Assim como o esporte ao qual nasceu para se dedicar, o Sport Club Corinthians Paulista tem uma origem pouco mais nobre do que poderia aparentar em sua fundação, no bairro do Bom Retiro. Nascido na várzea, como a materialização do sonho de cinco operários, o 'Timão' na verdade encontrou sua inspiração em uma equipe inglesa chamada Corinthian-Casuals. 

Hoje quase varzeano, o Corinthian da Inglaterra tem muitas histórias para contar. Entre elas, a de como se tornou “o mais importante time amador do mundo”, como se autodenomina. 

Fundado em 1882 na cidade de Londres, o clube nasceu com o objetivo de reunir os maiores craques amadores da época para desafiar as grandes equipes profissionais recheadas de estrelas. Mesmo sem participar de torneios oficiais, os ingleses fizeram fama ao baterem os principais campeões do futebol britânico em seus jogos amistosos, e chegaram a serem considerados o melhor time do mundo graças a seus feitos.

O sucesso corinthiano então começou a se espalhar pelo mundo. Os triúnfos sobre poderosas equipes do país levaram 17 jogadores do modesto Corinthian a serem convocados para a seleção nacional até 1902 e, em suas excursões pela Europa, os londrinos acabaram se tornando referência por onde passaram, disseminando um futebol ofensivo e arrebatador.

Mesmo com a origem britânica, uma das marcas mais fortes deixadas pelo clube está localizada na Espanha; mais especificamente em Madrid. Fundado também no ano de 1902, o Real Madrid adotou desde seu nascimento o uniforme branco em homenagem ao Corinthian, por quem seus fundadores possuíam profunda admiração. 

Ao retornarem para a Inglaterra após passagens por diferentes países do continente porém, os londrinos encontraram um período de desafios pela frete. Acostumados às vitórias - não só nas partidas amistosas, mas também no Sheriff of London Shield, torneio disputado entre um clube amador e outro profissional anualmente -, os corinthianos se depararam com uma sequência de tropeços com os quais não estavam familiarizados. Entre 1901 e 1903 foi derrotado pelos profissionais Aston Villa, Tottenham e Sunderland, e só reencontrou o caminho vitorioso que o levou a fama no ano seguinte.

O regresso as glórias, no entanto, não poderia ter acontecido de melhor forma. Pela Sheriff of London Shield, os Casuals massacraram a equipe do Bury, na época campeã da FA Cup, por 3 a 1. Ainda em 1904, bateram o Derby County - vice-campeão do mesmo torneio - e, na sequência, foram os responsáveis pela maior derrota da história do Manchester United, vencendo os Red Devils pelo placar de 11 a 3.

Mesmo triunfante no início da década, o declínio corinthiano começava a dar seus primeiros sinais após tantos anos brilhantes desafiando gigantes. Com a aposentadoria de muito de seus craques e o profissionalismo cada vez mais enraizado na Inglaterra, o Corinthian passou a não ter mais atletas convocados para a seleção inglesa, e se viu em meio a mais uma sequência de derrotas para as grandes equipes do país.

Depois de promover excursões para a África e a América do Norte, na tentativa de manter seu sucesso apesar dos resultados negativos, o Corinthian ainda passou por grandes momentos em 1906, conquistando 14 vitórias e dois empates em 17 partidas durante as passagens pelos Estados Unidos e o Canadá. Pelos números, aquele é considerado pelo próprio clube o melhor time de toda a sua história, tendo estabelecido os expressivos placares de 19 a 0, 18 a 0, 12 a 0 e 11 a 1.

A filiação da equipe inglesa à Amateur Football Alliance porém, colocaria quase um ponto final à formula do sucesso construída desde sua fundação, já que os ingleses não poderiam mais disputar amistosos contra equipes profissionais. Alguns jogadores se desligaram do clube na sequência, e a nova excurção à África do Sul naquele ano não seria tão bem sucedida, resultando em cinco derrotas na campanha.

Foi em 1910 que então a equipe londrina decidiu cruzar o Atlântico rumo ao Brasil para mais uma de suas viagens. A primeira parada, no Rio de Janeiro, resultou em uma sequência de vitórias diante do Fluminense (então campeão carioca) por 10 a 1, um 8 a 1 na seleção local e 5 a 2 em um combinado de jogadores brasileiros. E em São Paulo o cenário não seria tão diferente: 2 a 0 na Associação Atlética das Palmeiras, 5 a 0 no Paulistano e 8 a 2 no SPAC, de Charles Miller.

E na passagem pela principal cidade do país foi onde o Corinthian deixou o maior legado de sua história. O esplendor do futebol apresentado diante dos paulistanos fez com que a equipe inglesa se tornasse objeto digno de homenagens para um quinteto de operários que trabalhavam na região do Bom Retiro, na capital, e que pretendiam fundar um clube 'para o povo'. Assim, no dia 1º de setembro daquele mesmo ano, surgia o Sport Club Corinthians Paulista.

O presente da equipe sediada em Londres, porém, em nada reflete o passado tão glorioso. Mesmo mantendo a tradição de elencos amadores, o Corinthian-Casuals de hoje disputa o equivalente à oitava divisão do campeonato inglês, competição em que todas as outras equipes são profissionais. Com um corpo formado por 142 sócios, o clube possuí apenas dois funcionários remunerados: a fisioterapeuta e um rapaz que trabalha no único bar do clube.

A última partida dos ingleses diante de uma equipe profissional foi justamente contra o Corinthians Paulista, no amistoso em 2015. Naquela oportunidade, o alvinegro paulistano bateu o Casuals pelo placar de 3 a 0 em plena Arena Corinthians, mas sem permitir que o espírito comemorativo da partida se dispersasse: em um ato comemorativo a história dos clubes, Danilo repetiu o gesto de Sócrates na primeira partida entre os "pai e filho", em 1988, e jogou pelo Casuals por alguns minutos.

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