Sem nenhuma dúvida, a volta do Campeonato Carioca está longe de ser uma unanimidade no mundo do esporte brasileiro. De qualquer forma, a bola rolou na noite da última quinta-feira (18) num Maracanã vazio e literalmente ao lado de um dos hospitais de campanha contra o Covid-19 da capital do estado. O placar de 3 a 0 do Flamengo sobre o Bangu talvez não seja assunto principal neste turbulento retorno, mas, sim, os bastidores da partida.

Tanto o governo estadual do Rio quanto o governo federal têm imensa dificuldade para alinhar as políticas e medidas a fim de combater a pandemia, entretanto, para a volta do futebol, algumas precauções precisam ser tomadas. Além dos testes que a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) banca aos times — exceto ao Flamengo, que bancou seus próprios kits —, outros profissionais envolvidos nos jogos também precisam de testagem, como toda a equipe de arbitragem, novamente auxiliada pela FFERJ.

Além do árbitro de Bangu x Flamengo, Wagner do Nascimento Magalhães, os outros dois assistentes e o quarto árbitro também passaram por testes rápidos nas horas que antecederam o confronto.

No entanto, mesmo com a recomendação para evitar aglomerações, alguns torcedores do Flamengo estavam na entrada do Maracanã para recepcionar e apoiar os atletas:

Também houve aqueles que se organizaram em torcidas antifascistas de Flamengo, Botafogo, Bangu, Vasco, América e Fluminense, e protestaram contra o Presidente da República, Jair Bolsonaro, com a faixa de dizeres: "Fora, Bolsonaro. Chega de mortes" e "Ditadura nunca mais":

Assim que saíam dos ônibus de seus clubes, os jogadores e toda comissão técnica e administrativa passaram por medidores de temperatura. O funcionário responsável pelo aparelho estava autorizado a barrar qualquer pessoa que apresentasse uma temperatura corporal acima dos 38ºC — o que caracteriza febre, um dos sintomas fortes do novo coronavírus —, fosse ela atleta, jornalista ou autoridade, por exemplo. Veja um jogador do Bangu passando pelo processo:

Depois de terem a temperatura medida, os atletas precisaram passar por um "portão" de higienização, que espirrava uma solução com água e álcool:

Enquanto isso, instantes antes da chegada dos jogadores, equipes de higienização desinfectaram os vestiários do Maracanã:

Depois dessas medidas antes do jogo começar, a bola rolou. O jogo em si, dentro das quatro linhas, não foi muito atípico. Detentor do favoritismo, o Flamengo derrotou o Bangu pelo placar de 3 a 0 e não sofreu nenhum pouco para chegar a tal resultado. A tão falada intensidade imposta por Jorge Jesus pareceu que não ficou de quarentena, ainda mais com a possibilidade de fazer cinco substituições durante a partida. Arrascaeta, Bruno Henrique e Pedro Rocha marcaram os gols com as bolas que sempre recebiam cuidados exclusivos nas mãos dos gandulas:

E durante o intervalo de jogo, após o primeiro tempo, os dois bancos de reservas, onde os jogadores suplentes ficavam sentados em bancos alternados para respeitar o distanciamento social — passaram por uma nova série de higienização na medida que os jogadores conversavam com seus técnicos no vestiários:

E foi dessa forma que o futebol brasileiro viu o estado do Rio de Janeiro ser o primeiro do país a retomar os jogos oficiais, longe da unanimidade e cercado de críticas e elogios por parte da imprensa e das torcidas. Então, para fechar, uma imagem capturada horas antes de Bangu x Flamengo pelo fotógrafo André Durão, que mostra o palco de um jogo de futebol bem ao lado de um palco na luta pela vida:

Estádio Maracanã bem ao lado do hospital de campanha Maracanã (Foto: Reprodução / André Durão)
Estádio Maracanã bem ao lado do hospital de campanha Maracanã (Foto: Reprodução / André Durão)