Chegar em um país novo, do qual você nunca morou, é sempre difícil para qualquer ser humano. Ficar longe da família, aprender uma nova língua, ter que refazer amizades, se envolver numa cultura nova, aprender novos costumes – e, às vezes, esquecer alguns de casa. É complicado para qualquer pessoa com alguma experiência na vida, sendo ainda mais complicado para jovens. 

No futebol, porém, isso não é diferente. Roberto Firmino e Gabriel Jesus aterrissaram na Inglaterra com 23 e 19 anos, respectivamente. O primeiro foi para o Liverpool a pedido de Brendan Rodgers, na época técnico da equipe, mas acabou se fazendo no sistema de contra-pressão de Jürgen Klopp, que assinou com os Reds três meses depois do brasileiro chegar à terra dos Beatles. O segundo, por sua vez, não completou sequer um ano em Manchester, jogando sob Pep Guardiola no Manchester City e já brilha igualmente.

Firmino já estava mais acostumado com adaptação em um país e uma cultura diferente, vide sua passagem pelo Hoffenheim. O atleta teve um início um pouco questionável, tendo a torcida no seu pé às vezes. Mas, com o tempo, a filosofia de Klopp foi se implementando, e a velocidade, força de vontade, noção de posição acabaram por lhe render boas atuações em campo, o que acabou aumentando os seus números. O camisa 9, logo em sua primeira temporada, marcou dez gols e distribuiu sete assistências na Premier League.

Jogar na Champions League deve ajudar ainda mais na evolução constante de Firmino (Foto: John Powell / Liverpool FC via Getty Images)
Jogar na Champions League deve ajudar ainda mais na evolução constante de Firmino (Foto: John Powell / Liverpool FC via Getty Images)

Na segunda época vestindo a camisa da equipe vermelha de Merseyside, as estatísticas no certame foram bem consistências, mantendo o número de assistências e fazendo um tento a mais. Mas, no futebol moderno, gol é apenas a fase final do build-up, tendo outras fases até chegar ao objetivo principal.

E, aí, Firmino se encaixa e muito bem nesse sistema de contra-pressão do treinador alemão, que consiste na tentativa de roubar a bola com maior vigor quando se perde, muitas vezes fazendo-a no campo de ataque. É aí que a supracitada velocidade, força de vontade e noção de espaço são bem utilizados. 

Juntando essa consistência, filosofia cada vez mais implementada num grupo de jogadores que estão juntos há algum tempo – fora as inevitáveis chegadas verão após verão – e a evolução natural no seu futebol, conforme o tempo passa iria chegar um momento que o brasileiro iria 'deslanchar'. E essa parece ser a temporada da vez. Em cinco jogos disputados (Premier League e Uefa Champions League), ele já deu três passes para dois gols e marcou outros três, incluindo um de cada stats contra o Arsenal no último domingo (27).

Não muito longe de Liverpool, Gabriel Jesus tem tudo para seguir passos importantes para se tornar um dos maiores atacantes do futebol mundial. O ex-Palmeiras chegou ao Manchester City em janeiro e não esperou muito para conseguir brilhar na terra da rainha. Infelizmente uma lesão atrapalhou uma fase que tinha tudo para já deslanchar o brasileiro. Mas, ao fim da temporada, conseguiu finalizar com sete gols e quatro assistências em dez jogos disputados (sendo dois vindo do banco). Dá mais pontos que partidas feitas. 

Alô, é do céu? Aqui é Gabriel Jesus e eu estou ligando para dizer que você é o meu limite; brasileiro tem tudo para brilhar por anos na Europa (Foto: Victoria Haydn / Getty Images)
"Alô, é do céu? Aqui é Gabriel Jesus e eu estou ligando para dizer que você é o meu limite"; brasileiro tem tudo para brilhar por anos na Europa (Foto: Victoria Haydn / Getty Images)

Nesta época, marcou apenas um gol até então nos três embates que participou. Porém, seu treinador, Pep Guardiola, nunca escondeu seu entusiasmo para cima de Jesus. Em entrevista realizada ainda em 2016/17, o catalão disse que "é ótimo contar com o camisa 9 da Seleção Brasileira", exaltando o posto conquistado pelo jogador antes de completar os 20 anos de idade. 

O que se dá para concluir é que um (Firmino) pode apresentar uma consistência em seu terceiro ano no campeonato mais disputado do mundo e ainda melhorar seus números, como tudo indica pelo início de temporada. Já o outro (Jesus) fará sua primeira época completa como jogador na Europa sob os olhares de um dos melhores treinadores da história. No fim das contas, quem ganha com isso é a Seleção Brasileira. E muito.