Zé Ricardo aparenta ter o grupo em mãos e saber das limitações de seu elenco. Desde a última temporada, quando se classificou para a fase prévia da Libertadores, a equipe assumiu um estilo de jogo bastante compacto e com foco na consistência defensiva. Ainda que na atual temporada quase todo o sistema tenha mudado, com as saídas de Anderson Martins e Madson, além das lesões de Breno e Ramon, a defesa não comprometeu nos primeiros duelos da Pré-Libertadores, ao menos até o último deles, no qual os cariocas foram goleados pelo Jorge Wilstermann.

O esquema é o tradicional 4-2-3-1, com um centroavante móvel que participa ativamente da recomposição do meio de campo, que é Andrés Ríos. A escalação base utilizada pelo treinador da equipe era formada por: Martín Silva; Pikachu, Erazo, Ricardo Graça e Henrique; Wellington, Desábato, Wagner, Evander e Paulinho; Ríos. Poucas variações foram feitas no decorrer da competição, com Rildo, Thiago Galhardo e Riascos sendo os principais reservas, e Paulão entrando na vaga de Erazo

Contra o Universidade Concepción, Vasco foi superior e em momento nenhum viu a vaga na próxima fase ser ameaçada

Muito se falou sobre a fragilidade do adversário. O torcedor vascaíno não estava confiante, pois no Campeonato Carioca a equipe ainda não havia tido uma atuação convincente, além de a inconsistência defensiva ser iminente. A surpresa foi a goleada logo na primeira partida, jogando no Chile.

Zé mandou a campo a escalação base, descrita há pouco, e contou com dois gols de Evander logo no início da partida, o que deu tranquilidade à equipe. Além do Camisa 10 vascaíno, vale ressaltar as boas atuações dos laterais cruzmaltinos, principalmente de Pikachu - artilheiro da equipe na competição. 

A coesão do meio de campo foi outro ponto admirável. O adversário - bem colocado no Campeonato Chileno - sofreu com um Vasco cirúrgico, que aproveitou as oportunidades que teve, contou com a sorte quando precisou, fez as substituições certas e conseguiu o surpreendente resultado de 4 a 0 no jogo de ida, trazendo uma boa vantagem para a partida de São Januário.

São Januário - Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br
São Januário - Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br

Na volta, destaque para o menino Paulinho, que talvez seja o principal destaque ofensivo da equipe na temporada. Além do comprometimento tático, assusta a capacidade física do garoto de 17 anos, que, aliás, se tornou o primeiro atleta nascido a partir dos anos 2000 a marcar um gol na competição mais importante das Américas.

Além de Paulinho, Yago Pikachu voltou a marcar e o Vasco venceu, sem sustos, carimbando a vaga para a próxima fase. O adversário seguinte foi o Jorge Wilstermann, da Bolívia, e a estrutura tática da equipe se manteve.

Goleadas, inexperiência, pênaltis e Martín Silva exprimem o duelo da derradeira fase da Pré-Libertadores

Como o zagueiro Erazo foi expulso no segundo encontro contra o Concepción, Zé Ricardo promoveu a entrada de Paulão, sendo essa a única mudança da equipe para o primeiro duelo contra os bolivianos. 

O Vasco, surpreendentemente, voltou a golear. A equipe do Jorge Wilstermann - semifinalista da última Libertadores - não se encontrou em São Januário. A consistência da equipe carioca voltou a surpreender, dessa vez contra um adversário consideravelmente melhor qualificado, e o placar de 4 a 0 foi o reflexo perfeito da partida.

Após um início oscilante, os vascaínos contaram com gol de Paulão para aliviar a tensão, e depois Paulinho e Pikachu voltaram a marcar, se destacando. Rildo, o décimo segundo jogador do time, fechou o placar. 

Taticamente o duelo foi semelhantes aos demais, com o Vasco conseguindo um gol ainda no primeiro tempo e contando com as falhas do adversário para ampliar a vantagem no placar. Riascos entrou bem, deu assistência para o gol de Pikachu e mostrou ser uma opção sensata para a vaga de Ríos, quando necessário, mesmo com a desconfiança de alguns torcedores.

No jogo de volta, o improvável aconteceu: o Vasco foi goleado. A inexperiência dos mais jovens foi gritante na altitude. Em quinze minutos, os donos da casa já venciam por 3 a 0 e tornavam a partida dramática. Durante os noventa minutos, os vascaínos não se encontraram. Não teria sido surpreendente a eliminação ainda no tempo normal, mas os bolivianos "apenas" repetiram o placar do jogo de ida e foram às penalidades.

Carlos Gregório Jr/Vasco.com.br
Carlos Gregório Jr/Vasco.com.br

O Gigante da Colina entrou com o mesmo time da partida anterior, ainda com Paulão como titular. Se vale destacar algum atleta, esse é Henrique. O jovem lateral parecia ser o único lúcido em campo e se entregava de maneira surreal, mesmo com os erros coletivos gritantes. De resto, só Martín salvaria o Vasco - o que aconteceu.

Fase de grupos

É provável que Zé Ricardo promova mudanças na equipe para os duelos da fase de grupos. Um esquema com três zagueiros foi testado no clássico contra o Fluminense, com o garoto Ricardo Graça, tendo sido sacado após a goleada sofrida na Bolívia.

Evander, também oscilante, por pouco não perdeu a vaga no time titular, mas vem em uma crescente. Rildo deve também ter ainda mais oportunidades, além de Andrey, que entrou bem no último compromisso dos vascaínos. 

Ainda é uma incógnita a disposição tática do Vasco para as próximas mais partidas da Libertadores, mas algo é certo: entrega e consciência de suas limitações. Visivelmente mais fracos do que os adversários, os cariocas precisarão se superar para passar de fase na competição.