Empate no Serra Dourada. Em outros tempos, o Flamengo poderia avaliar um 2 a 2 na casa do Goiás como um resultado positivo. Mas em 2019 não é bem assim. Com ritmo firme e futebol acima de média, o atual líder e finalista da Libertadores sentiu a ausência de três titulares e se autossabotou  com o famoso "salto alto".

Devido à sequência de quatro jogos nos últimos 10 dias, o treinador Jorge Jesus optou por começar com o meia Gerson no banco de reservas e nem relacionar o lateral-direito Rafinha para o confronto em Goiânia — ambos por desgaste físico. O goleiro Diego Alves não viajou por causa de uma leve entorse no joelho. Assim, o time titular não foi visto no embate pela 29ª rodada do Brasileirão. E isso prejudicou.

O goleiro César começou entre os 11 iniciais, como Rodinei na lateral direita e Piris da Motta na volância. Foi assim que o sistema defensivo ficou desguarnecido pela direita, e a armação ficou reduzida no meio de campo.

Em todo o primeiro tempo contra o Goiás, o Flamengo conseguiu dominar os mandantes até os 30 minutos, mas depois sofreu com as investidas esmeraldinas. Foram somente quatro finalizações antes do intervalo, a mais perigosa num cabeceio de Pablo Marí, em bola parada, que acertou a trave de Tadeu. Em contraponto, o time goiano deu nove chutes. Entretanto, 1 a 1 no quesito de chute ao gol. Ressalta-se a posse de bola: 71% para o time carioca, que teve enormes dificuldades de criar chances, de rodar a bola com qualidade no ataque. Muito pela ausência de Gerson e noite não inspirada de Everton Ribeiro. Gabigol, por vezes, buscou jogo no meio de campo, saindo de sua posição ofensiva. Bruno Henrique era a única válvula de escape pelas pontas, com auxílio de Filipe Luís.

Na falta de armação... chama a bola aérea

Com a dificuldade de criar jogadas por baixo, o sistema ofensivo de Jorge Jesus demonstrou um bom repertório. Como recurso alternativo, o time buscou bolas aéreas. E teve sucesso.

Aos 10 minutos do segundo tempo, teve gol do Gabigol em rebote de Tadeu no cabeceio de Rodrigo Caio oriundo de escanteio. Aos 18', foi a vez do mesmo Rodrigo Caio empurrar às redes, em lance de córner, após desvio no meio da área. Ali, se via dois gols originados de bola parada. O time relaxou e se achou no controle da partida. Mas o líder e soberano time do campeonato não contava com a reação esmeraldina.

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo
Foto: Alexandre Vidal/CR Flamengo

Rodinei, o ponto fraco da defesa

Jesus tirou Arrascaeta e colocou Gerson aos 23', deixando Piris da Motta e Arão como dupla de volantes e Gerson mais à frente, agudo. No meio de tudo isso, a equipe de Ney Franco intensificou os ataques pela direita da defesa rubro-negra, justamente onde estava Rodinei. O lateral-direito reserva sofreu bastante.

Sensação do campeonato, o ponta-esquerda Michael viu o caminho do ouro por ali e deitou e rolou nas costas de Rodinei. E aos 32', o mesmo Michael gingou na frente do flamenguista e teve liberdade para dar o passe a Rafael Moura, que diminuiu o marcador, reacendendo as esperanças verdes. A partir do nível de desatenção despencou. 

Aos 81', o goleiro César toma cartão amarelo por retardar tiro de meta. Em plena pressão goiana, aos 89', César sai do gol de forma estabanada, dá chance clara ao Goiás e ainda toma cartão vermelho. A sorte flamenguista foi de que o Mister ainda não tinha feito a terceira alteração. E ela aconteceu com entrada do arqueiro da base Gabriel Batista no lugar de Vitinho — que ficou apenas 13 minutos em campo. Os jogadores do líder nacional se demonstravam com uma alta tensão após a expulsão. O jogo ficou nervoso ao ter cariocas entrando nas provocações goianas. Aí não deu outra.

Foto: Heber Gomes/Goiás EC
Foto: Heber Gomes/Goiás EC

Já nos acréscimos, aos 49 minutos do segundo tempo, Michael é lançados nas costas de Rodinei, que não fechou bem sua lateral, e o atacante da casa não titubeou na cara do jovem goleiro: um tapa na saída para dar a igualdade ao placar em 2 a 2.


Analisando ao todo, a atuação carioca foi abaixo do "padrão Flamengo de qualidade". A inteligência e versatilidade de Gerson fizeram falta. A capacidade de marcação e senso de atalhos do campo de Rafinha também fizeram falta. A experiência do goleiro Diego Alves foi outro ponto que teve a ausência sentida.

Ao final do jogo, os números dos reservas deixaram a desejar: César teve 66,7% de aproveitamento de defesa (Diego Alves tem 78% em média), Rodinei participou de 56 ações com a bola (Rafinha tem 74 em média); e Piris da Motta acertou 77% dos passes no campo de ataque (a média de Gerson é 89%).

Fala, Mister!

Depois do jogo, em coletiva, Jorge Jesus analisou toda a partida e admitiu a falta de concentração flamenguista após abrir o 2 a 0 no placar.

"Depois de estar ganhando de 2 a 0, nos últimos 15 minutos, tanto eu como a equipe não esperávamos que pudesse acontecer uma volta no resultado [..] A expulsão do César colocou a equipe... Hoje poderíamos ter saído daqui com os três pontos. Nitidamente perdemos dois pontos pelo fato de nos últimos 15 minutos, tudo que aconteceu no jogo, não conseguimos ter um equilibro emocional, fomos surpreendidos com as duas possibilidade de gol da equipe do Goiás [...] Claro que sentimos que perdemos dois pontos, mas também contabilizamos um ponto."

"Não se pode culpar o gramado ou nada. Quando time o está vencendo por 2 a 0, tem que estar focado no jogo. O Flamengo passou a focar em discussões, toda a equipe ficou desconcentrada."


Sendo assim, a distância do líder para o vice Palmeiras caiu de 10 para oito pontos, ligando a luz de alerta não pela distância, mas pelo "salto alto" do time em determinados jogos. Esse é o fator que o Mister português já tratou de puxar a orelha do elenco.

E na próxima rodada, o Flamengo joga no Maracanã, diante do Corinthians, às 16h do domingo (03). Depois, a sequência carioca tem Botafogo (no RJ), Bahia (na BA), Vasco (no RJ) e Grêmio (no RS) antes da final da Libertadores contra o River Plate, às 17h30 do sábado, dia 23 de novembro.