O Paysandu Sport Club divide o posto de maior campeão da Série B com Coritiba, Goiás, Paraná Clube e Palmeiras. Cada um tem dois títulos. O clube de Belém do Pará conquistou a segunda divisão do Brasileirão em 1991 e 2001. O rendimento é louvável por si só e merece maior valor quando se leva em conta que o Papão é sediado na região mais marginalizada do futebol brasileiro - até hoje, o Norte do Brasil só teve a dupla Remo e Paysandu. O escrete bicolor tem grande relevância regional e uma torcida de massa, é verdade, mas carece de uma melhor distribuição de renda entre os clubes a nível nacional para competir em condições mais igualitárias com seus adversários.

Depois de um início de década promissor, com um título da Segundona, uma Copa dos Campeões, uma campanha memorável na Libertadores - com presença no mata-mata e até vitória sobre o Boca Juniors no caldeirão de La Bombonera - e participações frequentes na Série A, o Paysandu declinou no final dos anos 2000, chegando a parar da Série C - caiu em 2006, mais precisamente.

Livrou-se do inferno em 2012, depois de duas temporadas aquém do desejado e de três anos batendo na trave. Contudo, fez o famoso "bate e volta" no ano seguinte. Não demorou a conquistar um novo acesso ao segundo escalão. Em 2014, no ano do seu centenário, foi vice-campeão da Terceirona - o Macaé ficou com a taça - e, desde então, tem sido regular na Série B. Brigou pelo acesso à elite do Campeonato Brasileiro em 2015 - certame o qual não disputa desde 2005 -, mas perdeu fôlego na reta final. Em 2016, ano da inédita conquista da Copa Verde - sobre o Gama -, fez uma campanha de altos e baixos: chegou a flertar com o rebaixamento, porém terminou no meio da tabela.

Escalação

O time-base do Papão da Curuzu na temporada 2017 é formado por: Emerson; Ayrton, Gilvan, Perema, Hayner; Rodrigo Andrade, Wesley, Augusto Recife; Leandro Carvalho, Alfredo e Bérgson.

Importante sublinhar: o elenco também conta com jogadores experientes como o volante Ricardo Capanema (32 anos; no Paysandu desde 2012) e o meia Daniel Sobralense (34 anos; andarilho do futebol nordestino e sueco).

Destaque: Bérgson

Bérgson é o artilheiro do Paysandu na temporada, com 10 gols (Foto: Fernando Torres/Paysandu)

O atacante Bérgson tem apenas 26 anos, mas já é um jogador com muita rodagem. Iniciou sua trajetória no futebol na base do Internacional, porém "virou a casaca" e ascendeu ao profissionalismo no Grêmio, em 2009. Coleciona passagens pelo futebol brasileiro (Ypiranga de Erechim, Vila Nova, Juventude, Portuguesa, Chapecoense e Náutico), coreano (Suwon Bluewings e Busan IPark) e português (Sporting Braga B).

Depois de sair desprestigiado do Náutico que fracassou na luta pelo acesso à Série A em 2016, Bérgson vem juntando os cacos e dando a volta por cima no Papão. Acumula 10 gols na temporada, incluindo os dois que garantiram ao time da Curuzu o 47º título estadual frente ao arquirrival Remo. O jogador foi o artilheiro do Campeonato Paraense, com nove gols. Tem, ainda, um gol na Copa Verde, competição cujo título vem sendo disputado entre o time do Pará e o Luverdense, do Mato Grosso - os matogrossenses venceram a ida por 3 a 1, na Arena Pantanal; os últimos 90 minutos serão jogados na próxima terça-feira, no Mangueirão.

Os números falam por si só: Bérgson caiu nas graças da torcida e vem sendo o grande destaque do Paysandu na temporada 2017.

Fique de olho: Leandro Carvalho

Leandro Carvalho (à esquerda) promete infernizar muitas defesas na Série B (Foto: Divulgação/Paysandu)

Revelado nas categorias de base do Paysandu, Leandro Carvalho (22 anos) atua na ponta direita e é o companheiro de Bérgson no ataque bicolor. Mesmo muito jovem, é titular absoluto da equipe e tem a confiança do técnico Marcelo Chamusca. É um jogador versátil e habilidoso. Boa parte das jogadas da equipe passa pelos pés de Leandro. O atacante adquiriu experiência após empréstimos ao Penapolense e à Tuna Luso e espera usá-la em prol do grupo na Segundona.

Técnico: Marcelo Chamusca

Marcelo Chamusca chegou no início da temporada, para substituir Dado Cavalcanti, e iniciou sua era no Papão com um título do Campeonato Paraense (Foto: Fernando Torres/Paysandu)

Nome de longa data como treinador das categorias de base e auxiliar técnico do futebol profissional, Marcelo Chamusca ingressou na área técnica recentemente, em 2012, quando aceitou o desafio de guiar o Vitória da Conquista. Já passou por Salgueiro, Atlético-GO, Sampaio Corrêa, Fortaleza e Guarani.

Embora a carreira como treinador profissional seja curta, as campanhas de destaque não são poucas. Em 2013, levou o Carcará à Série C após superar Nacional/AM e Plácido de Castro/AC em eliminatórias emocionantes. Conquistou o Campeonato Cearense de 2015 pelo Leão do Pici. Em 2016, levou o Bugre à Série B, tendo como ponto alto da campanha - que rendeu ao time de Campinas o vice-campeonato da Série C - a memorável classificação contra o ABC na semifinal. Naquela ocasião, o Guarani perdera a ida, no Frasqueirão, por 4 a 0, e reverteu a desvantagem com uma incrível goleada de 6 a 0 no Brinco de Ouro. Com poucos meses de trabalho no Papão, já conquistou um Campeonato Paraense.

A filosofia de jogo de Chamusca consiste em transições rápidas da defesa para o ataque e em jogadas construídas com passes curtos e rápidos, os quais visam confundir o adversário.

Sua experiência na base o ensinou a valorizar o trabalho de formação de jovens talentos. Não à toa, oito integrantes do elenco bicolor são pratas-da-casa: o goleiro Paulo Ricardo, o zagueiro Pablo, o volante Rodrigo Andrade, os meias Marquinho e André e os atacantes Will, Carlos Neto e Leandro Carvalho.

Marcelo é irmão de Péricles Chamusca, campeão da Copa do Brasil de 2004 pelo Santo André e vice-campeão da mesma competição em 2002, pelo Brasiliense.

Estádios: Curuzu e Mangueirão

Curuzu, a casa do Papão (Foto: Fernando Torres/Paysandu)
Curuzu, o caldeirão do Papão (Foto: Fernando Torres/Paysandu)

O Paysandu pode dizer que tem duas casas. Uma para chamar de sua; a outra serve como "salão de festas".

O Estádio Leônidas Sodré de Castro, a "Curuzu", é de propriedade do clube e tem capacidade para 16.200 pessoas. A proximidade da torcida com o gramado e a arquitetura acanhada da praça esportiva tornam o estádio um verdadeiro caldeirão. Foi inaugurado em 14 de junho de 1914, com um Re-Pa vencido pelo Remo por 2 a 1.

Por sua vez, o Estádio Jornalista Edgar Augusto Proença, o "Mangueirão", é o templo do futebol paraense. Palco de lindas festas das torcidas de Paysandu e Remo, bem como de partidas de grande porte dessas equipes, o Mangueirão surgiu do desejo do então governador do Pará, Alacid Nunes. Foi inaugurado em 4 de março de 1978, numa goleada de 4 a 0 da Seleção Paraense (formada por jogadores do Trio de Ferro do Estado: Paysandu, Remo e Tuna Luso) sobre a seleção do Uruguai por 4 a 0.

Mangueirão, o templo do futebol paraense (Foto: Fernando Torres/Paysandu)

Propriedade do Governo do Estado do Pará, o estádio passou por uma reforma entre 2000 e 2002, tendo sido posteriormente reinaugurado.

Posição em 2016

A temporada 2016 do Paysandu Sport Club começou com dois títulos e terminou com a permanência na Série B (Foto: Fernando Torres/Paysandu)

Conforme já foi relatado, o desempenho do Papão da Amazônia na última edição da Série B foi irregular. O escrete ficou na 14ª colocação, com 11 vitórias, 16 empates (número o qual corresponde a quase um turno inteiro! É muito empate) e 11 derrotas. Anotou 40 gols e foi vazado 44 vezes.

Dois treinadores passaram pela temporada 2016 do Paysandu: Dado Cavalcanti e Gilmar Dal Pozzo - descontando, claro, o período em que Rogerinho Gameleira assumiu o comando interinamente.

Dado conquistou o Campeonato Paraense (de forma invicta) e a Copa Verde no primeiro semestre. Contudo, não resistiu ao início aquém do desejado e caiu na sétima rodada, após derrota de 3 a 1 para o Náutico em plena Curuzu.

Dal Pozzo estreou com uma vitória caseira por 1 a 0 sobre o Avaí, na nona jornada. Durou até a 18ª rodada, momento em que o time belenense empatou em 2 a 2 com o Vila Nova, também em domínios bicolores. Durante esse período, amargou uma eliminação para o Juventude na Copa do Brasil, com empate sem gols no Alfredo Jaconi e derrota de 2 a 1 na Curuzu. Ao todo, foram quatro vitórias, oito empates (!) e uma derrota em 13 jogos.

Eis que Dado Cavalcanti retorna. Na reestreia, triunfo de 2 a 0 contra o Ceará, em casa, pela 20ª rodada. Ficou até o fim da competição. Em dezembro, foi chamado para substituir Givanildo Oliveira no Náutico. E Marcelo Chamusca desembarcou em Belém.

Expectativa para 2017

O atual bicampeão paraense irá para o terceiro ano seguido na segunda divisão do Campeonato Brasileiro (Foto: Fernando Torres/Paysandu)

Mesmo que seja uma das grandes forças históricas da Série B, o Paysandu promete adotar a postura de "pés no chão" para a Série B. A competição promete um nível equilibrado de competitividade, panorama reforçado pelas presenças do gigante Internacional, de tradicionais lutadores pelo acesso como América-MG, Ceará, Figueirense, Goiás, Náutico e Santa Cruz, de emblemas respeitáveis como ABC, CRB, Criciúma, Guarani, Juventude, Paraná Clube, Vila Nova, Londrina e Brasil de Pelotas e de forças emergentes como o Luverdense.

O Bicolor se reforçou em todos os setores do campo para a competição nacional. Vieram o laterais-esquerdos Jean (ex-CRAC-GO) e Peri (ex-Coruripe, Sport Atalaia, Salgueiro, Chã Grande, Vitória-PE, Sport, CRB e Ituano), o zagueiro Gualberto (ex-Palmeiras, ABC, Oeste, Penapolense, América-MG, Criciúma e Botafogo-SP; esteve no Paysandu em 2015 e 2016), o meia-atacante Fernando Gabriel (ex-São Caetano, Internacional, Paraná Clube, Criciúma, Figueirense, Santa Cruz e Novorizontino), os atacantes Marcão (ex- Ipitanga-BA, Atlético-GO, Atlético-PR, América-MG, Figueirense, Bahia, Goiás e Botafogo-SP), Welinton Júnior (ex-Grêmio, Coritiba, Goiás, CRB e Mirassol; vem emprestado pelo Joinville; vestiu a camisa bicolor em 2015) e Tiago Mandi (ex-Águia de Marabá).

A expectativa em torno do Papão é uma campanha de permanência. Não tem, em teoria, um elenco postulante à briga contra o rebaixamento. Por outro lado, precisa de muito entrosamento e muito foco para brigar por um objetivo maior - no caso, o acesso à Série A.