e carinho pelo América, porque foi o clube onde iniciei minha carreira como profissional, é um clube que vem investindo em mim e acredita muito no meu trabalho. Devo muito dessa convocação ao América, principalmente à comissão técnica que hoje trabalha junto comigo, pelo carinho, pela atenção, pelo aprendizado, até pelos conselhos que são passados a mim como crescimento profissional mesmo", disse Leonardo.

De lá para cá, depois de concluir a graduação em fisioterapia, Leonardo fez duas pós-graduações, uma em Treinamento Esportivo e outra em Fisiologia do Exercício, por acreditar que elas lhe trariam conhecimentos aplicados ao futebol no dia-a-dia, sendo pilares para a preparação física de atletas profissionais e dando-lhe um maior aparato no trabalho que desenvolvia.

"A seleção é o local onde tem que estar os melhores, e acho que o Léo é um dos melhores profissionais que temos na Série A” - Marcos Seixas, autor da indicação de Leonardo à seleção sub-20.

Nesses cinco anos na preparação física do América, Leonardo viu a chegada e a saída de inúmeras comissões técnicas e inúmeros profissionais. Apareceu, então, a maior oportunidade de sua carreira até os dias de hoje: a convocação para a seleção brasileira sub-20. E se vários personagens foram fundamentais na composição de sua trajetória, surge, agora, um outro. Marcos Seixas, atual preparador físico do Figueirense e da seleção brasileira olímpica, foi quem o indicou para o posto.

Os dois trabalharam juntos no América na passagem de 2012 para 2013, por cerca de quatro meses, quando Marcos integrava a comissão técnica do treinador Vinicius Eutrópio. Quatro proveitosos meses. "Foi uma experiência muito boa, e eu já enxergava no Léo um profissional de muito talento, capacidade, corretividade, competência e muita liderança. Um profissional que, sem dúvida nenhuma, já exercia um papel muito importante para o clube e que todos que trabalhavam com ele podiam observar essa grande capacidade e competência que possuía. Sem dúvida, um profissional muito promissor", destacou Marcos.

E há mutualidade na admiração, já que Leonardo faz questão de elogiar o trabalho desenvolvido por Marcos Seixas, que recentemente foi convocado para a seleção olímpica, além de considerá-lo como um dos melhores preparadores físicos com o qual já trabalhou.

"O Marcos Seixas, para mim, é uma referência em preparação física no Brasil. É uma pessoa extremamente amiga e aberta, com uma metodologia de trabalho atualizada, um perfil de liderança de grupo que vi poucos exercerem no dia-a-dia. Além do trabalho que desenvolvemos, conseguimos, também, estreitar nossa relação de amizade, pelo respeito e  carinho. É um profissional que admiro demais, que me serve como exemplo, e está onde está, pelos seus méritos. É com grande satisfação que falo desse profissional, um grande preparador físico e um grande amigo", declarou Leonardo.

Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Foto: Rafael Ribeiro/CBF

Diante da visão que tem do trabalho desenvolvido por Leonardo, Marcos resolveu indicá-lo à seleção, onde não só jogadores, mas também preparadores físicos e demais integrantes da comissão técnica, passam por processos de observação. "Indiquei o Léo para a seleção por uma conjunção de fatores. A primeira é que a seleção sub-20, os profissionais responsáveis, como o coordenador e os treinadores das divisões de base, estavam querendo conhecer os profissionais dos grandes clubes do Brasil da Série A. E o segundo, é claro, a grande capacidade que o Léo tem de comandar e gerir uma equipe, a grande criatividade que ele tem nos trabalhos, a clarividência, a honestidade, a forma de trabalhar e a forma de conduzir", contou Marcos.

"A seleção está recebendo um profissional extremamente moderno, com conhecimento científico, capacidade técnica e conhecimento dos sistemas táticos do jogo. Acho que hoje um preparador físico não basta ter conhecimento científico, ele tem que ter conhecimento técnico e tático das dinâmicas de jogo, tem que ser um gerenciador de grupo,  tem que ser um gestor de pessoas e o Léo exerce isso. Por isso teve essa chance na seleção, que tem que ser o lugar desses profissionais bons e capacitados. A seleção é o local onde tem que estar os melhores, e acho que o Léo é um dos melhores profissionais que temos na Série A e tem que mostrar seu trabalho", completou Marcos.

Acontecendo em um momento inesperado para Leonardo, a convocação faz parte do reconhecimento a um profissional que buscou formações acadêmicas e profissionais, capazes de somar e sustentar uma carreira muito promissora. Aquele futebol que nunca o deixaria começa a dar-lhe oportunidades ainda mais concretas de ascensão e solidificação da carreira.

Foto: Rafael Ribeiro/CBF
Foto: Rafael Ribeiro/CBF

"A sensação é de felicidade extrema, num momento mágico que eu vivo. É uma perspectiva muito grande. Você acaba sendo mais valorizado dentro do clube, valorizado pelas pessoas, conhece novas pessoas dentro do futebol, que antes de ser convocado não conhecia. Por ser a seleção brasileira, a repercussão é mundial, então eu venho falando com muitas pessoas que querem conhecer mais o meu trabalho, que querem conhecer um pouco mais de mim, e isso vem agregando muito na minha carreira como profissional", analisou Leonardo sobre a chance de servir a seleção.

Desde a saída de Alexandre Gallo, em 2015, Rogério Micale está a frente da seleção sub-20 e, em 14 de junho, comunicou os convocados dessa categoria, um dia antes de ser anunciado como o técnico responsável pela seleção olímpica, a pedido de Tite. Por isso, Micale voltou seus esforços para a seleção masculina de futebol que defenderá o Brasil nos Jogos Olímpicos, deixando as categorias sub-20 e sub-18 a cargo de Carlos Amadeus e Guilherme Dalla Déa, treinadores das equipes sub-17 e sub-15, respectivamente, no período de 19 a 24 de junho, quando a seleção se apresentou, junto com a comissão técnica, na Granja Comary.

A seleção sub-20 deve se reunir, novamente, nos próximos meses, em preparação para duas importantes competições que acontecem no ano que vem: o Campeonato Sul-Americano, no Equador, e o Mundial, na Coreia do Sul. Tendo a comissão técnica uma rotatividade menor que o corpo de jogadores, Leonardo espera se manter na seleção, aproveitando a primeira chance confiada a ele. "A expectativa é de poder servir a seleção com mais frequência, ter mais oportunidades para conhecer tanto o treinador quanto os atletas, e participar das competições internacionais", pontuou Leonardo.

Atualmente, Leonardo é o preparador físico fixo do América, desenvolvendo a periodização do treinamento da equipe e analisando o condicionamento físico dos atletas, que em um trabalho associado a outros departamentos, busca aumentar o desempenho deles. Além disso, trabalha na transição do atleta lesionado, entendendo e tratando a lesão pelos conhecimentos da Educação Física e da Fisioterapia, fazendo trabalhos à parte com atletas no processo de recondicionamento físico. Além dele, permanece o preparador físico Edy Carlos Toporowicz, que se mantém, com o novo técnico Enderson Moreira, depois da saída de Sérgio Vieira.

Foto: Carlos Cruz/América-MG
Foto: Carlos Cruz/América-MG

Desde quando, em conjunto com sua família, Leonardo decidiu deixar a carreira de jogador de futebol e buscar formações acadêmicas, sua relação com esse esporte se manteve viva, mesmo, nesse intervalo, tendo trabalhado com adolescentes, adultos e idosos. A carreira nos gramados não avançou, mas por trás dos que têm vestido a camisa do América nos últimos seis anos, e dos que vestirão a amarelinha da sub-20 agora, tem a atuação daquele que, aos 20 anos, decidiu tomar outros rumos no futebol. Aquele mesmo futebol que não o deixaria. Agora é Leonardo quem não quer deixá-lo mais, numa relação que não deve ter fim.

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