2017 não trouxe nenhum título, mas trouxe uma sensação de que coisas boas podem vir no futuro - caso o Botafogo permaneça nesse mesmo caminho. A equipe de Jair Ventura provou que, mesmo com um orçamento menor, pode bater de frente com grandes clubes, fazendo ótimas campanhas na Taça Libertadores e na Copa do Brasil, apesar do fracasso no Campeonato Brasileiro e do momento ruim que o clube terminou a temporada. 

Apesar do resultado aquém do esperado em algumas partidas do Campeonato Brasileiro, como nos jogos contra São Paulo e Vitória, o Botafogo conquistou o país com atuações fantásticas e resultados pouco esperados diante de fortes adversários. A VAVEL Brasil vai relembrar os dez jogos mais marcantes da equipe de General Severiano no ano:

10. Botafogo 2 x 1 Colo-Colo: prólogo

Tecnicamente falando, não foi uma das grandes atuações da equipe em 2017, mas é um jogo chave do ano. Com receio de enfrentar uma equipe com tradição e bons nomes, como Leonardo Paredes, pela frente, a torcida abraçou a equipe e lotou o Estádio Nilton Santos naquele que seria o primeiro grande jogo de 2017. O primeiro calafrio, o primeiro mosaico, a primeira festa: era a estreia do Glorioso na Taça Libertadores.

(Foto: Satiro Sodré/SS Press/Botafogo)
(Foto: Satiro Sodré/SS Press/Botafogo)

Regidos por Airton, dominante na faixa central do campo na ocasião, que marcou o primeiro gol após um lindo chute de fora da área, foram 45 minutos de pura mágica do Botafogo, que ainda contou com a sorte de uma trapalhada da defesa do Colo-Colo e um gol contra para dobrar a vantagem no dobrar. Sob a batuta de Camilo e Montillo, tínhamos o jogo nas mãos, montando um cenário perfeito: torcida e jogadores em total harmonia, demonstrando felicidade com o resultado.

O segundo tempo, porém, foi preocupante: com mudanças, o Colo-Colo passou a dominar a maioria das ações do jogo e o Botafogo não teve muita resposta, o que foi preocupante durante todos os 45 minutos finais. O resultado, porém, satisfatório: vantagem de um gol, que seria confirmada no jogo da volta, em Santiago, e garantiria a classificação para a segunda fase da Pré-Libertadores. Era o primeiro capítulo de uma emocionante trama que estava por vir.

9. Botafogo 3 x 1 Vasco: conforto

Camilo, principal nome da equipe no ano de 2016, passava por uma má fase: não agradava nem Jair Ventura e nem a torcida do Botafogo. Iria sair para algum outro clube? Iria engolir a reserva? Mesmo após grandes atuações no ano passado, amargaria uma situação ruim na equipe? Muitas perguntas rodeavam o dia a dia do clube, que passou a ser um tanto quanto conturbado por conta dessa situação.

Jair Ventura, porém, foi, mais uma vez, fantástico: provou, com 90 minutos de puro futebol, que sim, haveria vida sem Camilo. Ou melhor, haveria vida sem qualquer um que não se achasse suficiente para a ‘equipe de operários’, doe a quem doer. O treinador trouxe uma sensação de alívio aos torcedores, que ficaram confortados de observar a equipe com a mesma postura e o mesmo padrão mesmo sem aquele que parecia ser imprescindível.

Com uma grande atuação, o Botafogo construiu um placar de três gols de vantagem, com dois gols de Roger e um golaço, do meio da rua, de Victor Luis. Impressionando tanto no ataque quanto na defesa, o Glorioso não teve dificuldades de vencer do rival Cruzmaltino, que achou um gol nos minutos finais da partida. Nada que tirasse o brilho da atuação e da representatividade da partida.

8. Botafogo 1 x 1 Atlético-MG: renascimento

No atual cenário do futebol brasileiro, regado por muito dinheiro e interesses, é difícil existir algum jogador que seja fiel ao seu respectivo clube em um momento ruim, como um período de dificuldades financeiras, com salários atrasados ou de um possível rebaixamento. Jefferson superou, sem reclamar, os dois com o Botafogo.

Essa partida contra o Atlético-MG está longe de ser uma das melhores atuações do Botafogo no ano. Na realidade, foi uma das piores apresentações da equipe em 2017, salva graças a um gol de Roger nos minutos finais da partida. Mas é marcante por representar a volta de Jefferson à meta alvinegra.

+ Análise: volta de Jefferson e o tamanho da sua idolatria

Após um longo período parado por conta de uma lesão e seguidas cirurgias, cogitou-se até uma aposentadoria precoce do goleiro, que teve o apoio da torcida durante todo o tempo que esteve machucado. Era o mínimo que os torcedores podiam fazer, já que Jefferson nem cogitou deixar o Botafogo, mesmo após o caótico período vivido na segunda divisão e com salários atrasados.

Além disso, Jefferson teve uma atuação do tamanho da sua importância nessa partida, sendo o melhor jogador da mesma. Fazendo defesas incríveis e ainda pegando um pênalti, o Camisa 1 garantiu o valioso ponto ao Botafogo e mostrou ao país que havia ‘renascido’, mas não esquecido toda o seu talento, que o garantiu uma vaga na última Copa do Mundo.

7. Botafogo 2 x 1 Corinthians: irrevogável

A última boa partida do Botafogo em 2017. Frente a frente com o líder Corinthians, o Glorioso voltou a mostrar o perfil marcante da primeira parte da temporada. A equipe de Fábio Carille, por outro lado, parou em uma excelente marcação da equipe da casa, o que resultou em poucas chances criadas e uma partida sem muitos sustos – com exceção de uma bola trave de Marquinhos Gabriel – para a equipe de Jair Ventura.

No segundo tempo, o Botafogo contaria com dois gols vindos de jogadas aéreas, marcados por, respectivamente, Brenner e Igor Rabello. O gol de Jô, que empatara a partida, chegou a assustar, mas não conseguiu esconder uma grande atuação do Glorioso, que, se tivesse caprichado um pouco mais, teria saído com uma vitória por um placar melhor. Na época, esse triunfo contra o líder retificava as chances do Alvinegro carioca de se classificar para a Libertadores. 

6. Botafogo 2 x 1 Estudiantes: euforia

Estreia na fase de grupos da Taça Libertadores. Apesar da grande festa, o nervosismo tomava conta das arquibancadas do Estádio Nilton Santos. O medo de repetir a campanha de 2014 rondava, mas a esperança da possibilidade de uma campanha melhor era o que ocupava a grande parte dos setores do estádio.

O jogo, obviamente, nervoso, foi mais difícil do que muitos torcedores imaginavam como ideal. Encardido, o Estudiantes jogava com inteligência e tinha no contra-ataque com Solari e Otero a sua principal arma. Apesar do Botafogo ter a posse da bola, foi a equipe argentina que teve as melhores chances no início do primeiro tempo. Até que, aos 33 minutos, Marcelo, improvisado na lateral-direita, cruzou na área, Bruno Silva ajeitou com um voleio e Roger, de bicicleta, completou para o gol.  

Como esperado, o Estudiantes não largou o osso e empatou em uma cobrança de falta de Otero aos 16 minutos e, a partir disso, tomou conta do jogo. Vista a necessidade de mudar, Jair colocou Sassá no jogo e o camisa 29, na época passando por alguns problemas com a diretoria, colocou fogo, fazendo a bonita jogada do segundo gol, marcado por Rodrigo Pimpão e sacramentando uma vitória extremamente necessária, já que tirara o peso da estreia “oficial” na competição continental.

5. Botafogo 2 x 1 Sport: identidade

Esse jogo teve, literalmente, a cara do Botafogo de 2017: apesar de todas as adversidades, os jogadores se unindo, cumprindo suas funções táticas com perfeição no campo e conseguindo superar, com muita luta, todos esses aspectos negativos e conquistando uma vitória suada e muito valorizada.

O jogo era válido pelo jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. O Sport conseguiu abrir o placar logo no começo da partida e se fechou no restante do primeiro tempo, o que dificultava demais o jogo do Botafogo, que não conseguia criar chances com a bola no pé e se resumia a chuveirinhos para a área.

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Para piorar, Bruno Silva conseguiu tomar dois cartões em um intervalo de dois minutos e fora expulso no fim do primeiro tempo. O cenário caótico estava montado, já que a equipe pernambucana, com superioridade numérica, passou a atacar mais na etapa complementar, já que a possibilidade de construir uma vantagem para o jogo da volta era real.

Ney Franco havia colocado André no jogo, o que representava esse ímpeto ofensivo. Até que, aos 13 minutos, Airton leu uma jogada de forma perfeita, conseguiu interceptar um passe e rolou para Guilherme correr e marcar o gol de empate. As coisas, porém, pareciam não dar certo de jeito nenhum ao Botafogo, quando o Sport teve um pênalti a seu favor. Na cobrança, Gatito defendeu o chute de Diego Souza, o que inflamou o alvinegro na partida. Já na parte final, Guilherme recebeu outra bola, driblou em velocidade e marcou o gol de uma vitória que foi a personificação daquilo que era o Glorioso.

4. Atlético Nacional 0 x 2 Botafogo: cessação

Atual campeão da Libertadores, o Atlético Nacional era, na teoria, o bicho-papão do grupo do Botafogo. Mesmo com as saídas de muitos jogadores, a base e o treinador Reinaldo Rueda foram mantidos, além dos jogadores contratados para serem a reposição dos que se transferiram para outros clubes possuírem qualidade.

Como esperado, a equipe colombiana começou atacando no Atanasio Girardot, mas parou em uma sólida atuação defensiva do Botafogo, que não dava chances aos jogadores adversários de construírem as jogadas com verticalidade e um ritmo  de transição absurdo, fator que era marcante na equipe que fora campeã de tudo em 2016.

Na realidade, o Atlético Nacional provou do próprio veneno, mas com algumas mudanças: o contra-ataque, por acaso, também era a principal arma desse Botafogo, que conseguia executá-lo com maestria. Camilo iniciou uma investida após uma roubada de bola, tocou para Pimpão que puxou dois marcadores com ele e criou o espaço para João Paulo, livre no lado oposto, cruzar com qualidade para o Camisa 10 completar de cabeça para o gol.

Com o resultado negativo, o Atlético Nacional, obviamente, passou a atacar mais e buscar um gol. Apesar do grande número de finalizações, nenhuma delas conseguiu assustar o goleiro Gatito – o que traduz a ótima atuação do Botafogo. A equipe visitante foi coroada nos minutos finais da partida, quando, em outro contra-ataque, Guilherme recebeu com liberdade, cortou para a perna direita e chutou colocado no canto do goleiro Armani, consagrando a vitória. Era o fim de um jejum de 24 anos sem vencer fora de casa na Libertadores.

3. Botafogo 1 x 0 Atlético Nacional: afirmação

Repetindo a dose da posição anterior, mas com o jogo da volta pela fase de grupos. O Botafogo vinha de uma derrota para o Barcelona-EQU dentro de casa e muitos passaram a questionar a classificação do Glorioso para a próxima fase, por conta de um possível psicológico ruim dos jogadores, que vinham de uma atuação ruim contra a equipe de Guayaquil.

A partida, tensa do início ao fim, trouxe à tona um Botafogo que colocou seus torcedores em um teste para cardíaco. A equipe colombiana mostrava lapsos do time campeão da Libertadores em 2016, mostrando uma intensidade de jogo enorme, trocando passes e chegando ao campo de ataque com muita facilidade. O Botafogo, nervoso, superou todas as adversidades e, conseguiria, mais uma vez, um resultado positivo: aos cinco minutos do segundo tempo, Rodrigo Lindoso daria um passe de almanaque para Rodrigo Pimpão ver a sua estrela brilhar novamente.

(Foto: Satiro Sodré/SS Press/Botafogo)
(Foto: Satiro Sodré/SS Press/Botafogo)

A equipe de General Severiano, taxada por muitos como um “patinho feio”, que não passaria nem da fase preliminar da competição, superaria um dos grupos mais difíceis da Libertadores e, com autoridade, confirmaria o primeiro lugar da chave e o seu lugar entre os grandes clubes da competição que tinha na vontade e aplicação tática dos seus jogadores a grande chave para a vitória. Como o próprio treinador Jair Ventura gostava de falar, era “um time de operários”.

2. Botafogo 2 x 0 Nacional-URU: antagônico

Esse foi, sem dúvidas, o jogo mais importante, até então, do Botafogo no Século XXI. Longe de um mata-mata de Libertadores desde 1996, a expectativa por parte dos torcedores era grande – e eles, em mais uma grande festa no Estádio Nilton Santos, não voltaram para casa decepcionados. Muito pelo contrário, já que o único ambiente possível era um recheado de alegrias.  

Com a vantagem de 1 a 0 do jogo de ida, o risco de falhar na própria casa rondava o subconsciente de uma grande parte das pessoas que assistiam à partida. Muito pelo contrário, o Botafogo confirmou uma grande atuação desde o primeiro minuto e, com autoridade, derrotaria o grande Nacional do Uruguai por 2 a 0, gols de Bruno Silva e Rodrigo Pimpão, de carrinho.

Muito pelo contrário daquilo que alguns esperavam sobre o time, o Botafogo continuava empilhando campeões continentais e conseguia se classificar para as quartas de finais, sendo a melhor campanha do Glorioso em Libertadores desde 1973, quando esteve presente na semifinal.

1. Botafogo 3 x 0 Atlético-MG: baile 

Por último, mas, obviamente, não menos importante, está a melhor atuação, tecnicamente falando, do Botafogo em 2017. Pelas quartas de final da Copa do Brasil, o Glorioso tinha que reverter uma desvantagem de 1 a 0 da primeira partida, no Independência – jogo em que o Atlético, mesmo com uma atuação abaixo da média, conseguiu assustar a equipe carioca.

De praxe, a equipe de Jair Ventura, empurrada pela torcida, mostrou que sabia lidar com uma situação adversa. Exemplo perfeito disso foram os primeiros minutos da partida, em que o Botafogo montou uma pressão para cima dos adversários, que seria recompensada com apenas cinco minutos, quando Carli aproveitaria um escanteio cobrado para abrir o placar.

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Sem reação, o Atlético-MG sucumbiu a uma atuação de gala do Botafogo, que foi perfeito na defesa, impedindo qualquer tipo de ataque vindo por parte dos mineiros. Ainda no primeiro tempo, João Paulo colocou Marcos Rocha para dançar, driblou o lateral e, com a perna esquerda, cruzou para Roger testar para dobrar o placar, que já seria o suficiente para o Glorioso conquistar a vaga.

No segundo tempo, os visitantes montariam uma pressão em busca de um possível gol salvador. Muitos toques, posse da bola, porém pouca efetividade: Jefferson mal fora acionado naquela noite, que foi fechada com chave de ouro para o torcedor do Botafogo nos acréscimos, quando, em um contra-ataque perfeito, Gilson daria os números finais de uma partida impecável da equipe de General Severiano.