Este sábado (21) marcará a data da última partida de Julio Cesar em sua carreira profissional. Contra o América-MG, o goleiro finalizará um ciclo vitorioso conquistado durante toda sua trajetória por Flamengo, Chievo, Inter de Milão, Queens Park RangersTorontoBenfica e, por fim, novamente ao clube carioca. O espetáculo não poderia ser em outro lugar, senão o Maracanã, templo sagrado para os brasileiros e para o próprio jogador, local o qual classifica como segunda casa. 

Julio não terá o fim de sua vida decretado. Porém, entre o mundo dos jogadores de futebol é comum se dizer que os mesmos possuem duas mortes: a a falência dos órgãos corporais e ao fim de suas carreiras. O jogador já brincou ao falar da data de seu falecimento, imaginando sobre como os jornais o retratarão, tendo no pensamento a referência sobre ser "o goleiro dos 7 a 1", sofrido na Copa de 2014.

Mas a carreira do jogador tem momentos muitos mais marcantes do que o trágico confronto, começando pelo início da trajetória do menino de Duque de Caxias apaixonado pelo Rubro-Negro, lutando pelo sonho de defender a meta do clube algum dia.

Foto: Reprodução/@juliocesar
Foto: Reprodução/@juliocesar

Flamengo: a base de tudo

A história do goleiro no clube começou a ser escrita quando tinha apenas 12 anos, ao passar num teste. Cinco anos depois, ele já se encontrava agarrando um pênalti num Fla-Flu, logo na sua primeira partida como profissional. Apenas quatro dias antes do clássico, o menino havia estreado pela equipe, numa partida fora de casa, contra o Palmeiras, onde terminou com vitória para o Flamengo por 1 a 0. No clássico, Júlio não contou com a mesma sorte e saiu derrotado. Isso pouco mudou na sequência de sua carreira, e a atuação foi suficiente para sair completamente identificado com a torcida.

Dali para frente, apenas voos altos na idolatria dentro do clube. O mesmo não se repetiu com a classificação na tabela dos Campeonatos Brasileiros, visto que na maioria das edições que participou na primeira passagem - de 97 à 2004 -, a equipe brigou contra o rebaixamento. Mesmo assim, conquistou títulos, entre eles o memorável Campeonato Carioca de 2001, vencido aos 43 minutos da segunda etapa, em partida que brilhou na meta rubro-negra, defendendo diversos arremates dos jogadores vascaínos e possibilitando a conquista. Esse campeonato foi o terceiro regional de Júlio, que conquistaria outro em 2004 - ano de sua despedida -, além de uma Copa dos Campeões (2001) e uma Mercosul (1999).

Além de troféus, deixou como lembrança para os que aqui ficaram frases marcantes do "abusado menino" na passagem - como a homenagem a Eurico e a resposta a Evaristo de Macedo -, junto de excelentes aparições com a camisa rubro-negra e a certeza de que um goleiro brilhante ainda teria muitos voos mais altos para alcançar.

Inter de Milão: o auge

Foto: Giuseppe Bellini/Getty Images
Foto: Giuseppe Bellini/Getty Images

Vendido para a Inter em dezembro de 2004 por € 2,45 milhões, o goleiro foi repassado ao Chievo para passar meia-temporada no clube e se adaptar ao futebol italiano. Sem disputar sequer uma partida durante os seis meses no Chievo, Júlio então chegou ao clube da capital italiana ao começar a nova temporada na Europa. Se temia um fracasso pelas não-oportunidades recebidas antes, mas Julio chegou forte à Inter e logo no início da temporada 2005-06 barrou o experiente goleiro titular da equipe, Toldo, que vinha em processo de encerramento da carreira.

Depois disso, apenas bons passos dados pelo brasileiro na Itália. Na sequência do ano de estreia, Júlio conquistou a Copa Itália, Serie A e Supercopa da Itália. Até a temporada 2009-10, ganhou todas as edições por pontos corridos do campeonato local. Inclusive, foi nessa em que chegou ao auge de sua carreira, quando conquistou a Tríplice Coroa (Serie A, Champions League e Mundial de Clubes) e foi premiado como o melhor goleiro do Mundo.

Seleção Brasileira: do céu ao inferno

Foto: Christophe Simon/Getty Images
Foto: Christophe Simon/Getty Images

Sua primeira convocação se deu em 2002, quando se destacava cada vez mais no cenário nacional defendendo o Flamengo. Porém, só foi receber oportunidade  como titular dois anos depois. E que oportunidade... Na Copa América de 2004, disputada no Peru, a seleção brasileira venceu os hermanos em um dos confrontos mais recordados da história do futebol. Na ocasião, o Brasil perdia por 2 a 1 até o último lance da partida, quando Adriano fez questão de empatar a partida, que se encaminhou para os pênaltis. Nas penalidades, brilhou a estrela de Júlio César, quando defendeu a cobrança de D'Alessandro. Após cobrança decisiva de Juan, estrela confirmada para o jogo de despedida de Júlio, o Brasil sagrou-se campeão daquela edição.

Julio Cesar permaneceu ne seleção por mais dez anos depois da Copa América. Pelo Brasil, fez 87 partidas, disputou três Copas do Mundo (2006-10-14) e conquistou outros dois títulos (Copa das Confederações 2009-2013). Por todo essa história, não mereceu a despedida que teve com a camisa da 'amarelinha'. Após o desastre do 7 a 1 sofrido para a Alemanha nas semifinais da Copa do Mundo de 2014, muitos torcedores brasileiros tentam pôr a culpa somente sobre o goleiro brasileiro na ocasião. 

Benfica: o renascimento

Foto: Javier Astano/Getty Images
Foto: Javier Soriano/Getty Images

O Benfica significou o ressurgimento de Júlio César, seja ele físico ou moral. Após melancólicas passagens por Queens Park Rangers e Toronto FC, além do trágico fim da Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil, o clube português anunciou a contratação do goleiro por duas temporadas, quando todos imaginavam o fim de sua carreira.

Em Portugal se reergueu na carreira, tanto que teve seu vínculo renovado, e acabou conquistando sete títulos em três temporadas. Recebeu o apelído de "Imperador", deixou a equipe com imagem de ídolo e contou com uma despedida emocionante.

Flamengo: 'o bom filho à casa torna'

Foto: Gilvan de Souza/Flamengo
Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Era então hora de voltar para casa e reconquistar o carinho dos brasileiros. Com contrato simbólico, Julio retornou ao Flamengo, desta vez para apenas encerrar sua carreira de forma emblemática. Na apresentação, as saudosas frases marcantes deram seu "alto lá", quando revelou outra emblemática citação. "Vou ali ser feliz e já volto" foram as palavras usadas para comunicar sua esposa de sua volta ao Rio de Janeiro. 

Após três meses, um jogo e meio disputado, não mais que duas defesas marcantes e nenhum gol sofrido, Júlio César parece ter finalmente encontrado a felicidade buscada no início do ano. A poucos instantes do último confronto de sua carreira, o goleiro parece se encontrar na satisfação de uma carreira extremamente estrelada, com inúmeras glórias e objetivos traçados.

Às 19h deste sábado, o último ajuste nas luvas será marcado e uma certeza estará no coração de cada flamenguista presente no Maracanã: a de que Júlio César se torna cada vez mais ídolo da instituição, mesmo que alguns insistam em desmerecê-lo.