Vinte e dois anos. 
Oito meses. 
Sete dias. 
E mais algumas horas. 

Esse foi o tempo exato que a nação corinthiana, como um todo, esperou até soltar o grito preso na garganta de campeão. Esse foi o intervalo de tempo que marcou o maior jejum de títulos vivenciado por toda a fiel. E, por falar em fiel, arrisco em dizer que foi exatamente toda essa conjuntura, em suas subjetividades, que reforçou ainda mais a forma com que os torcedores do Sport Club Corinthians Paulista chamam a si mesmos, afinal, só sendo muito fiel para permanecer ao lado do time em um momento de jejum de títulos.

No dia 13 de Outubro de 1977, Basílio pôs fim à maldição que fez com que uma geração inteira de corinthianos crescesse sem saber o que era ver seu time do coração campeão, afinal, o último título havia vindo em 1954 e, durante todo esse período, o Corinthians amargou derrotas dolorosas que foram muito bem recompensadas com o título em cima da Ponte Preta, na decisão do Campeonato Paulista daquele ano, tornando todos aqueles personagens imortais, desde jogadores, técnico, comissão técnica, jornalistas que, calorosamente, narraram aquela vitória com toda a emoção que ela merecia.

E se não for sofrido, não é Corinthians. O gol de Basílio foi a caricatura perfeita do que é ser Corinthians, do que é carregar o sangue alvinegro correndo sob as veias e fazendo bater forte o coração sofredor.

1977 significa a libertação de toda uma nação que, mesmo passando por um intervalo de vinte e dois anos sem títulos, não deixou de crescer, não teve sua imagem e sua história enfraquecidas – pelo contrário, sua história de persistência caracterizou o brasileiro que, mesmo com as adversidades, continuava persistindo em seus objetivos, sem cair de joelhos diante de qualquer obstáculo, assim como Timão. 1977 virou lenda, virou história, carrega um misticismo que vai além do número cabalístico em duplicata no ano. 1977 virou um símbolo de luta, persistência e garra de toda uma torcida, de toda uma nação. Além disso, 1977 virou inspiração.

É impossível falar dos títulos que seguiram 1977 sem citar a vitória sobre a Ponte Preta como inspiração, porque é claro a forma como todo o retrospecto ligado ao Campeonato Paulista daquele ano influenciou, de diversas formas, as futuras gerações alvinegras, ganhadoras de títulos e tão guerreira e fiel quanto a geração anterior – afinal, tivemos nosso calvário trinta anos depois com a queda para a segunda divisão e conquistamos, quarenta anos depois, o mesmo Campeonato Paulista, em cima da mesma Ponte Preta, marcando a reafirmação da tradição, uma renovação da fé corinthiana.