A Seleção Americana faturou o terceiro título da SheBelieves Cup na noite da última quarta-feira (11), diante do Japão. A comemoração perdeu o brilho devido as declarações da Federação de Futebol dos EUA no processo judicial movido pelas jogadoras, buscando a igualdade de gêneros dentro da modalidade. Na ação, a entidade descreveu que as mulheres não se qualificam para receber ajuda sob a a Lei da Igualdade de Pagamento e a Lei dos Direitos Civis de 1964.
"Não é suficiente tornar indiscutível que os trabalhos dos jogadores exigem esforço igual. [...] A capacidade geral de jogar futebol exigida para competir na seleção nacional masculina é influenciada materialmente pelo nível de certos atributos físicos", e acrescenta, "como velocidade e força, necessárias para o trabalho".
Apesar da seleção feminina ser tetracampeã mundial (1991, 1999, 2015 e 2019), oito títulos da Copa Ouro (torneio da CONCACAF) e tetracampeã olímpica (Atlanta-1996, Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012), além de ter uma de medalha de prata conquistada no ano de 2000, de Sydney, ao passo que a masculina possui apenas seis conquistas dentro do continente, não é o bastante para a Federação concordar com a superioridade das atletas, nas quais são preteridas.
"Existe um número significativamente maior de competições no futebol internacional masculino do que no futebol internacional feminino, mesmo quando se avalia a questão em termos relativos".
A batalha nos tribunais pede o fim da discriminação de gênero, uma vez que a seleção feminina recebe menos do que a masculina, fora os 66 milhões de dólares por indenizações dentro das leis estadunidenses.
Antes da bola rolar para Estados Unidos x Japão, as jogadoras usaram uniformes do avesso durante os aquecimentos e hino nacional, em forma de protesto. Apenas as quatro estrelas dos mundiais ficaram visíveis.
Carli Lloyd, atacante e capitã da Seleção, relatou a decisão tomada em conjunto com suas companheiras, onde a imagem valeu mais que palavras.
"Acabamos de decidir hoje como um grupo, e todos estavam dentro. E acho que foi apenas uma mensagem poderosa, sem precisar realmente enviar uma mensagem. Estou realmente orgulhoso desse grupo porque isso não é uma coisa fácil. Como eu disse, não queremos estar nessa posição, mas estamos aqui e precisa melhorar ”.
Molly Levinson, porta-voz das jogadoras no processo, em nota lamentou o inadmissível episódio.
“Queríamos nos unir como equipe e fazer uma declaração em nome de todas as mulheres e meninas de que os comentários da federação são inaceitáveis. Adoramos esse esporte e esse país, e não podemos suportar esse tratamento misógino”.
Por meio de suas redes, Christen Press descreveu o amor pelo futebol, porém reforçou a igualdade em todos os ambientes de trabalho.
"É uma grande honra da minha vida praticar esse esporte e representar este país. Toda mulher merece salário igual e toda instituição em qualquer lugar que não valorize tanto as mulheres quanto os homens deve mudar agora".
It is the great honor of my life to play this sport and represent this country. Every woman deserves equal pay and every institution anywhere that doesn’t value women as much as men must change now. pic.twitter.com/XGR9rYFNKD
— Christen Press (@ChristenPress) March 12, 2020
Melhor jogadora do mundo, Megan Rapinoe, ícone da luta durante a Copa do Mundo de 2019, não escondeu as decepções depois da conquista da SheBelieves Cup, reforça oportunidades iguais para ambos.
"Eu só quero dizer que é tudo falso. Para todas as garotas por aí, para todos os garotos por aí, que assistem a esse time, que querem estar nesse time ou apenas querem viver o sonho deles, você não é menor apenas porque é uma menina. Você não é melhor apenas porque é um menino. Todos somos criados iguais e devemos ter a mesma oportunidade de sair e perseguir nossos sonhos ".
Horas depois do término da partida, Carlos Cordeiro, presidente da Federação de Futebol dos EUA, pediu desculpas pelo ocorrido e salientou dizendo que as atletas são talentosas e lembradas de todas as conquistas.
A equipe mais vencedora do futebol feminino persiste pelo reconhecimento igualitário, principalmente para futura geração. O julgamento está programado para o 5 de maio. A Seleção Americana vira exemplo para as demais, que tentam trilhar o mesmo caminho: tanto técnico e exemplo.