Emily Lima, treinadora do time feminino do Santos, participou, neste sábado (6), de um debate sobre o futuro do futebol feminino no Museu do Futebol, em São Paulo. Ela falou da importância de se trabalhar, desde a base, com as jogadoras, além de dar sua opinião sobre a visibilidade da modalidade.

Após o debate, Emily concedeu entrevista exclusiva para os repórteres Carlos Borges, Isabella Molina e Letícia Denadai, da VAVEL Brasil

Sobre a obrigatoriedade dos clubes para montar seus times femininos, a treinadora disse que ainda há quem pense que é obrigação e outros é oportunidade.

"Alguns clubes estão observando como obrigação em ter (sobre os clubes montarem equipes femininas). Viemos em um evento como esse e escutamos a diretora de futebol do Corinthians (Cristiane Gambaré), tendo todo aval de Andrés Sanchez, dizendo que é uma oportunidade. Ainda vai ter esse debate de obrigação ou oportunidade. Os homens que ainda não entendem do desenvolvimento (da modalidade) verá como uma obrigação. Outros e outras vão perceber que é uma oportunidade de ter mais uma modalidade dentro do clube. Vamos ter os dois ainda por um tempo para que  a gente possa enraizar o futebol feminino nos clubes e falar 'agora não tem mais jeito'", afirmou Emily Lima.

Para Emily, essa Copa do Mundo significou ver, de perto, a evolução do futebol feminino, com as seleções mais preparadas durante a competição.

"Vimos uma evolução muito grande e a força da Europa. Lá, o futebol feminino era muito parecido com o praticado do Brasil, e olha como eles evoluíram em tão pouco tempo. As coisas não acontecem no nosso país devido aos gestores; eles não querem que aconteça. Mas não terá jeito, a força maior da obrigatoriedade virá. Eu fui à Copa, fiquei dez dias lá, assisti Brasil e Itália. De perto, dá para ver a evolução muito melhor do que pela televisão. Você vê as seleções muito bem organizadas dentro de campo, com padrão de jogo muito claro, atletas preparadas para disputar uma Copa do Mundo. Acho que me senti muito feliz de ver o desenvolvimento que está acontecendo no mundo do futebol feminino", declarou a técnica.

A treinadora ainda acha que o Brasil não está preparado para seder uma Copa do Mundo, pois não adianta querer receber sem investir no futebol feminino. 

"O Brasil está na disputa, mas acho que não está pronto. Não temos futebol feminino no país (de alto nível), como queremos receber? É muita hipocrisia da parte do Brasil. Temos que ter uma modalidade forte, fazer com que as pessoas queiram estar aqui. É claro que eles vão querer estar aqui por conta do clima, por conta de ser o Brasil, por sermos mais agradáveis e mais felizes. As pessoas gostam do Brasil, mas não queremos recebê-los somente por isso. Queremos receber para os outros verem o que temos a oferecer de diferente no futebol feminino. Muitos já vieram e fizeram isso com o futebol masculino. Eu os chamo de ladrões de ideia. Tanto que o Brasil não é mais potência no futebol masculino", ressaltou a treinadora.

Por último, Emily falou sobre a falta de jogadoras referência nos campeonatos nacionais. Para ela, as competições precisam ter  manter as principais jogadoras brasileiras e da seleção para aproximar a torcida.

"Qual a estratégia que os Estados Unidos faz para ter a melhor liga do mundo? Eles têm todas as atletas da seleção na liga e contratam todas as atletas dos outros países. As nossas boas atletas estão na liga americana, as atletas alemães estão lá, as australianas também. Precisamos, em primeiro, ter uma boa liga para atrair essas meninas a virem para cá, porque, para jogar aqui, pelo que se ganha, pelo que se oferece de estrutura, elas têm que buscar o que é melhor para elas. Estamos no zero. Precisamos ter mudanças de gestão dentro da CBF", finalizou Emily.