Antes de começar o texto, é necessário pontuar que esse jornalista que vos fala é um grande entusiasta de conhecer estádios pelo Brasil e pelo mundo. Já tendo visitado cerca de 16 estádios diferentes no Brasil, nos estados do Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Bahia. E possuindo uma lista com mais de 100 estádios para conhecer. Procuro ir sempre na torcida mandante e só vou de visitante quando é jogo do meu time fora do estado.

Dito isso, eu resolvi aproveitar o Campeonato Carioca 2020 para conhecer diversos estádios. Consegui ir em três muito tradicionais: Estádio de Moça Bonita em Bangu, Estádio Conselheiro Galvão em Madureira e Estádio Édson Passos em Mesquita.

Contarei a experiência numa série de três reportagens. A primeira delas foi sobre o estádio de Moça Bonita, você pode conferir clicando aqui. A segunda foi sobre Conselheiro Galvão, que também pode conferir clicando aqui. Hoje falaremos sobre Édson Passos, estádio do América.

América x Friburguense

Popularmente conhecimento como Édson Passos, mas de nome oficial Giulite Coutinho, o estádio do América é longe. Principalmente para quem precisou sair de São Gonçalo até Mesquita em um sábado a tarde.

Cerca de 60km entre minha casa e o local da partida. Mesmo com a distância, não foi tão difícil chegar. Um ônibus e um trem, e já estava na porta do estádio. Vale destacar que o trem estava lotado de botafoguenses que foram na apresentação de Honda no estádio Nilton Santos. E no dia da chegada de um japonês, outro nipônico foi o cara do jogo entre América e Friburguense.

Aliás, vale destacar o completo absurdo que são os trens da SuperVia aos finais de semana e feriados. O ramal de Japeri normalmente passa por 11 estações até Édson Passos, ele passou por 23 até chegar ao estádio, tudo isso pois ele vira parador. Uma viagem que dura cerca de 40 minutos, levou 1h30min pra ser feita.

Legenda: Estádio Giulite Coutinho mostra marcas do tempo (Foto: Edilson Dias)
Legenda: Estádio Giulite Coutinho mostra marcas do tempo (Foto: Edilson Dias)

Com tanta dificuldade, cheguei com bola rolando e com exatos 20 minutos de jogo. Era uma falta para o América cobrar. Bola levantada na área e Breno mandou para o fundo das redes, 1 a 0. Festa da torcida rubra no Giulite Coutinho.

Não demorou muito e apenas quatro minutos depois, chutão da defesa para o ataque, o goleiro do Friburguense saiu mal e novamente Breno com tranquilidade driblou o goleiro e chutou para o fundo do gol ampliando o placar, América 2 a 0 no Friburguense. Aparentemente dei sorte para Mecão.

A torcida americana era um misto de alegria com tensão. A maior parte dos presentes na arquibancada possuíam cabelos brancos e reclamavam de tudo que era possível. Da arbitragem, do bandeirinha, do Sol, do salário atrasado e ouvi até um torcedor levantando a questão de manipulação de resultados que está sendo investigado no Campeonato Carioca Série C.

Torcedores mantém viva a paixão pelo América (Foto: Edilson Dias)
Torcedores mantém viva a paixão pelo América (Foto: Edilson Dias)

No meio disso tudo, o Friburguense dava trabalho. E em cobrança de bola parada diminuiu o placar. Bruno Leal completou cruzamento que veio da esquerda para fazer o primeiro do time de Nova Friburgo.

Para quem acha que Honda é o único japonês no futebol Carioca, está enganado. Toshiya, atacante do Friburguense está por aqui a duas temporadas e mostrou qualidade. O jogador foi incisivo e ganhou quase todas as jogadas em cima do lateral esquerdo do América. Isso gerou muita reclamação de toda a torcida.

O clima na arquibancada era totalmente diferente de grandes jogos. Me lembrou o clima em Moça Bonita, onde boa parte dos torcedores tinha mais idade e já se conheciam. Boa parte dos torcedores americanos tinham certa amizade entre si e conversavam e trocavam opiniões sobre a partida.

Intervalo de jogo e fui conferir o estádio, já que cheguei atrasado na partida. O setor onde os torcedores do América estavam alocados tinha boa estrutura, bem pintado, na sombra e corria um vento que amenizava o calor que fazia em Mesquita. A exceção era o banheiro, que estava em péssimo estado de conservação.

Já onde os torcedores do Friburguense estavam, a pintura deixava a deseja e o Sol era constante. Aliás, cerca de 20 torcedores viajaram mais de 170km de Nova Friburgo até Mesquita para acompanhar a partida.

Iniciada a segunda etapa e pude notar que a torcida inteira tinha trocado de lugar e foram para o lado em que o América atacava. A partida se mantinha parelha até a parada técnica. Foi quando o japonês Toshiya, do Friburguense, resolveu voltar a aparecer.

Nesta altura, a torcida americana já mostrava preocupação com o resultado da outra partida do Grupo X. Quase todos os celulares dos mais jovens apitavam sem parar "Gol do Americano". E o placar apontava Americano 3 a 0 Nova Iguaçu, o que deixava a situação complicada para o Mecão.

De tanta pressionar, o Friburguense foi criando boas jogadas. O goleiro Deola salvou a equipe em duas boas defesas a queima roupa. Foi quando aconteceu o lance mais polêmico da partida. Cruzamento da direita, a bola cruzou toda a área do América e de peito, Toshyia escorou para o fundo das redes. O nome do jogo, o outro japonês no futebol Carioca, empatava a partida e gerava uma grande reclamação e frustração na torcida americana.

Todo o banco de reservas, atletas em campo e torcida rubra começaram a reclamar do juiz, afirmando que o gol teria sido com a mão. Mais exaltado, um jogador que estava de fora, ironizou a arbitragem, aplaudindo a sua atuação. O árbitro prontamente o expulso e deu cartão amarelo para o treinador.

Do momento do gol, que saiu aos 36 minutos, até o final da partida, foram inúmeros xingamentos e reclamações de toda torcida do América. Algumas direcionada aos jogadores, como "Vai caçar uma obra! Porque futebol você não sabe jogar.", "Os que estão em campo são ruins, os do banco são ainda piores.". E outras direcionadas ao bandeirinha e ao juiz que não cabem citar nesse texto pelo nível das palavras usadas.

Cada minuto que passava a situação ficava ainda mais tensa. E na outra partida, o Americano fazia o quarto gol, para desespero da torcida. Alguns gritos de incentivos foram entoados, como o famoso "Saaangue" e nos minutos finais o América conseguiu pressionar nas bolas paradas. Em uma delas, a bola cruzou toda a área, passou pelo goleiro, mas o zagueiro do Friburguense cortou em cima da linha.

Placa de quatro minutos levantada e mais reclamações da arquibancada. A gota d'água foi após dois atletas do Friburguense caírem no chão já nos acréscimos e o juiz não acrescentar o tempo perdido. Torcedores, jogadores e comissão técnica pressionaram o árbitro por ele ter terminado o jogo sem dar os devidos acréscimos e pelo lance polêmico no segundo gol do Frizão

Legenda: Torcida Americana aguardando o árbitro para protestar (Foto: Edilson Dias)
Legenda: Torcida Americana aguardando o árbitro para protestar (Foto: Edilson Dias)

Entre os mais exaltados estava o experiente goleiro Deola, com passagem pelo Palmeiras, ele foi até a mesa do delegado da partida e reclamou bastante. A torcida gritou o seu nome, dando apoio a reclamação do arqueiro e mostrando sua indignação com a partida.

O resultado mantém as duas equipes com chances de se livrarem do rebaixamento já no Grupo X. Ambas possuem cinco pontos, enquanto o líder Americano possui 7 pontos, restam duas rodadas. Caso fiquem entre os três últimos, América e Friburguense disputaram o Grupo Z, onde uma equipe será rebaixada para a Série B1 do Carioca.

O placar no estádio Giulite Coutinho apontava 2 a 2, foi quando reparei que era o mesmo placar eletrônico do antigo Maracanã. A tarde de Sol em Mesquita finalizou uma sequência de 3 jogos, em duas semanas que pude fazer por alguns estádios tradicionais do futebol Carioca.

Legenda: Placar eletrônico do antigo Maracanã no estádio do América (Foto: Edilson Dias)
Legenda: Placar eletrônico do antigo Maracanã no estádio do América (Foto: Edilson Dias)

Com esse final ficaram algumas opiniões. O estádio mais bonito e conservado foi o de Conselheiro Galvão em Madureira. O mais quente e fácil de chegar foi Moça Bonita em Bangu. Já o que teve a melhor partida e a maior reclamação foi o Giulite Coutinho do América.

Cada torcida tem sua peculiaridade, cada estádio tem seus prós e contras, alguns são mais fáceis de chegar, outros nem tanto. Mas a verdade é que a experiência de poder acompanhar uma partida de futebol nessas três importantes praças do futebol Carioca foi incrível. E recomendo para todos os amantes de futebol: se puderem ir, ao menos uma vez, VÁ!

Gostaria de parabenizar a todas as torcidas que vi nesses três jogos, do Bangu, Madureira, Volta Redonda, América e Friburguense. Mostraram que o amor existe independente da situação do clube.


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