Todo torcedor passa por momentos bem difíceis e duros ao lado do seu clube de coração. Esses momentos podem durar muito ou pouco tempo, mas eles estão presentes, pois o futebol é uma roda gigante, com altos e baixos. Eu, como torcedor do Fortaleza Esporte Clube, sei muito bem o que é isso. Algumas alegrias, muitas decepções, mas sempre confiante. Assim pode ser resumido os oito anos do tricolor do Pici e da sua torcida completamente apaixonada do início ao fim. 

21 de novembro de 2009. Ali começava um martírio pesado na história do Fortaleza. Uma derrota para o São Caetano por 2 a 1, de virada, em casa, rebaixava o clube para a terceira divisão do futebol brasileiro. O início de anos sombrios e que duraram muito mais que o esperado.

Tudo começou ali | Foto: Divulgação/Fortaleza

Eu tinha uma visão bem objetiva sobre isso: descemos? Sim, descemos, mas o retorno deve ser o mais rápido possível... bom, não foi bem assim. Mesmo com a confiança de que o retorno ao patamar mais "nobre" seria rápido, tudo não passou de uma ilusão.

Quem lembra, lembra. Dois primeiros anos foram complicadíssimos, jogar em campos péssimos e locais extremamente duros, com uma logística complicadíssima, indo para o Norte (norte mesmo, lá em cima), depois retornando ao interior do Nordeste e ficar nessa troca de viagens. Isso era muito difícil, principalmente para todos que viviam o clube. A Série C pode ter seus momentos históricos e "divertidos", mas apenas para quem assiste. Para quem participa, é um verdadeiro inferno.

Enfim, no meio de tudo isso, uma eliminação precoce no primeiro ano. Decepção? Sim, claro, mas com a desculpa de que a " falta de adaptação" a um torneio de tiro curto foi "essencial". Ok, vida que segue. 2011 será um ano melhor, certo? Não... muito, mas muito longe disso.

Lembrar de 2011 entristece qualquer torcedor tricolor. Foi um ano completamente atípico do que o Fortaleza iria viver nos anos seguintes. Um rebaixamento que passou muito, mas muito perto, algo inimaginável para uma torcida tão grande. Mesmo grande, aquilo não passou apenas de um susto, então não é bom lembrar isso.

A realidade meio que mudou depois dali. Dinheiro, de certa forma, entrou mais no clube, que conseguiu formar um time mais competitivo a partir de 2012. Mas se apenas grana fosse sinonimo de sucesso, muito time por aí estaria com a sala de troféus entupida.

Falar de 2012 não é muito fácil. Até o fim da primeira, tudo era uma beleza, o time era sensacional, ganhava de todo mundo, era o clube a ser batido. Quartas de finais... ah, as quartas de finais da Série C. Ali começava um relacionamento entre ela e o Fortaleza.

Duelo contra o Oeste. 1 a 1 em São Paulo, um empate sem gols em casa para a melhor equipe daquela Série C confirmava o acesso. Todos já "comemorando" o retorno à Série B... mas não, não foi isso. Um inacreditável 3 a 1 para os paulistas em pleno Presidente Vargas entupido iniciou a sequência decepções do tricolor à frente do seu torcedor.

Primeira decepção | Foto: Divulgação/Fortaleza

2013 foi a segunda decepção em casa. Ano conturbado, muito irregular e eliminação na última rodada da primeira fase para o Sampaio Corrêa. Primeira das quatro eliminações em uma Arena Castelão entupida. No ano seguinte, para mim, a mais difícil como torcedor: o Macaé.

Ah, o Macaé... uma festa completamente incrível e mais linda impossível. Empate no Rio de Janeiro por 0 a 0. Mais uma vez a vantagem de uma vitória simples, estádio sem nenhum lugar, colorido, uma das festas mais maravilhosas que já vi. Tudo pronto para, enfim, o martírio acabar, né? Não. 1 a 1, Fortaleza eliminado mais uma vez. Decepção maior de todas que já tive como torcedor. Sim, mais que o rebaixamento.

A mais difícil de todas | Foto: Divulgação/Fortaleza
A mais difícil de todas | Foto: Divulgação/Fortaleza

A realidade de que aquilo realmente era um inferno, finalmente chegou na minha cabeça. Simplesmente indescritível aquilo que acontecia. Bom, mais um ano se passou, mais uma vez terminamos em primeiro na primeira fase. Foi a vez do Brasil de Pelotas. Derrota no Rio Grande do Sul por 1 a 0. O pensamento de que, agora atrás do placar, tudo daria certo, pois era uma situação diferente, mesmo que mais difícil, rondava na minha cabeça.

Diferente do ano anterior, meu corpo já estava preparado, caso acontecesse mais uma decepção. Não preciso falar como a Arena Castelão estava, certo? Bom, não deu outra. Eduardo Martini, goleiro do Brasil, simplesmente catou tudo, até pensamento, garantiu o 0 a 0. Não é possível que aquilo fosse algo normal. Sempre tinha alguma coisa no caminho do Fortaleza. Contaram, né? Quatro decepções já.

Mais um ano se passou, mais um time gaúcho entrou no caminho do Fortaleza, dessa vez o tradicional Juventude. Se você me perguntasse o que estava achando na época, simplesmente não teria resposta. Não, eu não queria enfrentar o Juventude. Eu tinha a confiança de todo torcedor, claro, mas pelas situações passadas, estava com um pé atrás, assim como foi contra o Brasil.

Pela terceira vez, Leão chegou com a vantagem de uma vitória simples. O problema é que não sei o que acontecia. Vencer, algo que o clube fez tanto na primeira fase, era algo muito mais difícil nas quartas. Sendo sincero, o time jogou bem, principalmente no segundo tempo. Não reagiu mal após tomar o gol. Mas adivinhem? Sim, o goleiro adversário estava, perdão pelo termo, "encapetado". Dessa vez foi o Elias, que acabou sendo contratado pela Chapecoense após essa atuação. 1 a 1. Mais uma vez ficamos pelo caminho.

A última decepção | Foto: Divulgação/Fortaleza
A última decepção | Foto: Divulgação/Fortaleza

Já estava cansado, bastante mesmo. Não aguentava aquelas decepções, todas na frente dos meus olhos. Sim, eu estava presente em simplesmente todas. Nunca deixei de apoiar, sempre estive lá, sofrendo junto, acompanhando todo o trabalho de um ano ser jogado fora por conta de 90 minutos. Era muito difícil.

Bom, chegou 2017. Expectativas bem baixas, por conta da montagem do time e por um começo de ano simplesmente desastroso. Eliminação na primeira fase da Copa do Nordeste e Copa do Brasil e, atenção, nas semifinais do Campeonato Cearense. Sim, um completo desastre e que desanimou qualquer torcedor para a Série C.

Mas então, após uma primeira fase muito irregular, troca de treinador, o Fortaleza conseguiu se classificar, em terceiro, por sinal, ou seja, decisão longe da Arena Castelão. Duelo contra o Tupi-MG. Para alguns mais superticiosos, aquilo poderia significar algo, pois seria a primeira vez que o time decidiria fora de casa. Eu nunca fui de olhar para esse lado, queria que o martírio acabasse diante do torcedor e ponto final. Enfim, vamos.

Eu estava mais nervoso que o normal no primeiro jogo. Sabia que aquilo definiria o futuro do Fortaleza para o ano do seu centenário (2018). Mas desde que entrei no estádio, que estava mais vazio que os outros, até porque né, a confiança no time era baixa, senti uma atmosfera boa, positiva. Desde o primeiro minuto o apoia era incondicional, como sempre.

E eu vou ser bem sincero: aquele foi um dos jogos mais especiais da minha vida como torcedor. Primeiro tempo nervoso, com Marcelo Boeck sendo o nosso guardião de sempre. 0 a 0. Segundo à vista e um Fortaleza completamente diferente. Logo no início do segundo tempo, Bruno Melo tabelou com Hiago e cruzou para Leandro Lima marcar. Não consegui me conter de alegria. Fazia tempo que não me sentia tão confiante de que, daquela vez, vai.

Os mineiros sentiram demais o golpe e a Arena Castelão pulsava de uma forma absurda. E foi aí que Hiago fez jogada pelo meio, chutou e a bola pegou no braço do zagueiro deles. Bruno Melo cobrou e fez. A torcida nunca viu a Série B tão perto nestes oito anos. 2 a 0, em casa, boa vantagem para o jogo de volta. Estava perto.

A confiança ficou tão grande, que milhares e milhares de torcedores se moveram à Juiz de Fora, para acompanhar o jogo de volta. Eu, que não tive "coragem" para isso, assisti o jogo pela TV, completamente nervoso. O time jogou bem o jogo inteiro. Sofreu uma pressão, o que é normal.

O problema foi aquele golzinho do Tupi. Eu já estava nervoso, e aquele gol simplesmente me deixou incrédulo. Não acreditava que aquilo poderia estar acontecendo de novo. Só que aí veio um chute de muito longe, que Marcelo Boeck foi buscar no ângulo, de mão trocada, já no final do jogo. Depois daquilo, eu falei para mim mesmo: chegou a hora, ninguém tira isso da gente. E foi o que aconteceu: o Leão subiu!

Enfim, o acesso | Foto: Divulgação/Fortaleza
Enfim, o acesso | Foto: Divulgação/Fortaleza

Não conseguia me conter de alegria. Aquele inferno acabou, finalmente. Oito anos muito difíceis, mas o gostinho do acesso nunca foi tão bom. Pensar que tudo aquilo agora era passado, todas as decepções. Mas não, nunca desisti, assim como a torcida nunca desistiu. E no ano mais "difícil", a recompensa do trabalho duro veio, quando a torcida menos esperava.

Bom, esse foi um resumo de tudo que passei durante esses oito anos, os anos mais difíceis da história de um dos maiores clubes do futebol nordestino, e que tem uma torcida de dar inveja a qualquer uma no mundo. Sempre houve persistência, tanto como diz o hino:

"Soberbo,
tua fibra representa um norte,
combativo, aguerrido, vibrante e forte.
Sem demonstrar cansaço"