Quando Marta perdeu seu pênalti diante de Williams, muitos acreditaram na injustiça dos deuses do futebol. Seria desta triste forma que o sonho olímpico das guerreiras brasileiras chegaria ao fim? Não, eles não permitiram. A heroína improvável, que há meses era criticada por falhar, cresceu e virou a Muralha Bárbara. Pegou um, pegou dois. Dois pênaltis australianos para colocar fim na agonia que cercava não só o Mineirão, mas o país inteiro. Estávamos na semifinal.

Quem acompanha o futebol feminino sentiu, quando Marta errou, o desespero consumir a esperança. O esporte não podia se "dar ao luxo" de perder, não pode sequer andar perto da linha da eliminação. Cada queda, cada erro significa mais uma parte da luta pelo reconhecimento em vão. E as meninas sabiam disso, elas sabem porque vivem diariamente a necessidade de provar seu valor.

No Brasil, o futebol feminino sofre com a falta de tudo. Elas não tem estrutura, visibilidade, verba, apoio, voz. Nossas meninas lutam dia após dia por um esporte mais justo e, mesmo apanhando muito ao longo do caminho, elas não desistiram. Mesmo após o apelo silenciado em 2007, elas continuaram lutando e fizeram isso por amor.

Agora nos vemos diante da Suécia, que tem uma realidade oposta para o futebol feminino. Elas tiveram o prazer de ver Marta jogar no campeonato nacional, coisa que nossa estrutura não viabiliza para jogadoras que desejem atuar em alto nível.

O sonho olímpico não se trata apenas de vencer a primeira medalha de ouro do Brasil no futebol. Ele é mais do que isso. Aquelas meninas, que vestem com amor e devoção a camisa verde e amarela, sonham com a oportunidade de ouro, a visilibidade de ouro, o reconhecimento de ouro. Coisas que nunca foram dadas a elas, mesmo que elas tenham feito tudo por isso. As brasileiras precisam dessa medalha porque, além de merecerem após anos de dedicação, essa conquista acaba com qualquer desculpa para não investir nelas.

Determinadas e talentosas, as meninas do Brasil chegam à semifinal com o apoio de um país que demorou a enxergá-las, mas que tem segurado cada obstáculo que aparece na frente nos Jogos Olímpicos. As dificuldades servem de motivação e, diante da Suécia, o último passo para o sonho dourado pode ser dado. Força, foco e muito talento, esses são os segredos brasileiros. Vamos juntos pelo sonho delas.