A corneta e a crítica anda de mãos dadas com o futebol brasileiro. E a segunda maior torcida do Brasil faz isso como poucos e a campanha impressionante do sétimo título brasileiro teve o gosto doce da corneta calada.

Isso porque na reta final, quando o Timão arrancava para o título, a equipe visitou o Atlético-PR, em Curitiba, e fazia um jogo bem apático. Nos minutos finais, o esquecido e criticado Giovani Augusto recebeu pela esquerda e bateu cruzado, marcando o gol da vitória e praticamente selando a conquista alvinegra.

O importante gol foi além dos três pontos. Naquele instante, muitos se lembravam de gols passados de jogadores questionados pela torcida. Gols de enorme importância, levando a alcunha de "gol do título" e trazendo ao Fiel torcedor aquele sentimento de "Nunca Critiquei".

Cachito Ramirez

O peruano chegou ao Corinthians em 2011 e foi expulso na fatídica eliminação alvinegra contra o Tolima, na pré-Libertadores. O meia, de habilidade razoável e boa chegada ofensiva, foi utilizado poucas vezes na temporada e entrava apenas na reta final das partidas.

Esquecido por Tite, Cachito Ramirez alternava partidas no banco com jogos sem ser relacionado. O ostracismo lhe parecia certo e questão de tempo para sair e ser apenas mais um estrangeiro na história da equipe. Só que um lance lhe deixou na eternidade do Corinthians.

Ceará x Corinthians. Rodadas finais do Brasileiro 2011 e o Timão entrava pressionado. A vitória lhe deixaria na liderança, que tinha Fluminense e Vasco na cola. O jogo no Presidente Vargas era tenso. O time da casa colocava enorme pressão, partia ao ataque e acumulava gols perdidos. Osvaldo, uma das revelações naquele ano, acabava com a zaga alvinegra, enquanto o Timão poucas vezes aparecia no ataque, ainda com algum perigo.

Na reta final da partida, quando o empate já parecia ótimo resultado, Tite colocou Ramirez. Poucos acreditavam numa mudança de rumo, mas um lançamento de Ralf, o domínio do peruano pela meia-esquerda, um drible para a linha de fundo e um tapa de direita na saída do goleiro, mudou a história de Cachito e Corinthians.

O gol, comemorado com Ramirez apontando seu nome num gesto de desabafo, deu o Timão o alívio necessário. A equipe reassumia o topo para nunca mais perder e o gol de Cachito Ramirez está gravada na história.

O Adriano, tá me ouvindo?

Se o gol de Ramirez foi gol de título, o que dizer do gol de Adriano, também na campanha do penta? O veterano jogador teve uma passagem muito apagada no Timão, onde Tite queria recuperar o jogador de seus problemas pessoais e lhe dar condições novamente de jogar em alto nível.

O que se viu de Adriano, em toda sua passagem, foi uma melancolia tradicional de seus últimos times, com falta de ritmo, poucos jogos, fora de forma, mas enorme técnica e qualidade.

Em uma das últimas rodadas, o Corinthians lotava o Pacaembu numa tarde de domingo para ver a equipe arrancar rumo ao título. O Atlético-MG parecia um time inofensivo e que não daria muitas barreiras, mas o jogo foi mais pesado do que imaginavam.

No começo do segundo tempo, Léo Silva abriu o placar após lindo lance trabalhado em falta. A pressão mudava de lado e o Timão partiu ainda mais ao ataque.

Martelando, perdendo chances e parando no goleiro, o Corinthians parecia com mais uma tarde de drama. Liedson empatou na metade final de jogo e aumentou as esperanças. Mas elas diminuíram após Tite colocar Adriano em campo.

O Galo seguiu querendo contra-ataque, e até tinha espaço para isso. Nos minutos finais, Neto Berola dividiu com Leandro Castán e a bola sobrou para Emerson Sheik. O camisa 11 arrancou pelo meio, teve espaços pelo meio e enfiou para Adriano, que entrou na diagonal, meio torto, sem velocidade, e bateu com a mortal canhota, quase sem ângulo, virando o jogo e quase que demolindo o Pacaembu.

O famoso 'nunca critiquei'

Seis anos depois, personagens mudam, mas a história parece se repetir. Novamente na reta final do campeonato, novamente líder, novamente fora de casa. O Corinthians contou com um esquecido para dar o passo final rumo ao hepta.

O Furacão dominou o jogo, perdeu um pênalti na primeira etapa, mas parecia apenas questão de tempo para abrir o placar e matar o jogo. No entanto, ninguém esperava que um esquecido por todos decidiria. Giovani Augusto repetiu os passos de Ramirez e Adriano para decidir.

Fabio Carille colocou Giovani na metade do segundo tempo. Muitos torcedores criticaram a troca de Carille e quase que jogaram a toalha. O jogo perdia ritmo e os dois times pareciam felizes com o 0 a 0, mas Giovani mudou sua história e do Corinthians ao chutar cruzado da meia-esquerda e a bola entrar no canto do goleiro.

O gringo da favela

E se já não bastasse todos os personagens nesse passado recente, o destino pregou mais uma peça: Kazim, o inglês naturalizado turco, que é melhor de entrevista que de bola, foi o atacante que o Corinthians utilizou contra o Avaí, jogo que deixou o Timão dez pontos na frente do vice.

Com apenas dois gols no ano, sendo o último em fevereiro, Kazim era dito como um dos piores na história alvinegra. Mas foi ele quem decidiu. Mais um questionado, mais um gol de título, mais um momento em que a corneta calou e que todos diziam "nunca critiquei".