A última sexta-feira foi de polêmica pela Fifa, através de seus novos dirigentes, que muito se assemelham aos anteriores, por negar reconhecimento de títulos mundiais às edições disputadas entre América do Sul e Europa, em jogos entre os campeões continentais antes de 2000. Foi a partir do novo milênio que a entidade passou a organizar seu Mundial de Clubes. Antes disso, porém, a história do futebol mundial está marcada com grandes times e esquadras vitoriosas e revolucionárias no esporte.

No Brasil, o Santos de Pelé, Pepe, Coutinho e outros marcou época nos anos 1960. Conquistava os campeonatos paulista, torneios Rio-São Paulo e os atualmente reconhecidos títulos nacionais. Porém, duas Copas Libertadores da América vencidas sobre grandes adversários, sobretudo argentinos e uruguaios, levaram o Santos para uma disputa a nível mundial. Nem o Benfica e nem o Milan foram páreos aos santistas no biênio 1962-1963. E algum time no mundo era? A resposta é não.

Santos campeão da América de 1962

Após muitas conquistas sul-americanas e internacionais por argentinos e uruguaios, o Brasil voltou forte com o Flamengo de Zico em 1981. O Rubro-Negro carioca não poupou o Liverpool em disputa no Japão e venceu por sonoros 3 a 0. Junior, Adílio e Andrade também compuseram um dos melhores times brasileiros de todos os tempos. Multicampeão carioca e nacionalmente falando. O ápice? A Libertadores da América vencida pelo clube e a referida conquista na terra do sol nascente. Um Flamengo campeão mundial. Algum time no mundo era superior ao Mengão em 1981? A resposta é não.

Flamengo campeão no Japão em 1981

Após esse mesmo Flamengo e o Grêmio marcarem a final do Brasileiro de 1982, com polêmica e título rubro-negro, o Tricolor gaúcho foi com tudo para o ano de 1983, especial na história do clube. A Libertadores da América foi a primeira vencida por um clube do Rio Grande do Sul e sobre o atual campeão Peñarol. No Japão, o time de Hugo de León, Mário Sérgio, Tarciso e Renato Gaúcho passou pelo Hamburgo. Apesar do título europeu ter sido isolado na história dos alemães, eles jamais foram rebaixados na Bundesliga. Naquela temporada, haviam passado por um torneio na Europa com Sporting Lisboa, Liverpool, Monaco e Juventus, dentre outros tradicionais adversários. O Grêmio foi campeão com vitória por 2 a 1, em dois gols de Renato Gaúcho, maior ídolo do clube. Havia time no mundo superior àquele Grêmio? A resposta é não.

Entre os brasileiros com glórias no Japão antes da interferência maior da Fifa (pois placas de patrocínio e publicidade já contavam com a entidade no formato América do Sul x Europa), o São Paulo do técnico Telê Santana despachou Milan e Barcelona para chegar ao topo do mundo. Um treinador conhecido e reconhecido por diversas glórias. O goleiro Zetti, Cerezo, Raí, Cafu e Muller estavam nas maravilhosas esquadras. São Paulo bicampeão do quê? Bicampeão do mundo. Pois, volto a perguntar: havia clube melhor pelo planeta naquele momento? Não, não havia.

São Paulo campeão mundial de 1992 (Divulgação / São Paulo)

A crescente do futebol nos demais continentes deve ser observada. África, América do Norte e sobretudo o dinheiro na Ásia fazem clubes e ligas crescerem. Entretanto, até a presente edição do Mundial de 2016 vencida pelo Real Madrid, somente clubes europeus e sul-americanos conquistaram o mundo. Antes da Fifa e depois da Fifa. A Europa segue arrasadora, com Real e Barcelona empilhando conquistas. Os demais continentes já cavaram vagas na final, mas ainda não venceram. Estão mais próximos de vencer, muito diferente do que seria uma disputa nos anos 1960 ou 1980, por exemplo.

A América do Sul também se fragilizou pelo dinheiro. Jogadores argentinos, uruguaios, colombianos, chilenos e brasileiros passaram a migrar para Europa e agora para Ásia. O dinheiro, menina dos olhos da Fifa e de outras federações, tem falado mais alto. Por conta dele, mudanças estão por vir no Mundial de Seleções e no de Clubes, com mais times presentes. Aguardem.

Sobre a Copa do Mundo de seleções, ainda pode-se discorrer que até 1974 não havia todos os continentes representados. Pelé estaria rebaixado a campeão intercontinental com o Santos e também com a Seleção Brasileira? Os títulos brasileiros em 1958, 1962 e 1970 não contaram com seleções de todos os continentes. Mas, voltando a pergunta: havia seleção que pudesse bater aquele Brasil pelo mundo? Não havia. Campeão mundial, sim senhor. Assim como o Uruguai das Copas do Mundo de 1930 e 1950, dentre outras seleções.

Os formatos das competições e a qualidade de equipes em disputa mudam. A América do Sul já não é tão dominante enquanto segundo continente com mais conquistas mundiais. A Europa, infelizmente a nós sul-americanos, se distanciou e os demais continentes se aproximaram. Houve episódios como Mazembe, Raja e Kashima. Mesmo com a mudança de cenário, o que não muda é a história. Nada apaga essas histórias. Fiquem tranquilos, torcedores de Santos, Flamengo, Grêmio e São Paulo: foram campeões a nível mundial e não havia time no mundo para os derrotar naqueles tempos. São campeões mundiais porque o mundo sabia que eram os melhores.