Nos últimos tempos, em um futebol que pouco apresenta ídolos, um grande nome da história do Cruzeiro é o meia Walter Montillo. O argentino anunciou aposentadoria nesta quinta (29), no começo da tarde, aos 33 anos, após passagem frustrada pelo Botafogo.

Os problemas pessoais e as lesões que o impediram de dar sequência à sua carreira vestindo a camisa do Botafogo fizeram com que Montillo rescindisse seu contrato com o alvinegro, e também colocasse um ponto final na carreira de jogador de futebol. Detalhe que o meia recebeu a camisa 7, histórica com a camisa botafoguense e que pertenceu a nomes como Garrincha, Jairzinho e Túlio Maravilha. 

Para o Cruzeiro, Montillo chegou como desconhecido e não demorou para se tornar ídolo da torcida celeste. Contrariando a ideia de muitos, que para ser ídolo é necessário também ganhar títulos, o meia argentino conquistou apenas um Campeonato Mineiro, em 2011, e chegou ao vice-campeonato brasileiro no ano anterior. Confira aqui na VAVEL Brasil um pouco da história de Walter Montillo com a camisa cinco estrelas. 

Montillo se despediu do Botafogo e do futebol nesta terça (Foto: Satiro Sodré/SSPress/Botafogo)

Apresentado no meio de 2010, Montillo mostrou suas qualidades logo na estreia

Walter Damián Montillo foi anunciado pelo Cruzeiro no dia 2 de julho de 2010, aos 26 anos, após passagem destacada pelo Universidad do Chile durante a Copa Libertadores da América do mesmo ano. O valor pago foi de 3,5 milhões de dólares (R$6,2 milhões na época). No entanto, mesmo com a contratação fechada, uma cláusula contratual impedia o jogador de se transferir para o time celeste de forma imediata. 

Foto: Divulgação/Vipcomm/Cruzeiro

Montillo era tão importante para a Universidad do Chile, que os chilenos só permitiram a ida dele para a agremiação cruzeirense caso ele ainda atuasse pela La U nas semifinais da Libertadores e, caso se classificasse, também pela decisão. O Cruzeiro aceitou o pedido. A equipe chilena foi eliminada pelo Chivas-MEX.

O meia começou a treinar pelo Cruzeiro pouco mais de um mês após sua apresentação, que se deu oficialmente no dia 6 de julho, depois de realizar exames médicos na Toca da Raposa 2. E a estreia estava marcada para o dia 15 de agosto, contra o São Paulo, no Morumbi. Embora o resultado não tenha sido a vitória - o jogo ficou 2 a 2 -, Montillo foi elogiado, movimentou-se, finalizou a gol, e deu assistência para o gol de Thiago Ribeiro, o segundo do time celeste. Após a partida, o argentino definiu seu debute com a nova camisa. 

"Para uma primeira partida, acho que fui bem. Tive o apoio dos companheiros e estou conseguindo me adaptar bem. Claro que ainda preciso trabalhar e me ambientar mais, mas foi um bom início", declarou.

Primeira temporada de Montillo: gols, assistências e premiações

A primeira temporada de Montillo no Cruzeiro foi maior que as expectativas da torcida, do clube e do próprio jogador, que até o anúncio de sua contratação era totalmente desconhecido do público brasileiro. 

Foto: Divulgação/Vipcomm/Cruzeiro

Com as arrancadas em velocidade, passes precisos e gols, Montillo ajudou o Cruzeiro a fazer uma grande campanha no Brasileirão. Comandado por Cuca, o time celeste chegou ao vice-campeonato brasileiro. O título só foi perdido devido à vitória do Fluminense por 1 a 0 em cima do rebaixado Guarani, de Campinas. Os cruzeirenses fizeram sua parte ao vencer o Palmeiras por 2 a 1.

Individualmente, o Brasileirão para Montillo foi algo acima da média. Após o campeonato, ele foi eleito o melhor jogador da competição, levando o Troféu Armando Nogueira. Logo em seguida, ganhou a Bola de Prata, como um dos melhores meias do nacional. 

Segunda temporada de Montillo: mesmo na crise, o meia se destaca

O ano de 2011 prometia muito. O Cruzeiro seguia a passos largos para realizar um grande temporada e brigaria como nunca pela conquista da Copa Libertadores da América. O começo não poderia ter sido melhor. O placar de 5 a 0 sobre o Estudiantes-ARG, outrora algoz celeste na competição em 2009, enchia o torcedor de expectativas. 

Foto: EFE

Para elevar o espírito de vitórias do torcedor celeste, a campanha na Libertadores não deixava dúvidas de que o título viria. Melhor time da fase de classificação com 16 pontos; melhor ataque com 20 gols em seis jogos; e melhor defesa, com apenas um gol sofrido. O adversário seria o Once Caldas-COL, pior segundo colocado (16º) entre todos os classificados para as oitavas de final.

No entanto, os rumos não seguiram como o esperado. Mesmo com a vitória no primeiro jogo, por 2 a 1, em Manizales, Colômbia, no jogo de volta, em Sete Lagoas, o Cruzeiro não foi o mesmo e perdeu por 2 a 0, sendo eliminado da Libertadores prematuramente.

Mesmo com a conquista do título mineiro em cima do Atlético, com muita superação, o time era alvo de críticas por parte dos torcedores, que respingavam mais ainda em Montillo, craque do time, que não repetira suas melhores atuações desde então. 

Foto: Divulgação/Vipcomm/Cruzeiro

No decorrer do Brasileirão, Montillo se sobressaía perante a péssima atuação do Cruzeiro no torneio nacional. O meia chegou a ser artilheiro por várias rodadas, mas a queda técnica do time afetou o argentino, que também caiu de produção. Na última rodada, o time celeste precisaria vencer o Atlético-MG, seu rival, para evitar o inédito rebaixamento à segunda divisão nacional. Montillo, suspenso pelo terceiro cartão amarelo, não jogou. Mesmo assim, acompanhou a vitória cruzeirense por 6 a 1 e o alívio em permanecer na elite do Brasileirão.

Ao final da temporada, Montillo ganhou o Troféu Armando Nogueira pela segunda vez. Desta feita, como terceiro melhor jogador do Brasileirão, atrás apenas dos atacantes Neymar e Fred. 

Terceira e última temporada: Montillo escreveu seu nome na história do clube

Montillo começou a temporada 2012 sendo fortemente sondado pelo Corinthians. Após o título brasileiro, o Timão queria tirar o meia do Cruzeiro e chegou a oferecer um alto valor pelo atleta: 15 milhões de euros. Mesmo assim, o jogador ficou na Toca da Raposa 2.

Após o começo da temporada, Montillo seguiu marcando história no clube. Ao marcar dois gols em cima do Democrata, atingiu a marca de 30 gols em 81 jogos com a camisa do Cruzeiro, passando Aristizábal, que tinha 28. O meia estava atrás apenas de Fernando Carazo, artilheiro do time nos anos 40, com 44 gols marcados em três passagens nas décadas de 1920, 1930 e 1940.

Foto: Divulgação/Cruzeiro

Em março, o meia renovou contrato com o Cruzeiro até 2015, com multa rescisória de 80 milhões de euros. Tamanha cifra poderia garantir o jogador até o fim de seu contrato. Montillo seguiu com boas atuações, mas o time celeste passara em branco no Campeonato Mineiro e na Copa do Brasil. 

No dia 18 de julho, Montillo chegou a 100 jogos pelo Cruzeiro, confirmando o nome dele como um dos principais ídolos celestes dos últimos tempos. Mesmo realizando campanha modesta no Brasileirão, uma reformulação era programada, principalmente, após a contratação de Alexandre Mattos como novo diretor de futebol. 

Montillo sempre foi considerado destaque pelo Cruzeiro e os olhos do mercado brasileiro e internacional apontavam o jogador como grande contratação. No entanto, era difícil tirá-lo do time celeste. Para executar tal façanha, era muito dinheiro e audácia. 

O adeus: Montillo deixa o Cruzeiro e vai para o Santos

Ainda com muitos times pretendendo o jogador, o Santos era quem mais insistia por Montillo. Mesmo segurando o meia para a temporada 2013, as investidas do time paulista em cima do jogador e de seu empresário, Sérgio Irigoitia, pareciam colocar o meia em outro clube. A negociação durou o mês de dezembro quase todo e teve seu desfecho nos primeiros dias de 2013.

No dia 3 de janeiro de 2013, Montillo foi anunciado como novo jogador do Santos. As cifras chegavam a 6 milhões de euros (R$ 16,2 milhões na época), além do retorno do volante Henrique, que atuava no clube paulista desde 2011.

A saída foi conturbada. O presidente do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares, dizia que a saída de Montillo se deu após pedidos do atleta para deixar o time celeste. Tal declaração colocou o meia como vilão da história, haja vista que Montillo sequer se despediu da torcida cruzeirense.

Dois meses depois, Montillo deu outra versão da história à revista Placar, em março de 2013, dizendo que saiu porque o Cruzeiro precisava da venda do jogador para o montar o time da temporada.

"O torcedor ficou bravo, me chamou de mercenário, mas a verdade é que o presidente (Gilvan de Pinho Tavares) precisava me vender. Agradeço ao Cruzeiro, um grande clube que me deu a oportunidade de vir para o Brasil. Mas não tenho o que explicar ao torcedor. O presidente falou muitas coisas que não foram certas quando eu saí, para botar a torcida do lado dele. Mas eu não preciso disso. Minha consciência está tranquila", explicou.

Em 2015, o Cruzeiro negou qualquer possibilidade de retorno de Montillo ao time celeste. Na época jogando pelo Shandong Luneng-CHI, o meia foi oferecido à diretoria cruzeirense, que negou qualquer chance de retorno do jogador devido ao que se passou com o atleta e seu empresário, Sergio Irigoitia, durante as negociações para liberação do então camisa 10 da Raposa ao Santos.

"Montillo é especulação. Teve bom momento, mas não se encaixa mais no perfil do Cruzeiro. Nós estamos buscando atletas jovens, que nos ajudem na Libertadores e que podem render retorno aos investimentos", declarou o presidente Gilvan de Pinho Tavares.

"A história não mente e jamais vai mudar"

Embora a saída de Montillo tenha sido conturbada, os gols, as jogadas e os momentos de alegria que o meia proporcionou ao Cruzeiro ficarão na história. Os momentos ultrapassaram os limites do campo e chegaram à vida pessoal do jogador.

Em 2011, Santino, o filho mais novo de Montillo, passou por uma cirurgia para correção de uma válvula de seu coração. Para piorar, o menino chegou a ter pneumonia durante o processo, tornando-o ainda mais delicado. Na época, com um ano apenas, Santino chegou a ficar na UTI do Hospital Biocor, em Belo Horizonte, mas se recuperou bem. Durante todo o momento de aflição pessoal do meia, ele seguiu jogando pelo Cruzeiro. 

Foto: Divulgação/Vipcomm/Cruzeiro

Após o final do processo cirúrgico e da melhora de Santino, Montillo agradeceu o apoio e as palavras de carinho dos jogadores e da torcida do Cruzeiro.

"Não tenho nem palavras para descrever a alegria que senti vendo tantas pessoas mandando mensagens de carinho e força para meu filho Santino. Apesar de novinho, ele é um guerreiro e tenho certeza de que terá uma ótima recuperação. Foi um momento de apreensão, mas felizmente já passou e ele está muito bem cuidado. Meus companheiros de Cruzeiro foram fantásticos comigo. Estiveram sempre ao meu lado e me deram muita força para que eu continuasse entrando em campo nas últimas partidas", ressaltou. 

Por momentos como este é que a passagem de Montillo pelo Cruzeiro ficou marcada para sempre, e o meia ficou registrado como um dos ídolos recentes da história do clube celeste. 

Santino esteve com o pai em sua despedida dos gramados nesta terça (Foto: Satiro Sodré/SSPress/Botafogo)

Ficha técnica

Nome: Walter Damián Montillo

Nacionalidade: Lanús, Argentina.

Data de Nascimento: 14 de abril de 1984 (33 anos)

Jogou no Cruzeiro: 2010 a 2012

Jogos: 122

Gols: 36

Assistências: 36

Títulos: Campeonato Mineiro 2011