Jogos são constituídos de um acúmulo de lances. Nenhuma surpresa. São centenas de passes, dezenas de arremessos laterais, contáveis escanteios e faltas cometidas por uns e recebidas por outros. Mas alguns lances se diferem do habitual. Entram para história. Tamanha a dificuldade da execução ou a relevância para se chegar a uma vitória ou a um título. Assim foi a defesa de Marcelo Grohe diante do Barcelona de Guayaquil do Equador. O goleiro do Grêmio salvou o Tricolor no início do segundo tempo, em parada que pode ter mudado o rumo do time.

Luan marcou aos 7 minutos do primeiro tempo. O camisa 7 no seu minuto. Ainda na etapa inicial, Edilson cobrou falta recebida por Luan e aumentou a contagem. Excelente vantagem fora de casa na semifinal da Copa Libertadores. Porém, o início do segundo tempo foi diferente, com os equatorianos muito em cima, embalados, pressionando. O lance derradeiro ocorre no terceiro giro do cronômetro. Cruzamento da direita, a zaga tricolor falha e a bola se oferece para o atacante Ariel. Eis um ex-jogador colorado cara a cara contra o patrimônio gremista. Apenas Grohe poderia reagir e salvar a casa do Grêmio.

Mesmo surpreendido pela rapidez do lance e mesmo com o atacante estrangeiro de dentro da pequena área, Grohe acredita no lance, salta como dá, se estica, demonstra força para evitar que a bola passe. E ela não passa. Na sequência, ainda detém a pelota em seus domínios e a joga para fora para receber um atendimento médico. O replay passa. Passa e repassa enquanto o goleiro está caído. Mas ninguém entende a magnitude do feito. Uma defesa sem paralelo nos anos de acompanhamento ao Grêmio. Uma defesa que Grohe deve se esforçar e muito para relembrar algo semelhante. Uma defesa que garante a segurança da vantagem de dois gols na casa adversária.

Três minutos depois, o terceiro gol. O terceiro de um Grêmio que sonha o terceiro título de Libertadores. Edilson faz a jogada pela direita e Luan encaçapa sua segunda no jogo. 3 a 0. Graças a Grohe. Marcelo Grohe que é formado no clube, jamais virou as costas, aguentou o tempo de reserva, mesmo maturado para atuar. Esperou e foi recompensado com a Copa do Brasil de 2016. Não caindo dos céus, mas fruto de muito trabalho e dedicação ao Grêmio. Graças a ele, nos pênaltis contra o Atlético Paranaense, que o time seguiu na campanha e saiu vitorioso no ano anterior. E lá estava ele novamente, para salvar o Tricolor em que ele cresceu na Azenha e chegou ao Humaitá como primeiro goleiro da Arena.

O desejo de escrever é grande, mas é claro que somente o lance fala por si. A televisão usa e abusa do recurso do replay para demonstrar uma das defesas mais incríveis que os goleiros do Grêmio já praticaram. A raridade no conjunto de acreditar e protagonizar. E Grohe protagonizou o grande lance que fica marcado da noite de 25 de outubro de 2017. Revejam e sigam o debate se esse lance entra na galeria de maiores atacadas da história desse magnífico esporte.

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Sobre o autor
Henrique König
Escritor, interessado em Jornalismo e nas mudanças sociais que dele partem; poeta de gaveta.