Barcelona e Chapecoense vão travar um dos confrontos mais esperados de 2017 nesta segunda-feira (7), às 15h30. As equipes se enfrentarão no Camp Nou no tradicional torneio de pré-temporada dos blaugrana, o Troféu Joan Gamper. Durante a partida amistosa, diversas homenagens serão feitas para honrar a memória de todos os envolvidos na tragédia catarinense em 2016.

Mas o que significa esse troféu? Aliás, de onde vem esse nome e o que representa? A VAVEL Brasil resgatou a explicação para isso tudo na história do torneio, que é inspirado em no fundador do Barcelona, um dos maiores clubes do planeta.

Quem foi Joan Gamper?

Nascido Hans-Max Gamper Haessig em 1877 na pequena cidade de Winterthur, na Suíça, o empresário jamais poderia ter projetado sua importância para o futuro do futebol em Barcelona. Durante sua infância, Gamper sempre demonstrou muita aptidão e interesse pelos esportes, como ciclismo e atletismo - mas sua grande paixão era mesmo ter a bola nos pés.

Joan chegou a ser jogador profissional de futebol, vestindo a braçadeira de capitão do FC Basel. Alguns anos depois, transferiu-se para o FC Excelsior e foi aí que sua história começou. Por discordâncias com a diretoria, o então jogador decidiu deixar o Excelsior para fundar seu primeiro clube, o FC Zurich

Em viagens pela Europa - Joan era, afinal, um homem de negócios - Gamper chegou à Barcelona e decidiu firmar residência na cidade, pela qual estava "apaixonado". Por motivos fonéticos, Hans Gamper passou a se chamar Joan Gamper na Catalunha, nome pelo qual é conhecido até hoje. 

Assumindo os cargos de contador em uma empresa ferroviária e de correspondente esportivo em um jornal local, o suíço publicou uma nota no periódico buscando companheiros para montar um time para disputar torneios de futebol. Com o decorrer do tempo, no entanto, ele e seus parceiros fizeram muito mais que isso. No dia 29 de novembro de 1899, surgiu o projeto de "més que un club" - surgiu o FC Barcelona.

Gamper, de chapéu, dialoga com os atletas do recém-fundado FC Barcelona (Foto: Reprodução)
Gamper, de chapéu, dialoga com os atletas do recém-fundado FC Barcelona (Foto: Reprodução)

Jogador e capitão da equipe do recém-fundado Barcelona, tendo marcado mais de 100 gols em quatro anos, Joan assumiu a presidência do clube pela primeira vez em 1908 (no período 1908-1925, o suíço cumpriu cinco mandatos na presidência dos blaugrana). Simpatizante da causa separatista na Catalunha, Gamper sofreu diretamente com o golpe de Estado de Primo de Rivera na Espanha.

Por divergências políticas, o suíço foi afastado da presidência do clube e enviado ao exílio. As condições para seu retorno incluíam especificamente que Gamper não assumisse quaisquer cargos no Barcelona. A história de Joan Gamper chegou ao fim com um tiro de pistola - o visionário tirou sua própria vida devido a problemas institucionais e econômicos no ano de 1930.

Joan Gamper, Chapecoense e o simbolismo por trás do futebol

Sem poder dar o nome de Joan Gamper ao estádio Camp Nou por disputas políticas com o ditador Francisco Franco, em 1957 - Gamper ia contra todos os ideais de Franco: era estrangeiro, protestante, liberal e simpatizante do separatismo catalão - o Barcelona decidiu homenagear seu fundador com o tradicional torneio de pré-temporada. A competição amistosa, que ocorre anualmente desde 1966, é o grande marco inicial da temporada futebolística na Espanha.

Seguindo com os ideais simbólicos por trás do torneio, o adversário do Barcelona em 2017 será a nossa Chapecoense. Dois dias após a queda do voo 2933 da LaMia, que tirou a vida de 71 pessoas - jogadores, comissão técnica, jornalistas e tripulantes - às vésperas da final da Copa Sul-Americana, o Barcelona convidou o Verdão do Oeste para a disputa do Joan Gamper neste ano. O intuito do amistoso é prestar mais uma homenagem e celebrar a memória de todos que nos deixaram na triste tragédia do clube catarinense.

A Chapecoense é a nossa esperança por um recomeço (Foto: Nelson Almeida/AFP/Getty Images)
A Chapecoense em 2017 nos traz o simbolismo do recomeço (Foto: Nelson Almeida/AFP/Getty Images)

Vivemos em tempos sombrios. Ao ler os jornais, as notícias nos trazem fome, miséria, catástrofes, guerras. O futebol, o "ópio do povo", torna-se refúgio; a bola nos pés, na verdade, carrega muito mais significado do que percebemos. Uma das maiores (senão a maior) expressão popular de todos os tempos, o futebol explica o mundo, nosso jeito de viver em sociedade e explica, também, nossa posição frente aos obstáculos da vida. O Troféu Joan Gamper tem como objetivo prestar homenagens - que o façamos, então.

Ao ver Alan Ruschel e a Chapecoense em campo nesta segunda-feira, que lembremos das vítimas. Que recordemos também de todos os seus entes queridos que por aqui ficaram, carregando a perda e a dor. Que pensemos no papel que o futebol desempenha em nossas vidas e sociedade. E, por fim, que saibamos ler as mensagens de solidariedade que o esporte nos envia - mensagens que valem muito mais que qualquer resultado dentro de campo.