A prefeitura do Rio, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e os clubes que disputam o Campeonato Carioca se reuniram neste domingo (24), no Riocentro, para discutir sobre a volta do futebol, mesmo com os elevados números de casos de Covid-19, tanto no estado, quanto no país. Após o encontro, ficou definido que os treinos devem ser liberados a partir de terça-feira (26) e os jogos, inicialmente sem público, a partir de 14 de junho.

No entanto, a ideia inicial seria liberar os treinos no dia 8 de junho e os jogos em 10 julho. Mas a pressão liderada por Flamengo e Vasco, que têm o apoio dos clubes pequenos e da Federação, fez com o que o prefeito Marcelo Crivella cedesse.

Fluminense e Botafogo não enviaram representantes para a reunião

Contrários ao retorno das atividades durante a pandemia do novo coronavírus, Fluminense e Botafogo não enviaram representantes para a reunião. E divulgaram notas em suas páginas oficiais sobre o assunto.

O Tricolor afirmou que não recebeu qualquer convite sobre a reunião. E reafirmou que só voltará às atividades quando houver respaldo das autoridades de saúde. Ainda segundo a nota, o clube entende as razões econômicas envolvidas, mas que preza, em primeiro lugar, a segurança dos atletas, dos profissionais do clube e da torcida.

Confira abaixo a nota na íntegra:

O Fluminense Football Club esclarece que não recebeu qualquer convite formal do gabinete do Prefeito do Rio de Janeiro para uma reunião com os clubes de futebol. A convocação, feita por whatsapp, partiu da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, sem que houvesse informação e muito menos discussão prévia do tema a ser tratado com a autoridade máxima do governo da capital. O Fluminense optou por manter-se apenas em observação, sem que isso signifique qualquer posicionamento em relação à reunião, pois dela não tem informações.

Se há um posicionamento do Fluminense, esse sim reafirma-se agora nesta nota, é a decisão de somente voltar ao futebol quando as autoridades de saúde emitirem parecer respaldado pela comunidade científica autorizando a volta dos treinos presenciais e jogos, com indicações claras de procedimentos e normas.

O Fluminense reitera seu respeito à independência das decisões tomadas por outros clubes e se coloca, de forma solidária, à disposição para os debates em torno do tema, desde que se deem no ambiente da ciência. E tomando por base uma visão clara da realidade do que está ocorrendo nos hospitais da rede pública de saúde onde é tratada a maioria de nossos torcedores, bem como de projeções feitas por autoridades sanitárias competentes sobre a curva de contaminação, sobre o comportamento social  diante da necessidade de isolamento, a perspectivas de tratamentos e formas de prevenção. Enfim, das melhores informações disponíveis sobre a possibilidade de retorno de jogos.

O Fluminense entende a necessidade de volta dos jogos em razão de pressões econômicas, sobretudo entre os clubes de menor possibilidade financeira. Tanto assim que vem ele mesmo promovendo uma série de ações, como o lançamento de seu novo uniforme, descontos de incentivo para os sócios permanecerem em dia com suas mensalidades, ações de aproximação e exposição da marca de nossos patrocinadores, entre várias outras que ainda estão por vir. Mas não dará um passo em direção ao campo enquanto não houver certeza sobre as condições seguras para nossos atletas, nossos profissionais e nossa torcida.

Nosso entendimento é de que jogos sem público não impedem aglomerações. Se não forem ao estádio, as pessoas se juntarão em frente a televisores de bares, que insistem em permanecer abertos, sobretudo nas periferias, onde o isolamento social tem tido menor adesão. O futebol, por movimentar paixões, deve estar ciente de seu compromisso social e não alimentar ansiedades.

O retorno aos treinos e campos não é apenas uma questão de saber como se poderá voltar. Ou seja, não se trata apenas de protocolos médicos. É também uma questão de quando, pois precisam ser colocadas em perspectiva todas as influências que o futebol pode causar. Saber o momento certo da curva de contaminação e nos locais certos são fatores que devem se somar ao “como” que está expresso em protocolos.

Sabemos que, como clube, estamos bem acompanhados nessa discussão. E não falo apenas dos clubes que mantém posição igualmente firme pelo não retorno neste momento. Estamos acompanhados de milhares de profissionais de saúde, cientistas e gestores públicos que conhecem melhor do que todos a gravidade da pandemia e suas consequências para a vida de todo”.

Mais tarde, o Botafogo também se manifestou sobre a reunião. Através do presidente do clube, Nelson Mufarrej, o clube reiterou o posicionamento contrário ao retorno dos treinos presenciais enquanto a situação estiver preocupante. Ainda lembrou que atitudes precipitadas podem piorar ainda mais o atual cenário.

Confira a nota na íntegra:

A posição do Botafogo sobre o tema é cristalina para o público e para o próprio Prefeito, que conhecia plenamente a nossa linha de pensamento antes da reunião. Não era necessário expor nossa diretoria aos riscos de sair de casa para participar, seria até incoerente com o nosso discurso.

Reafirmamos não ser o momento para voltar a ter treinos presenciais. O futebol é um instrumento de altíssimo impacto e repercussão social. Passar essa imagem de retorno imediato, no auge da crise, de mortes, com a curva ainda em ascensão, é estar em desconexão com a realidade. Além de desumana é insensível do ponto de vista interno, com nossos atletas, comissão técnica, funcionários e seus familiares. Vai chegar a hora de voltarmos, mas não será agora.

Nosso papel é direcionar a consciência coletiva no sentido de que o momento é de se preservar e ficar em casa. Cuidar de si, familiares e amigos. O contexto pede capacidade analítica para nós dirigentes que, de sobremaneira, influenciamos a vida de pessoas. Muitos países afrouxaram o isolamento e estão pagando por essa precipitação. O momento é de bons exemplos de quem pauta a sociedade e o Botafogo está seguro e convicto de suas posições”.