Rafinha esteve, pela última vez, no Ninho do Urubu nesta segunda-feira (17) para se despedir dos agora ex-companheiros, recolher seus pertences e conceder uma entrevista coletiva, proposta por ele mesmo. O lateral-direito teve sua saída oficializada pelo vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, há três dias, com destino ao Olympiacos, da Grécia.

Gabriel Barbosa e Filipe Luís apareceram na sala de entrevista antes do início para brincar e agradecer ao amigo, como disse o lateral-esquerdo.

Nós te amamos, obrigado por tudo que fez por nós. Você deixou um legado. O que vem vai ter que suar para chegar na sola da tua chuteira”.

Emocionado, Rafinha fez questão de afirmar à torcida rubro-negra que tomar a decisão de partir não foi fácil e que é muito grato ao clube. Pelo time da Gávea, foram 46 jogos, oito assistências e muitas taças levantadas em pouco mais de um ano: Carioca, Brasileirão, Libertadores, Recopa e Supercopa.

Momento difícil para mim. Queria agradecer por tudo. Vim pelo desafio de tentar triunfar no Brasil e consegui. Isso que ficou. Vai ficar marcado. Realizei sonhos... campeão do Brasileiro e da Libertadores. Com 34 anos, ainda ter mercado na Europa é um prêmio. Meus companheiros são prova de que dei meu sangue. Em alguns momentos fui para o sacrifício, principalmente quando tive a lesão no rosto. Foi uma situação de risco, mas encarei e deu resultado. Vivi momentos que ficarão marcados. O embarque para a Libertadores e para o Mundial ninguém vai apagar. O desfile depois do título ficará marcado. Agora chegou a hora de encarar mais um desafio. É uma decisão difícil, tive que pensar muito. Tomei decisão com o coração partido. Saio com sensação de dever cumprido”.

O defensor deu mais detalhes de quando recebeu a proposta do Olympiacos e do relevante aumento salarial colocado pelos gregos, mas explicou que a questão financeira não foi o único fator considerado.

É algo que envolve muita coisa, também da minha família. Recebi a proposta antes do jogo contra o Atlético-GO. Sabia que havia interesse de outros clubes, mas não do Olympiacos. Era meio-dia da quarta-feira, foi uma decisão difícil e muito rápida. Tenho família, tenho filhos e isso pesou muito na decisão. Vim para o Flamengo com o coração mesmo. Vim com esse desafio, triunfei e conquistei todos os títulos possíveis. Agora, foi uma decisão com o coração, mas também com a cabeça. Tenho poucos anos de carreira pela frente. Não é só pela parte financeira. Para mim, é um prêmio receber essa proposta com 34 anos e voltar a jogar a Champions”.

O contrato com o Rubro-negro era válido até junho de 2021. Houve conversas com a diretoria para tratar de renovação, porém a pandemia e a saída de Jorge Jesus adiaram o processo. O clube carioca também realizou reuniões para tentar convencê-lo a ficar, propondo ajuste salarial. Rafinha deu sua versão sobre a questão.

Não é que não avançou. Meu representante tinha uma reunião marcada com o Flamengo para esta segunda-feira, mas não aconteceu porque chegou a proposta. O Flamengo fez tudo para que eu permanecesse. Tive que pensar muito para decidir isso. Tenho minha vida, minha família e poucos anos de futebol. Esse foi o motivo. Minha cabeça está tranquila. Sim, fizeram uma contraproposta muito boa, mas já estava decidido na minha cabeça. Queria viver isso, deixei claro o meu desejo. Devido a tudo isso que está acontecendo no mundo. O Flamengo vive um momento maravilhoso, ganhou tudo. Perdeu dois jogos, mas o momento de instabilidade é zero. Ganhamos 50 jogos. É um técnico novo, competição nova, sem torcida... É um momento em que quero um desafio novo”.

Saída de Rafinha tem a ver com a saída do Mister?

Ele ainda enfatizou que, ao contrário do que muitos pensaram, a saída do técnico Jorge Jesus para o Benfica não pesou em sua decisão.

Não interfere em nada na minha saída. Ele já está no Benfica, não está mais com a gente. O futebol é muito dinâmico, treinadores vão e voltam, jogadores também... Então, não adianta fazermos planos. As coisas acontecem de um dia para o outro”.

Companheiros de Flamengo

Um dos momentos de maior emoção para o lateral foi para falar sobre seus ex-companheiros, relatando que sempre se preocupava em deixar o ambiente saudável e unido.

Esses moleques sabem muito o quanto eu me dediquei para que o grupo seguisse fechado. Tenho esse espírito de liderança, coloquei algumas regras que uns gostavam, outros não. Mas sempre tentei deixar o vestiário com o melhor ambiente possível. Por isso, fiz muitos churrascos. Todos têm problemas em casa, mas tentei deixar o ambiente de trabalho bom”.

Vinda do chileno Isla para a lateral-direita

Sobre a chegada de Isla para substituí-lo, Rafinha garantiu sua aprovação e enfatizou que o chileno está vindo para um clube gigante. Mas também deixou clara sua confiança no jovem João Lucas para a posição.

Com certeza é um grande jogador. Procurei tirar informações dele, que jogou muito tempo com o Vidal na seleção chilena. Ele está vindo para um grande clube e também para passar (para ele) o que é o Flamengo. Está bem servido, sim. Tem muita experiência na Europa, está vindo para um dos maiores clubes do mundo, o maior do Brasil, campeão de tudo. Não há melhor referência. Falei com o João, sim. Todo mundo sabe a confiança que ele tem do grupo. É um menino muito bom, que precisa ter continuidade para mostrar a qualidade que tem. Não gosto de ficar falando de quem não está aqui por não ser problema nosso. São bons jogadores, mas quem está no Flamengo também é muito bom”.

Agradecimento à Nação Rubro-Negra

Rafinha finalizou com um agradecimento especial à torcida do Flamengo, que, segundo ele, não há igual. E teve a difícil missão de escolher seu momento mais marcante na vitoriosa passagem pelo clube.

O que posso resumir é o amor e a paixão que os torcedores têm por esse clube. Nunca vi na minha vida uma coisa parecida. Quero agradecer a todos os torcedores que fizeram com que eu passasse por isso. O que levo daqui é só paixão e amor. Quero aproveitar e agradecer aos torcedores que me deram apoio e me cobraram quando tinham que cobrar. Foram tantos momentos bons, mas vou ficar com aquele da Libertadores quando voltamos. Aquela chegada no Rio de Janeiro, com dois aviões da força aérea, dois caças, depois fomos para o trio e vai ficar eternizado. Nunca vi uma coisa daquela na minha vida. Foi o mais marcante”.