A torcida do Cruzeiro vivenciou cenários bem distintos nos últimos anos desde que Gilvan de Pinho Tavares assumiu a presidência do clube, em 2012. Isso porque de lá para cá, a Raposa protagonizou um contraste entre o Bicampeonato Brasileiro e a luta para não cair para a Série B.

Com 51 pontos e na 12° colocação, o time mineiro encerrou a temporada 2016 contabilizando o pior registro do mandato de Gilvan na principal competição do país. O atual presidente foi eleito ainda no fim de 2011, onde colocou fim a um período de 17 anos de comando da família Perrela na Raposa.

Gilvan tomou posse em dezembro de 2011 (Foto: Pedro Vilela/VIPCOMM)

Quando assumiu em seu primeiro triênio (2012/2014), Gilvan encontrou uma equipe que tinha acabado de tirar um pé da Série B. No ano anterior, o Cruzeiro chegou a jogar todas as fichas para evitar seu primeiro rebaixamento da história, no clássico contra o rival Atlético-MG, em que aplicou uma goleada histórica por 6 a 1 sobre o time alvinegro.

Depois de um 16° lugar em 2011, que evitou um descenso para a segunda divisão por apenas dois pontos de diferença para o Atlético-PR, 15°, o Cruzeiro começou 2012 com comando e propostas novas. Ao lado de Gilvan, chegou em março desse ano um dos nomes que retomaria um planejamento vencedor na equipe: o diretor de futebol Alexandre Mattos, atualmente no Palmeiras.

Alexandre Mattos deixou o América-MG para trabalhar na Raposa (Foto: Washington Alves/VIPCOMM)

Logo que assumiram, Gilvan e Mattos começaram a pensar a nova equipe, mas, ainda em 2012, o time não foi muito bem no Brasileirão. Terminou com 52 pontos, 15 vitórias, 7 empates e 16 derrotas, com um saldo negativo de 4 gols. Ainda assim, garantiu um nono lugar, para não voltar a sofrer o mesmo risco da temporada anterior. Em 2012, a equipe teve dois treinadores: Vágner Mancini (até maio) e Celso Roth (de maio até o fim da temporada).

O ano agora era 2013, onde tudo foi bem diferente. A diretoria do Cruzeiro reformulou quase todo o seu elenco e buscou peças não tão conhecidas para o plantel. Nomes como Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro, vindos de Goiás e Coritiba, respectivamente, não tinham pompas de craque, mas encaixaram perfeitamente em um planejamento que, ao longo da temporada, foi se mostrando campeão. O comando técnico também foi alterado com a chegada de Marcelo Oliveira.

O Cruzeiro, então, com um time que surpreendeu em 2013, fez uma belíssima campanha no Brasileirão e jogou para escanteio as péssimas atuações que vinha registrando. Um ano que se pintou de azul e branco, colorido com um futebol coletivo brilhante, sem deixar de lado os talentos individuais.

Ao fim da competição, a Raposa teve o melhor ataque, com 77 gols, a terceira melhor defesa, com 37 sofridos, resultando em um incrível saldo de 40 gols – mais do que São Paulo (39), Corinthians (27), Bahia (37), Náutico (22) e Ponte Preta (37) fizeram em todo o torneio. No topo da tabela, somou 76 pontos, com 23 vitórias, 7 empates e 8 derrotas.

O romance da torcida do Cruzeiro com a gestão de Gilvan e Mattos chegava ao seu auge. Um time que começou 2013 sem criar expectativa alguma acabou finalizando a temporada com o terceiro título da Raposa no Brasileirão. Mas ainda tinha muito por vir, já que, em 2014, novamente as cinco estrelas da camisa celeste sobressairíam no cenário do futebol brasileiro.

Para esse ano, o Cruzeiro conseguiu manter a base do grupo campeão, e por entrar no Campeonato Brasileiro não mais como uma aposta, mas como favorito ao título, enfrentou adversários mais bem preparados. Quem entrava em campo contra a Raposa sabia que confrontaria um time bastante entrosado e que se encaixava muito bem.

Não deu outra. A manutenção da equipe campeã, com ajustes bem pontuais, garantiu ao Cruzeiro o Bicampeonato Brasileiro em 2014. Além disso, o time chegou aos 80 pontos, batendo o recorde da competição até então, que era do São Paulo, com 78 (superados em 2015, quando o Corinthians fez 81). O time mineiro fez 67 gols e sofreu 38, gerando um saldo de 29 gols.

O Cruzeiro foi tetracampeão brasileiro em 2014 (Foto: Douglas Magno/AFP) 

Torcida cruzeirense em festa, e o único time de Minas Gerais a conquistar um Bicampeonato Brasileiro consecutivo na história. O último ano do primeiro mandato de Gilvan coroou a excelência de um planejamento que foi certeiro e preciso. Peça por peça, a equipe de Marcelo Oliveira foi se desenhando com o respaldo e o potencial estratégico dos dirigentes.

Mas se tudo na vida acompanha altos e baixos e acaba tendo um fim, a vitoriosa passagem de Mattos pelo Cruzeiro se encerrou em dezembro de 2014. Simultâneo a isso, findava também o mandato de Gilvan, que acabou sendo reeleito para o triênio 2015/2017.

Mattos foi para o Palmeiras, e o presidente celeste precisou pensar em um nome que reconstruísse um projeto para a temporada 2015, já que o plantel da Raposa começou a se desfazer. Os jogadores de destaque do time campeão foram sendo negociados, e o novo diretor de futebol, Valdir Barbosa, teve a tarefa de integrar a diretoria a cargo de contratações, empréstimos e vendas de atletas. Valdir não durou muito no cargo, dando lugar a Isaias Tinoco, em julho de 2015.

Marcelo foi demitido pela diretoria celeste em junho do ano passado (Foto: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro) 

Um mês antes, terminou também o vínculo do técnico Marcelo Oliveira com o Cruzeiro, depois de duas temporadas e meia no clube celeste. Para a função, a Raposa anunciou rapidamente Vanderlei Luxemburgo, que assumiu a equipe a partir da quinta rodada do Brasileirão de 2015 (tinha conquistado um ponto em quatro jogos).

O trabalho de Luxa, no entanto, não foi satisfatório, em que o time conquistou 21 pontos em 51 distribuídos, durante 17 rodadas. Pouco antes de sua saída, o diretor de futebol Isaias Tinoco também já tinha deixado a Raposa, depois de um curto trabalho e declarações polêmicas.

O mês de setembro foi de trocas na diretoria e na comissão técnica. Thiago Scuro chegou à Toca da Raposa para a posição de diretor de futebol, e Mano Menezes, para o cargo de treinador. Especialmente o trabalho de Mano, que tinha a missão de tirar a Raposa de perto do Z-4 em curto tempo, agradou à torcida, já que o time fez 33 pontos em 17 jogos e teve uma arrancada com o comandante gaúcho.

Mano quase levou o Cruzeiro à Libertadores, depois de assumir a equipe em situação complicada no Brasileirão  (Foto: Pedro Vilela/Light Press/Cruzeiro)

O Cruzeiro terminou o Campeonato Brasileiro de 2015 com 55 pontos, na oitava posição, com 15 vitórias, 10 empates e 13 derrotas. Junto com o fim do torneio, o técnico Mano Menezes foi transferido para o futebol chinês, mas deixou registrado um bom trabalho, já que livrou o time de um possível descenso à segunda divisão logo após o título.

Para este ano, o Cruzeiro realizou algumas trocas e foi tentando se ajustar ao longo da temporada. Deivid, que foi auxiliar de Mano em 2015, começou como técnico do time celeste, mas foi demitido logo depois do campeonato estadual. Geraldo Delamore comandou na transição para um nome que foi trazido da Europa: o português Paulo Bento, que assumiu a partir da segunda rodada do Brasileirão.

A filosofia que o técnico tentou implantar no clube mineiro não deu certo, e com ele o time conquistou 13 pontos em 15 jogos. Gilvan e Thiago Scuro voltaram a apostar no trabalho de Mano Menezes, que assumiu a Raposa na vice-lanterna do Brasileirão.

Sóbis chegou ao Cruzeiro em junho deste ano (Foto: Marcello Zambrana/Light Press/Cruzeiro​)

Algumas peças foram incorporadas ao grupo no decorrer da temporada, como Ramón Ábila e Rafael Sóbis. A segunda passagem de Mano não foi tão segura quanto a primeira, e o Cruzeiro chegou a rondar, até mesmo figurar, a zona de rebaixamento por algumas rodadas. No fim, a Raposa acabou conseguindo se manter novamente na elite no futebol brasileiro.

No Brasileirão deste ano, o Cruzeiro fez 51 pontos, pior marca da equipe com Gilvan na presidência. Foram mais derrotas que vitórias (15 a 14), e nove empates. O time marcou 48 gols e levou 49, terminando com um saldo negativo. Nesta semana, foi anunciada também a saída do diretor Thiago Scuro, depois de quase um ano e meio na diretoria do clube.

Ao fim do jogo contra o Corinthians, no último domingo (11), em que a Raposa venceu de virada por 3 a 2, os torcedores celestes proferiram xingamentos ao mandatário do clube. Não foi a primeira vez, já que a torcida contestou o trabalho de Gilvan em outras oportunidades durante a temporada.

Em 2017, Gilvan vai dirigir o Cruzeiro pelo último ano de seu segundo comando, que não foi tão vitorioso quanto o primeiro. Desde o início de 2015, com a reeleição, o presidente não conquistou um título sequer com a Raposa e tem agora a permanência de Mano para ajustar a equipe, junto com o próximo diretor de futebol, ainda não anunciado.

Gilvan vai conseguir títulos no último ano de mandato? (Foto: Washington Alves/Light Press/Cruzeiro)

O presidente vai ter, então, mais um ano para salvar o seu mandato no posto mais alto da direção do Cruzeiro. Viver momentos como os de 2015 e 2016 estão longe das projeções – e pretensões – da torcida cruzeirense.