O Esporte Clube Novo Hamburgo não era apontado como candidato ao título. No Rio Grande do Sul, desde 2000 um clube do interior não vencia a competição estadual, quando o Caxias conquistou o feito. Passados 17 anos, um planejamento certeiro com as poucas cifras disponíveis, uma equipe madura, um time bem treinado e jamais apavorado conseguiu repetir a façanha e ficar com o caneco. O Anilado do Vale, com 106 anos de existência, carrega pela primeira vez a faixa de Campeão Gaúcho. E com todos os méritos.

O time treinado por Beto Campos arrancou de maneira sensacional no início da competição, acumulando vitórias consecutivas e chegando a abrir diferença aos demais na liderança. A ponta na tabela foi mantida durante toda a fase de classificação. O Novo Hamburgo terminou em primeiro e levou a vantagem de decidir em casa nos mata-matas. Nas quartas de final, passou pelo São José, com duas vitórias. Pela frente, mais um duelo diante do Grêmio, equipe com fome pela conquista. Mas o Anilado do Vale novamente não se apavorou. Na fase inicial, as equipes haviam empatado em 1 a 1. Pelas semifinais, o placar dos empates se repetiu na Arena e no estádio do Vale. Nos pênaltis, o time de Beto Campos passou para grande final.

O desafio do Novo Hamburgo mais uma vez era imenso, colossal. O Inter carregava a sequência de seis títulos consecutivos no Rio Grande do Sul. O Nóia, por sua vez, buscava o seu primeiro na história. Após passar o aniversário de 106 anos, a grande oportunidade. No estádio Beira-Rio, esteve na frente do marcador por duas vezes, explorando sua arma da bola aérea, que já havia funcionado diante do Grêmio. O Inter buscou a igualdade e o jogo terminou em 2 a 2. Como o critério do gol qualificado não vale na final, a decisão ficava para o segundo jogo. Qualquer novo empate levaria aos pênaltis.

Entre um duelo e outro, a difícil missão de sair do estádio do Vale, local onde o Novo Hamburgo se manteve invicto em casa. Uma cláusula no regulamento do Campeonato Gaúcho exigia que o estádio da final comportasse ao menos 10 mil torcedores, isto somente por se tratar de um adversário da dupla Gre-Nal. Logo, o estádio que foi casa do time durante o torneio e recebeu o Grêmio na semifinal, não poderia ser utilizado. Com uma média de público bastante abaixo, o Novo Hamburgo não tinha porque apresentar essas condições, até tentou a liberação às pressas através de arquibancadas móveis, mas os laudos não acomodaram as exigências a tempo. A final foi para Caxias do Sul, novamente com o Inter a ter mais torcedores presentes.

(Foto: Adilson Germann / E.C. Novo Hamburgo)

Mesmo nessa desvantagem de atuar longe de seus domínios, o time de Beto Campos demonstrou todos seus atributos vistos durante a campanha: organização, comprometimento, inteligência tática e maturidade. Até saiu na frente em gol contra de Ernando. Rodrigo Dourado empatou para o Inter no segundo tempo. Somando mais um empate diante da dupla Gre-Nal, o quinto em seis jogos na competição, o Nóia conseguiu novamente levar aos pênaltis. Contando com a má pontaria dos colorados e mais frieza e concentração para converter os seus, o título de campeão gaúcho fica em Novo Hamburgo na vitória por 3 a 1.

Campanha do Novo Hamburgo:

17 jogos
9 vitórias
6 empates
2 derrotas
26 gols marcados (melhor ataque)
65% de aproveitamento

Pela primeira vez na história, o Anilado coloca a medalha de ouro e a faixa no peito. Uma campanha épica, pois é a primeira vez que um clube do interior elimina Grêmio e Internacional na mesma edição. O jejum dos demais clubes está quebrado. O Novo Hamburgo de Matheus; Léo, Julio Santos, Pablo e Assis; Amaral, Jardel, Preto e Juninho; Branquinho e João Paulo, dos guerreiros do campeonato todo e da final, é o novo campeão. Respeitem o interior, pois ele vive!