O Museu do Futebol, em São Paulo, realizou, no último sábado (6), um debate intitulado "Chegou a vez das mulheres do futebol?", para discutir a importância da Copa do Mundo na França em questões como visibilidade para a categoria. Nomes como Emily Lima e Daniela Alves participaram.

Os repórteres Carlos BorgesLetícia Denadai e Isabella Molina, da VAVEL Brasil, acompanharam o evento. 

O primeiro tópico discutido foi o próprio título. A jornalista e mediadora do debate, Lu Castro fez a pergunta para todas as convidadas, colocando a importância dos movimentos feministas para essa conquista. 

"Não só chegou, como não voltamos mais atrás", afirmou Lu.

Foto: Carlos Borges / VAVEL Brasil
Foto: Carlos Borges / VAVEL Brasil

Silvana Goellner, professora da UFRGS e curadora da exposição "Contra-ataque: as mulheres do futebol", também do Museu do Futebol, falou que as mulheres sempre tiveram seu espaço. A única diferença agora é que essas histórias são contadas.

"As mulheres sempre estiveram no futebol; agora, talvez, chegou a vez da visibilidade das mulheres no futebol. Desde o início da história do futebol no Brasil, as mulheres sempre estiveram presentes, como torcedoras e depois como jogadoras. Acho que 2019 é um marco importante, sobretudo sobre a visibilidade. Acredito que as mulheres protagonizam o futebol há muito tempo e acho que esse protagonismo não é reconhecido. Não se conhecem essas histórias. O grande avanço que a gente conseguiu, de quatro anos para cá, foi dar mais visibilidade, contar essas histórias, contar que essas mulheres existem há muito tempo. O futebol, no Brasil, é gestado por homens e para os homens. As mulheres têm pouco acesso, não porque não tem competência, só que não é dada a chance. O avanço é que as mulheres estão levantando suas vozes e mostrando que são capazes”, disse Silvana.

Soraya Barreto, pesquisadora pela UFPE e autora de livros sobre torcida e futebol femininos, falou que, comparado ao último mundial, já houve muitas mudanças positivas na cobertura da mídia.

"Agora é a hora da visibilidade. Faço parte de um observatório na UFPE e a gente fez um monitoramento da mídia na Copa do Mundo no Canadá (2015) e a gente via a visibilidade ínfima. Cerca de 4% da quantidade de notícias de uma Copa do Mundo masculina foi feita na Copa do Mundo no Canadá. A gente ainda está recolhendo os dados dessa, mas é uma coisa surrealmente distinta. O jogo Brasil e França foi o primeiro recorde de audiência; 32 milhões de pessoas assistiram o jogo. Então, na verdade, não é que a gente não tinha mulheres no futebol ou não tinha futebol feminino acontecendo; a gente não tinha aonde ver isso. Há dois anos, na Copa América Feminina a transmissão era no Facebook e agora temos uma TV do porte da Rede Globo televisionando. A gente fala do feminismo, mas, especificamente, o cyberfeminismo vai ajudar. Há um trabalho coletivo, principalmente de mulheres, para fazer acontecer”, esclareceu Soraya.

Emily Lima, ex-jogadora e treinadora do time feminino do Santos, elogiou a estrutura do Corinthians e que as mulheres têm que aproveitar as oportunidades que surgiram.

"Eu tenho que ser realista, tenho que falar o que está dando certo, o que tem que ser exemplo. Hoje a gente vê o Corinthians sendo Corinthians. A gente vê uma estrutura de futebol feminino do Corinthians, a gente vê a valorização que o Corinthians dá para o futebol feminino e isso é bom para a modalidade. Se eles querem os clubes grandes, como São Paulo, Palmeiras, Corinthians, a gente tem que fazer bem feito. Sim, nós sempre tivemos nosso espaço, a gente precisava de oportunidade. Eu acredito que precisa querer fazer, precisa querer mudar. A gente vê bastante coisa ruim sobre o futebol feminino nas mídias, então tem que tentar fazer diferente. A gente precisava da oportunidade e a oportunidade está aí, a gente precisa aproveitar", afirmou a técnica. 

Daniela Alves, ex-jogadora e treinadora do sub-17 feminino do Corinthians, se mostrou grata com a homenagem que o museu fez à ela e reconheceu seu papel de espelho para outras mulheres.

"É uma honra receber homenagem em vida. A gente que lutou tanto e continua lutando por uma modalidade que sofreu muito e que, hoje está melhor. Receber uma homenagem por conta de algo que você fez é muito gratificante. Nós somos Dianas, somos mulheres maravilhas para outras mulheres que hoje conseguem ver a posibilidade de entrar na modalidade, porque o futebol feminino sempre existiu, escondido. Eu mesma, quando comecei a jogar, achei que era a única mulher no mundo que jogava futebol. É possível vocês buscarem o seu espaço, porque hoje elas nos vêem como referência, tanto na parte acadêmica como na parte do gramado. Esse é o nosso papel: poder abrir mais ainda esse leque para essas meninas. O futebol feminino, na minha visão, não regressa mais, ele só tende a crescer, a se ampliar, mesmo que tenha vindo de uma obrigatoriedade. A gente vê como uma conquista. É possível você chegar a uma Marta, é possível você chegar a uma Formiga, que, com 41 anos, está correndo do jeito que ela corre. A gente, dentro da nossa casa, não tem uma estrutura para isso. Mas a gente, como mulher, guerreiras que somos, fomos atrás, dando o melhor que temos”, disse a comandante.

Cristiane Gambaré, diretora de futebol feminino do Corinthians, falou do trabalho que está sendo feito no Corinthians e que, sem o apoio de federações, não é possível ir para frente.

"Estou no futebol há alguns anos, sempre nos bastidores. Quem tem que aparecer são as atletas, o meu clube, minha comissão. Hoje, a visibilidade do futebol feminino realmente depende de uma confederação, das federações e que os clubes tenham esse amor que a gente tem. Diariamente (no Corinthians), tem matérias dos bastidores e acontecimentos. Deu muito certo a integração com os torcedores. Hoje, a visibilidade é grande e o respeito é muito maior. Esse é o melhor ponto: o respeito que nós, gestores, temos com as atletas. Em contrapartida, o retorno está sendo isso, no campo, a visibilidade e o respeito e crescimento delas. Estamos no auge de mídias, estamos aparecendo no mundo inteiro, com a ação do 'Cale o Preconceito', a ação do 'Respeita as minas' e não vai parar. Já estamos planejando para 2020. A preocupação é constante! Nós precisamos, sim, nos unir nos bastidores para planejar e cobrar, da confederação e das federações”, explicou Cristiane.