Foram 15 anos de penúria e sofrimento que resultaram em fracassos sucessivos e nunca antes visto na história do clube. A cogitação de falência chegou a acontecer, mas tradição de uma equipe conhecida por conquistas, torcida fervorosa e uma história mais que centenária deveria ter contornos de felicidade, de superação e de retomada das glórias.

Isso aconteceu justamente com o CSA. Após rebaixamentos à segunda divisão do futebol alagoano e anos consecutivos sem calendário no segundo semestre, o Azulão voltou a figurar nas páginas esportivas de maneira mais gloriosa, com vitórias, acessos e afastamento cada vez maior das fases mais obscuras.

O ano de 2018 até aqui parece ser uma continuação do que aconteceu nos últimos 18 meses. Com dois acessos consecutivos, o time saiu da Série D à Série B e volta a estar entre as principais equipes do país após 18 anos, quando disputou o módulo amarelo da Copa João Havelange. O objetivo é manter o bom desempenho para permanecer na divisão e ampliar o processo de reestruturação.

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Campanha em 2018

Os primeiros meses de 2018 foram recheados de críticas, descontentamentos, mas termina com superação e conquistas. A diretoria do CSA manteve a base que conquistou o título da Série C 2017 sobre o Fortaleza, além da comissão técnica, capitaneada por Flávio Araújo. Entretanto, os jogos não tinham nem começado a serem disputados e havia a percepção de falta de sintonia entre técnico e diretoria, uma vez que o treinador deixou bem claro que não concordava com a presença de sete atletas no elenco enquanto outras posições eram bem carentes e a chegada de reforços era necessária.

Foto: Gustavo Henrique/RCortez/CSA

Quando o Campeonato Alagoano e a Copa do Nordeste começaram, ficava cada vez mais evidente que o time não apresentava um bom futebol. Era um jogo travado, com erros defensivos e dificuldade em fazer gols. No Estadual, apesar das partidas aquém da expectativa, os resultados positivos apareciam com relativa facilidade e aliviavam a pressão pela falta destes na Copa do Nordeste. Em um grupo com Ceará, Sampaio Corrêa e Salgueiro. Na competição regional, campanha completamente decepcionante. Foram cinco empates e uma vitória em seis jogos disputados e a eliminação veio com uma rodada de antecedência.

Na Copa do Brasil, sufoco. A equipe conseguiu a classificação na primeira fase após um empate suado em 2 a 2 conquistado diante do Manaus. Graças ao goleiro Mota, que defendeu uma penalidade máxima no último lance da partida, o Azulão disputou a segunda fase. Porém, o time não conseguiu superar e surpreender o São Paulo. Diante de um bom público no Rei Pelé, os marujos deram trabalho no primeiro tempo, mas sucumbiram na segunda etapa, perderam por 2 a 0 e foram eliminados na competição nacional.

Foto: Rubens Chiri/São Paulo FC

Restou o Alagoano. O CSA seguia no mais do mesmo e o torcedor estava consciente de que o time não fazia mais do que sua obrigação, embora não convencesse. Por isso, com os resultados negativos nas outras competições e com a sintonia cada vez mais inexistente, o técnico Flávio Araújo foi demitido e Marcelo Cabo foi contratado com o respaldo da diretoria e com as justificativas de que o treinador conhece os desafios da Série B, uma vez que o treinador conquistou a competição em 2016 com o Atlético-GO.

Na primeira fase, foram 17 pontos conquistados em oito jogos. Foram cinco vitórias, dois empates e uma derrota, diante do arquirrival CRB. Com isso, as semifinais foram disputadas contra o ASA. E o sofrimento voltou a fazer parte do cotidiano do Azulão. No primeiro confronto, o time foi derrotado pelo ASA em Arapiraca por 1 a 0. Qualquer vitória simples garantia a classificação azul por causa da melhor campanha na primeira fase. Mas o problema ofensivo continuou a persistir e, por mais que o time dominasse toda a partida, o gol saiu apenas na reta final do segundo tempo. Porém, o ASA mostrou valentia para buscar o empate e a igualdade veio aos 47 minutos do segundo tempo. Ainda assim, no último lance, Boquita conseguiu vencer aos 51 e garantir mais uma final.

Foto: Gustavo Henrique/RCortez/CSA

Na grande decisão, o CRB. Pela terceira vez seguida. O CSA poderia novamente ser vice-campeão e ver o arquirrival ser tetra após 40 anos. O panorama foi idêntico ao primeiro clássico, disputado ainda na fase inicial. A falha da defesa garantiu a vitória simples do Galo. Embora desacreditado por alguns por causa do retrospecto ruim diante do maior rival, o time estava decidido a fazer diferente no segundo e decisivo confronto. E conseguiu. Na melhor atuação do ano, Didira e Daniel Costa marcaram os gols no primeiro tempo, o CSA segurou a pressão e venceu por 2 a 0.  Com isso, o time conquistou o 38º estadual, retomou a hegemonia em Alagoas após dez anos e superou o CRB em uma decisão depois de duas décadas.

Foto: Gustavo Henrique/RCortez/CSA

Reforços

Após o encerramento do Campeonato Alagoano, o CSA começa a modificar parte do elenco. O objetivo é preparar e deixar o grupo mais qualificado para uma competição que tem um período de duração maior. Vai ser o maior desafio do clube no Século XXI. Com os contratos encerrados no fim do estadual, saíram o goleiro Dalton, o lateral-esquerdo Paulinho e os atacantes Giva, Bruno Veiga e Yago.

Walter vem mesmo ao CSA? (Foto: Fernando Torres/Paysandu)

Em compensação, a diretoria já anuncia a chegada de jogadores – alguns deles experientes – há um bom tempo. O goleiro Lucas Frigeri, o zagueiro Erivelton, o lateral-direito Muriel, os volantes Edinho, Velicka e Ferrugem, e os atacantes Taiberson, Hugo Cabral e Niltinho.  Taiberson já estreou durante o Alagoano. Porém, a expectativa é que o CSA anuncie a contratação do atacante Walter. Conhecido pela luta contra a balança, o jogador atuou no Porto, Fluminense, Cruzeiro, Goiás, Atlético-GO, Atlético-PR e Paysandu, onde estava desde o começo do ano. A expectativa é que o negócio seja oficializado nos próximos dias.

Campanha em 2017

O ano de 2017 foi do antagonismo ao protagonismo inédito. O time decepcionou na Copa do Brasil e no Campeonato Alagoano, quando foi eliminado na primeira fase no torneio nacional e foi derrotado pelo CRB no estadual, mas conduziu bem a campanha na Série C. Após um bom início, controlou a classificação antecipada ao mata-mata com tranquilidade e dividiu a liderança da chave, junto com o Sampaio Corrêa.

Foto: Alisson Frazão/CSA

No principal duelo da história do clube no atual século, o time superou o Tombense com triunfos que resultaram no placar agregado por 3 a 0. O acesso à Série B estava garantido e a festa foi enorme. O que visse depois seria lucro e o time buscaria algo inédito não apenas para o clube, mas para o futebol de Alagoas, que seria o título brasileiro. O adversário nas semifinais foi o São Bento, mesmo oponente das semifinais da Série D. A vitória simples fora de casa deu a vantagem, mas o time foi derrotado em casa no fim do jogo. A vaga na grande final veio nas penalidades máximas, quando o CSA superou o time paulista.

Na decisão, dois grandes, populares e tradicionais times do Nordeste. De um lado, o CSA. Do outro, o Fortaleza. Duas equipes que comemoravam o retorno aos momentos gloriosos. O primeiro duelo foi espetacular. Linda festa das torcidas na Arena Castelão, principalmente dos tricolores. Mas o Azulão mostrou mais uma vez o fato de ser um visitante indigesto e venceu por 2 a 1. No segundo e decisivo duelo, o empate bastasse. E o jogo foi ditado pelos marujos, que conseguiram reforçar a marcação, mantiveram o zero no placar e conquistaram o primeiro título nacional para o futebol de Alagoas.

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Expectativas

O primeiro grande passo para o CSA no restante da temporada é manter os pés no chão. Estar certificado de que o salto entre a Série B e a Série C é muito grande, com muitas diferenças, maiores desgastes e uma competição muito mais difícil. A contratação de Marcelo Cabo foi muito boa para o CSA por ser um treinador que conhece a competição e tem conquistas recentes nesse certame. O time ainda está em entrosamento e certamente ganha mais o estilo do treinador com as mudanças feitas no elenco, com a chegada de peças mais familiarizadas com o técnico.

Marcelo Cabo quando treinou Atlético-GO foi campeão da Série B em 2016 (Foto: Paulo Marcos/Assessoria ACG)

Força e falha

O meio de campo do CSA pode ser considerado o ponto forte. Tanto em aspecto defensivo como no ofensivo. Enquanto os volantes são bem aplicados na marcação – para auxiliar a dupla de zaga – e na transição entre defesa e ataque, os meio-campistas atuam de maneira solta, com velocidade e bom funcionamento tanto nos lados como na parte central. Daniel Costa e Didira, autores dos gols do título alagoano e dois dos mais experientes do elenco, mudam o patamar do time. Enquanto o camisa 10 é especialista em passes precisos, lançamentos e bola parada, o camisa 19 é mais veloz, principalmente pelos lados do campo, o que pode funcionar, assim como deu certo nos momentos decisivos do Campeonato Alagoano.

Foto: Gustavo Henrique/RCortez/CSA

Por outro lado, o ponto que é mais cobrado e precisa ser melhorado é o ataque. A contratação de sete jogadores com características ofensivas não resultou em melhora de qualidade. Tanto que alguns já deixaram a equipe. O setor sofre por reformulação para atender às ideias de jogo de Marcelo Cabo.

Fique de olho

Um craque. Bom na bola parada, com perigosas cobranças, lançamentos excelentes e passes que deixam os atletas na cara do gol. O cérebro do time é Daniel Costa. Não é à toa que o jogador veste a camisa 10 do clube. Em sua segunda passagem pelo clube, o meia seguiu com a boa impressão deixada na primeira passagem, durante o começo de 2014. Desde 2016 para a disputa da Série D, Daniel Costa ganha mais ares de importância e de ídolo da equipe azulina. As excelentes qualidades de parar a bola, dar passes certos e ser o atleta mais pensante serão fundamentais para a conquista de bons resultados por parte do CSA.

Foto: Gustavo Henrique/RCortez/CSA

Treinador: Marcelo Cabo

Um técnico que sabe muito bem do Campeonato Brasileiro da Série B. Experiente e com passagens por algumas equipes na competição, Marcelo Cabo chegou no decorrer da atual temporada com o objetivo de tranquilizar o ambiente, conquistar os resultados possíveis e ter uma boa campanha na Série B. Com a conquista do Campeonato Alagoano, a confiança foi reforçada e as expectativas são boas. Na segunda divisão, comandou CearáFigueirense, Guarani e Atlético-GO, onde conquistou o título da Segundona em 2016. 

Foto: Gustavo Henrique/RCortez/CSA

Até o momento, são 11 jogos à frente do Azulão, com quatro vitórias, quatro empates e três derrotas. A expectativa e a meta inicial é que o time não sofra contra o rebaixamento e tenha uma campanha confortável, para depois pensar em voos maiores.

Trapichão

Inaugurado em 25 de outubro de 1970, o Estádio Rei Pelé é o principal palco esportivo de Alagoas. Já recebeu vários capítulos históricos tanto para os clubes alagoanos, como para outros eventos nacionais e internacionais. Com as medidas de segurança e padronização ao longo do tempo, vinculado com o Estatuto do Torcedor, a capacidade do estádio beira os 18 mil presentes, segundo informa a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Foto: Gustavo Henrique/RCortez/CSA

Local de boa parte das conquistas do CSA, o Trapichão volta a receber um jogo de Série B com o CSA como mandante. Depois de muito tempo, o estádio vai receber jogos dos finalistas do Alagoano. Os torcedores dos mais tradicionais clubes do estado irão lotar as dependências para ver o desempenho das equipes na principal competição a ser disputada em 2018.