A primeira “Data Fifa” do ano chegou! A temporada europeia, a dois meses do fim, abre espaço para que seus craques – ou boa parte deles – possam ajudar suas seleções a irem mais longe rumo à próxima Copa do Mundo. Ao menos, será assim na América do Sul nas próximas duas semanas. E, tanto Brasil quanto Uruguai, adversários nesta quinta-feira, entrarão em campo com a missão de ir à Rússia cada vez mais próxima da conclusão.

Vice-líder das Eliminatórias, a seleção uruguaia levará ao Estádio Centenário, em Montevidéu, quase tudo o que possui de melhor. Sem o craque Luis Suárez e o goleiro titular, Muslera, ambos suspensos, o time de Óscar Tabárez precisará se remodelar e pensar em diferentes opções para bater o Brasil.

Na vaga centroavante do Barcelona, quem deve entrar é Diego Rolán, atacante do Bordeaux, que trabalha bem fora da área e sabe carregar a bola, e é, dentre os convocados, o que mais se aproxima de Suárez em características de jogo. Os donos da casa, provavelmente, perderão qualidade para manter a bola na frente, conter os zagueiros adversários e terão menos a oferecer para Cavani, que, embora seja um excelente centroavante, costuma precisar de algumas oportunidades até conseguir marcar. Na vaga de Muslera, quem entra é o vascaíno Martin Silva, ótimo goleiro, e capaz de se equiparar ao titular da posição.

Apostando nos muitos gols e na fase extremamente confiante de Cavani – artilheiro das Eliminatórias, com 8 gols, além dos 38 marcados com o PSG na atual temporada –, a celeste deve atuar como nas últimas partidas do ano passado, postando-se no 4-4-2 (tendo, ou não, a bola em seu domínio), com as duas primeiras linhas mais compactas e a dupla de ataque avançada, esperando lançamentos para produzir jogo ofensivo.

Reprodução: beIN Sports
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Melhor mandante do torneio, tendo vencido todos os seus seis jogos em casa, o Uruguai sofreu apenas um gol em seus domínios desde então. Muito disso pode ser creditado à forte e intensa marcação do time, dominando os espaços, protegendo sua área com as bolas pelo alto – Coates, com toda a imposição física e seu 1,96m, e Godín, são excelentes neste quesito –, e se compactando muito sem a bola.

Especialmente de outubro até aqui, o conjunto atua com duas linhas de quatro jogadores, que variam funções dependendo do movimento do adversário. Quando o rival tenta sair, desde atrás, com a bola rasteira, a linha de meio-campistas ajuda os atacantes na pressão sobre os defensores e volantes do outro time. Quando o Uruguai é atacado em seu próprio campo, as duas primeiras linhas se aproximam e fecham todo o espaço, com o intuito de diminuir a infiltração e criação de jogo do oponente.

Reprodução: beIN Sports
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Por trabalhar tanto sem a bola e preterir passar boa parte do tempo sem ela, há um preço a ser pago, ou algo a se abrir mão: os melhores armadores da equipe, por tendência, devem seguir no banco. Com o sistema mais reativo, as chances de Arrascaeta, Lodeiro ou Gastón Ramírez começarem entre os titulares diminuem ainda mais. Contudo, como equipe, o Uruguai é, sem nenhuma dúvida, a melhor que o Brasil vai enfrentar desde a evolução pós-mudança de treinador.

A partir da chegada de Tite, o Brasil teve uma melhora inestimável em aspectos coletivos. Em outras palavras, jogou como equipe de maneira não vista antes, enquanto era comandada por Dunga. Desde o início desta nova “era” da seleção brasileira, algumas ideias de jogo fixas: o 4-3-3 com a bola e o 4-1-4-1 sem ela – nesta fase, emulando o que o mesmo Tite fez em seu Corinthians, campeão brasileiro em 2015, como já tentava fazer o antecessor em seus jogos finais de Eliminatórias –, alinhando os atacantes de lado, e dando a eles funções ofensivas e defensivas bem definidas.

Reprodução: beIN Sports
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Com alguns detalhes, o conjunto amarelo se credencia como a equipe a ser batida nas Eliminatórias. Primeiro na tabela, com quatro pontos de vantagem sobre o segundo colocado, o sistema de jogo do ano passado deve se manter, com uma única alteração. Centroavante titular, Gabriel Jesus está lesionado, e dará lugar a Roberto Firmino, de características parecidas: sai da área, participa muito defensivamente – até mais que o titular na posição –, e contribui muito no que é o ponto forte do ataque brasileiro: a transição ofensiva em curtíssimo intervalo de tempo, com a finalidade de resolver a jogada em poucos movimentos e dificultar a reação do adversário.

Marca registrada no seu trabalho no Corinthians, os meio-campistas infiltradores, ocupando espaços e contribuindo nos ataques, seguem utilizados na seleção de Tite. E não é só a função que se mantém. Os dois titulares na posição já foram escalados assim pelo treinador no Parque São Jorge, e executam o que é pedido de maneira muito boa.

Somando-se aos atacantes na frente, e compondo uma linha defensiva dinâmica e com mobilidade e intensidade física no setor intermediário do campo, Paulinho e Renato Augusto trouxeram tudo o que faltava ao meio-campo brasileiro: não detêm a bola nos pés a todo tempo, mas são explosivos na hora de dosar marcação e chegadas ofensivas. Nem mesmo o considerável nível baixo do futebol chinês diminui as qualidades deles. Os contínuos passadores e criadores de jogo – Kroos, Verratti, Busquets, dentre outros –, como é bastante visto nas mais fortes seleções europeias, no Brasil, dão lugar a meio-campistas de estilo diferente, mas com grande destaque no futebol moderno: os que aproveitam muito o espaço e as infiltrações através dele.

Reprodução: beIN Sports
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Anulado na “partida de ida”, Neymar enfrentará o Uruguai em uma função bem diferente da executada no primeiro turno. Antes “falso nove” com Dunga, agora o camisa 10 brasileiro vem com muita liberdade no sistema de jogo: flutua entre o lado esquerdo e o centro de campo, e consegue gerar fluidez ofensiva com seus companheiros de frente. Desde a mudança, atuou em cinco partidas: 4 gols e 5 assistências. Pela direita, Coutinho, que passa por um momento instável no Liverpool desde que se recuperou de lesão, em janeiro, deve ser o titular. Como já dito por Tite quando adotou o 4-1-4-1 como sistema “favorito”: é o ponta que arma, e parte para o meio em busca da organização das jogadas.

Quando não tem a bola em seus pés, o Brasil é mais cuidadoso: se compacta, deixa um homem na pressão dos zagueiros e/ou do primeiro homem do meio-de-campo adversário (no possível time de quinta-feira, Roberto Firmino deve fazer esta função), e se posta defendendo o espaço, com um volante entre as duas linhas com quatro jogadores. Se o lateral sobe para dar combate, o meio-campista ou o ponta do seu setor deve cobri-lo, e vice-versa.

Reprodução: beIN Sports
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Essa organização deu ao time uma capacidade de se proteger e correr menos riscos, além de passar mais segurança aos atletas para potencializar seus respectivos estilos de jogo. Na fase defensiva, um time muito coeso, protegendo-se bem, bloqueando opções de passe e transições ofensivas dos rivais, tanto pelos lados quanto pelo meio do campo. Também por isso, nas seis partidas da seleção amarela sob o comando de Tite (venceu todas), levou apenas um gol, quando Marquinhos empurrou contra o patrimônio diante da Colômbia – o Brasil triunfou por 2 a 1. Fora de casa, nenhum tento sofrido.

A partida desta semana é um desafio para ambos os treinadores. Se Tite ainda não sabe o que é terminar uma partida sem vitória pela seleção brasileira, Tabárez ainda não viu seu time sair derrotado em um jogo destas Eliminatórias como mandante. Com uma das surpresas se tornando inevitável, a expectativa é que o duelo não faça ninguém sentir falta dos campeonatos de clubes europeus. Não nesta quinta-feira.

Prováveis times para quinta-feira (Arte: this11.com)
Prováveis times para quinta-feira (Arte: this11.com)
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Sobre o autor
Matheus Eduardo
Vinte anos de muito amor pelo futebol e pelo mais alto nível do esporte bretão. Jornalismo e, nas horas de fanatismo, torcedor de Atlético Mineiro e Liverpool