Crônica: a
tese ‘o cruzeirense só acompanha o time nos momentos bons’ foi enterrada  
Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro

Um ponto de vista se arrastava e confrontava-se com suas contradições, no entanto, era cega a elas. Tratou-se de um senso comum do meio cultural futebolístico brasileiro, numa espécie de ‘ditado popular do futebol’. Ora, a ideia do torcedor do Cruzeiro como sendo um elemento ausente às baixas de sua equipe, foi erroneamente notada até por seus próprios fieis.

De idioma ‘mineirês’, atrelado a um regionalismo, atleticanos e alguns cruzeirenses se coincidiam nesta ideia - não bastava o laço criado numa situação de luta contra o rebaixamento em 2011, ou, até mesmo, a média de 39.444 pessoas nos três primeiros jogos do Campeonato Mineiro de 2018, entre outras provas de fidelidade. De fato, a presença massiva de torcedores da Raposa jamais esteve ligada apenas a momentos ou jogos de êxito.

Mas seriam necessárias mais provas, e o cenário estabelecido em 2019 mediante à péssima gestão do clube parecia o ideal para, de vez, desconstruir tal ditado popular. A média de público do Cruzeiro neste ano no Campeonato Brasileiro foi de 22.438. Sua oitava colocação dentre as equipes com melhores médias iniciaria uma mudança de impressão desta torcida. No entanto, superar o número de times de expressão como Internacional, Grêmio e o próprio rival Atlético-MG, não tornavam alguns críticos convicto. Lembremos que a média poderia ser maior, se o medo não tomasse conta e impedissem a ida de muitos ao Mineirão.

Pois bem, foi essencial um espaço de seis dias, numa participação ativa do torcedor, modificando os rumos celestes para que se enterrasse a tese ‘O Cruzeiro só acompanha o time nos momentos bons’. Entre 13 a 16 de dezembro, os torcedores, já rebaixados para a segunda divisão, iniciaram manifestações nas ruas contra todos os horrores envolvendo seu time de coração. Antes disso, abaixo-assinados e cartas abertas deixavam claros fieis fora da zona de conforto, dispostos a intervir para impedir, ainda, o pior, como a possibilidade de um Cruzeiro que fechasse as portas.

O pedido era simples, as renúncias dos responsáveis. O efeito surtiu efeito e, numa quinta-feira (19 de dezembro), Wagner Pires de Sá, e o primeiro vice-presidente, Hermínio Francisco Lemos, renunciaram.

Os problemas não foram resolvidos ainda, mas o cruzeirense migrou da condição de infiel para ativo e tomador de decisões do clube, crucial no impedimento do fim. O torcedor acompanha e partida nos momentos ruins. Fim do ditado popular!

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