"Nossa, 40 anos, parece que foi ontem, não é?". Foi com esta frase que Palhinha lembrou de um dos dias mais gloriosos das história do Cruzeiro. O atacante cruzeirense foi uma das figuras mais marcantes da campanha celeste que, neste sábado (30), completa 40 anos do título da Copa Libertadores da América de 1976.

Vanderlei Eustáquio de Oliveira, o Palhinha, nasceu em 11 de julho de 1950, em Belo Horizonte. Atacante rápido e com um poder finalização incrível, rapidamente ganhou os corações dos torcedores celestes, principalmente, os mais saudosos do futebol de Tostão, que deixara o Cruzeiro para atuar pelo Vasco, em 1972.

Palhinha começou a carreira no Cruzeiro em 1970, ficando no clube celeste até 1977, e retornando em 1984. Marcou 145 gols, sendo o sétimo maior artilheiro do clube celeste. Os dados constam do "Almanaque do Cruzeiro", de Henrique Ribeiro. De 1977 a 1980, o atacante jogou no Corinthians. Entre 1980 e 1981, defendeu a camisa do Atlético-MG. Em 1982, atuou no Santos, e no ano seguinte, o Vasco. O último time de Palhinha foi o América-MG, em 1985.

Foto: Reprodução/iG

Após este período, foi treinador, chegando a comandar Atlético-MG, onde foi vice-campeão mineiro em 1987; o Corinthians, durante o paulistão e o brasileirão de 1989; e o Cruzeiro, na reta final do Campeonato Brasileiro de 1994. Foi comentarista no programa Meio de Campo, da Rede Minas.

Artilheiro da Libertadores com 13 gols em 11 partidas, Palhinha declara a VAVEL Brasil que balançar as redes tantas vezes foi graças ao time ofensivo que o Cruzeiro possuía. Acompanhe.

VAVEL: Você foi artilheiro da Libertadores e com uma média incrível, bem maior que o normal. A que você credita isso?

Palhinha: Consegui marcar muitos gols e a Libertadores era composta por 13 times. Eram apenas os campeões e os vices de cada país, além do campeão do ano anterior. Depois a Libertadores passou a ter mais times, e os atacantes tiveram chances de marcar mais gols na competição.

VBR: Uma das características do Cruzeiro era o alto poder ofensivo. Fale mais sobre essa qualidade marcante no time celeste.

P: Nosso time começou com uma mudança logo de cara. Perdemos o Dirceu Lopes, com uma lesão no tendão, e a diretoria do Cruzeiro contratou o Jairzinho para compor o elenco. No meio do caminho, o Roberto Batata faleceu, com o Eduardo entrando no lugar dele, variando com o Ronaldo. Nosso ataque era muito forte, vivia em função de marcar gols, por isso que nós marcamos 43 gols em 13 jogos.

O primeiro gol contra o Internacional, do zagueiro Figueroa na Liberadores de 1976. Foto: Reproduçao/Imortais do Futebol

VBR: Vocês começaram aquela Libertadores muito bem. Isso ajudou no restante da campanha?

P: Nosso ambiente era muito bom e todos nós convivíamos muito, cerca de quatro, cinco, até seis anos atuando pelo Cruzeiro. Logo de cara, começamos ganhando do Internacional de 5 a 4, e o Inter era um timaço. Por causa disso, é que ganhamos uma consistência e uma confiança muito boa para disputar aquela Libertadores. E este estado tão tranquilo que obtivemos foi importante demais durante a campanha. Nós tivemos muitos problemas em jogar fora do Brasil, principalmente, na Argentina. Naquela época, não existia exame antidoping, além da rivalidade entre argentinos e brasileiros que era muito forte.

VBR: Mesmo encarando um time forte como o River Plate, você se destacou. Quais são suas melhores lembranças dos jogos da final?

P: Na final contra o River Plate, atuei muito bem. No primeiro jogo, fiz dois gols e ganhamos de goleada (4 a 1). Na segunda partida, foi um verdadeiro clima de guerra. O River Plate saiu na frente e empatei no começo da etapa final. Com o empate, o título era nosso, só que o juiz deu uma mão enorme para o River no segundo gol deles. O atacante (Pedro González) foi finalizar, chutou a bola para o gol e levou o Vanderlei junto para as redes. Era uma falta que o árbitro não marcou. Para piorar, o juiz expulsou o Jairzinho, que estava jogando muito.

Depois teve a partida no Chile, que também foi uma guerra, mas teve uma grande presença de torcedores do Cruzeiro. Isso nos deu uma força enorme para encarar o River. No terceiro gol, acredito que baixou um espírito no Joãozinho, porque ele nunca bateu uma falta na vida dele. Naquele dia, o João resolveu cobrar a falta e fez o gol do título.

Dos nove gols do Cruzeiro contra o River Plate, Palhinha marcou três. Foto: Reprodução/Imortais do Futebol

VBR: Após a conquista, você teve um reconhecimento ainda maior no seu futebol?

P: Trouxe bastante, mas o principal é o reconhecimento dos torcedores, que nunca se esqueceu daquela conquista tão importante. E tudo aconteceu com a união da diretoria, comissão técnica e jogadores e, sem deixar de lado a imagem do Roberto Batata, que era um grande companheiro.

VBR: Você ficou pouco tempo no Cruzeiro depois da Libertadores. Por quê?

P: Após a Libertadores continuei no Cruzeiro, disputei o Campeonato Brasileiro e o Mundial Interclubes, onde perdemos para o Bayern de Munique. No início de 1977, o Vicente Matheus (presidente do Corinthians) foi a minha casa fazer uma proposta para defender o Corinthians. Naquela ocasião, sete milhões de cruzeiros era uma grana muito alta e não tinha como o Felício Brandi (presidente do Cruzeiro) cobrir.

A seguir, um trecho histórico da decisão da Libertadores de 1976, entre Cruzeiro x River Plate, no Estádio Nacional de Santiago do Chile. Narração de Jairo Anatólio Lima, comentários de Tancredo Naves e reportagens de Luiz Carlos Alves. Acompanhe!