Dener Matheus Gabino tem 26 anos e é o mais novo dos três filhos do Cometa. Como “filho de peixe, peixinho é”, o xará do pai também tentou seguir carreira no futebol, mas sem sucesso. Lateral direito na base da Portuguesa, o jovem comentou sobre sua carreira e os problemas que levaram ao fim dela.

O caçula também falou sobre como é ser filho do Cometa Brasileiro e sobre a memória dele. O jovem ressaltou o carinho das pessoas pelo “Reizinho” e as reações ao descobrirem a identidade do seu pai.     

“Parece que meu pai jogou por 26 anos e se aposentou há três anos. Mas, foi ao contrário.”

Atualmente, Dener Gabino (@denermatheus) cursa Direito e pretende realizar uma Pós-Graduação em Direito Desportivo. O estudante pretende se manter no mundo do futebol, até porque é o velho ditado: “filho de peixe…” . O jovem possui, junto com sua esposa Juliana Carvalho, uma loja de vestuário, a DNR Store.

 

Confira a entrevista na íntegra com Dener Gabino

VAVEL Brasil: Após a reportagem do Esporte Espetacular, saiu na mídia que vocês estavam tentando recuperar o carro Mitsubishi do seu pai, o qual estava com o ex vice-presidente de futebol do Vasco. Como está esse processo. O que vocês pretendem fazer com o carro?

Dener Gabino: Não posso falar muito do carro. Mas, nós conseguimos a liberação do carro que estava com algumas pendências do carro. Inclusive, nós estamos querendo reformar o carro e temos a ideia de fazer uma série sobre essa reforma com o amor de um homem ou de mulher por futebol e por veículo. Então, nós conseguimos uma parceria com a “Admension Customs”, especialista em reforma de carro, e é uma equipe muita boa. Também conseguimos uma parceria com uma produtora chamada “New Side”, com a qual estamos fazendo um teaser da nossa ideia. Vamos começar a apresentar a ideia alguns interessados e estamos buscamos plataformas de streaming, canais abertos ou algum canal no YouTube. Toda a questão judicial para a liberação do carro foi feita pelo advogado Marcel Marquesi da “Rocca, Stahl, Zveibil & Marquesi Adovogados”.

VAVEL Brasil: Vocês três tentaram seguir carreira de jogador. Até que ponto ser filho do Dener foi uma vantagem e até que ponto foi uma desvantagem? Acredita que isso vai interferir também para o Rafael?

Dener Gabino: As vantagens são as mordomias, como ter um motorista, poder tomar café na sala do presidente depois do treinos. E a desvantagem é a comparação com o Dener, o craque que meu pai foi. Muitos diziam “ah, seu pai fazia”. Fica uma comparação incomparável. De certa forma, nos prejudicou. Acredito que no Rafael não vai interferir tanto, porque nós já deixamos ele bem calejado quanto a isso, apesar de ele ser pequeno. Nós vamos tentar fazer com que ele não sofra o que sofremos. 

VAVEL Brasil: Vocês podem, por favor, contar um pouco mais sobre suas carreiras no futebol? Por que vocês não seguiram no futebol?

Dener Gabino: Na verdade, eu não gostava muito de futebol. Na minha cabeça, o meu irmão Felipe seria profissional, porque ele jogava muito bem. Então, o peso de um filho do Dener ter que jogar já estava certo. Quando, ele resolveu parar, eu pensei que o legado não podia parar. Então, com 15 ou 16 anos, eu decidi tentar (virar jogador) e fui para o Rio Branca de Americana com um amigo. Nós jogamos lá por um tempo e depois eu voltei para a Portuguesa. Eu convenci meu irmão (Felipe) a voltar. Porém, nós fomos dispensados pela Portuguesa. Eu não sei por qual motivo, porque quando estávamos na festa de 46 anos da torcida “Leões da Fabulosa”, nós encontramos o dirigente que nos mandou embora, ele disse que nós só saímos porque quisemos, o que não é verdade.

Depois, fui para o Avaí, mas sem sucesso. Depois, comecei a entender que eu deveria tomar outro rumo. Como a carreira no futebol é curta, não dá para começar tarde. Eu comecei a ter uma paixão pelo futebol, que nunca tive antes. Resolvi começar a fazer algo relacionado ao futebol. No começo, pensei em fazer fisioterapia para trabalhar em clube, estar envolvido no meio do futebol. Porém, comecei a trabalhar com um amigo em uma contabilidade a comecei a tomar conta da parte de contrato e gostei muito. Então, comecei a fazer Direito e quando me formar pretendo fazer uma pós-graduação em Direito Desportivo para começar na área do futebol.

VAVEL Brasil: Vendo os vídeos do seu pai, são vários gols e dribles espetaculares numa época que isso não era muito comum. O Dener era um jogador a frente do seu tempo. Para cada um de vocês, qual gol ou jogada dele mais marcou vocês? E teria também algum jogo em especial que vocês guardam com carinho?

Dener Gabino: Meu pai fazia jogadas que não eram comuns para a época. Não havia tantos jogadores que faziam pedaladas, dribles, como ele fazia. Hoje, os jogadores fazem mais devido a um campo muito melhor ao daquela época. Dos gols que eu vi pela internet, o que eu mais gosto com certeza é o contra o Santos. Ali, eu vejo meu pai. É o gol que relata meu pai. Todas as vezes que alguém conta uma história do meu pai, eu vejo naquele gol, porque ali ele mostra a habilidade, a inteligência, a velocidade, a malandragem. É um “Gol Dener”. 

VAVEL Brasil: Todos vocês começaram na Portuguesa. Teve alguma razão especial para ser a Lusa e não outros times que o pai de vocês passou?

Dener Gabino: Na verdade, a Lusa foi quem revelou e quem deu mais oportunidades. A gente nunca tentou no Vasco ou no Grêmio. Mas, também pela questão de praticidade de estar do lado. Eu tenho um carinho por todos os times que meu pai jogou. Nós nunca tivemos contato direto com Vasco e Grêmio, apenas com a Portuguesa. E, nós sempre fomos bem tratados pela Portuguesa, tinha os benefícios. Foi onde meu pai foi revelado, onde ele é ídolo. Por esses motivos foi a Lusa e não porque nós gostamos menos ou mais dos outros times, mas sim pela praticidade.

VAVEL Brasil: Qual era a posição de cada um, quando jogavam futebol profissionalmente? O estilo de jogo de vocês era inspirado no do seu pai, pelos vídeos dele que vocês assistem no YouTube?

Dener Gabino: Sinceramente, meu estilo não era inspirado no meu pai não. Queria até tentar, mas nunca cheguei perto (risos). Eu jogava de lateral-direito, então minha função era diferente, eu não ficava tanto com a bola. Na verdade, eu era teimoso, eu queria jogar de meia, ser o novo Dener. Até que, o Edu Miranda, um técnico meu na Portuguesa, me colocou na lateral e ali fiquei até hoje. Atualmente, jogo na várzea na função de lateral. Aprendi com ele (Edu Miranda) e gostei desse jogo e foi onde me dei melhor.

VAVEL Brasil: Como vocês acham que Portuguesa, Grêmio e Vasco tratam a memória do Dener? Tem algum outro clube em especial, que fez algo legal pela memória do Dener?

Dener Gabino: Eu acredito que os três clubes tratam a memória do meu pai muito bem. Até hoje eles fazem homenagens, a Portuguesa mais, não posso tirar. Porém, os três tratam bem a memória. A gente vê isso na penúltima final da Copa São Paulo de Futebol de Júnior, entre Vasco e São Paulo. Nós fomos entregar o troféu Dener e nós vimos a torcida do Vasco inteira cantando a música do meu pai. Foi muito marcante e gratificante. São 26 anos que ele faleceu, são 26 anos de lembranças e homenagens. Parece que meu pai jogou por 26 anos e se aposentou há 3 anos. Mas, foi ao contrário.

Ele nem chegou a jogar 3 anos e morreu há 26 e ainda é lembrado. Com certeza, a memória dele é viva. Eu sou grato aos três clubes por fazer isso. Meu objetivo quanto ao meu pai é permanecer a memória dele viva. Nunca teve outro clube a fazer algo assim, porém eu vejo o carinho dos torcedores. Nessa final Vasco e São Paulo, nós fizemos uma volta olímpica e a torcida do São Paulo, a maioria no estádio, se levantavam, aplaudiam, vinham no alambrado, gritavam, pediam autógrafo. Ali, tive certeza que meu pai foi um jogador do Brasil, que todos amavam e gostavam do futebol arte dele, independente de camisa. A memória dele é grande em todos os clubes.

VAVEL Brasil: Como as pessoas reagem ao saberem que vocês são filhos do Dener? E como vocês se sentem com essas reações?

Dener Gabino: Eu procuro não falar que sou filho do Dener (risos). Não por vergonha, de jeito algum, tenho muito orgulho. Mas, na verdade, eu prefiro que descubram naturalmente. Eu já tive experiências em que a pessoa me tratou bem apenas por eu ser filho do Dener e isso me fazia muito mal. Eu quero ser tratado como uma pessoa normal. Muitas pessoas depois de meses chegam em mim e comentam ‘nossa, você é filho do Dener e eu não sabia’ e é por isso que gosto das pessoas que me tratam normal independente de quem eu seja. Eu tenho amigos independente de quem foi meu pai, eu quero ter pessoas do meu lado por quem eu sou. Não quero fazer amizades ou ter o primeiro contato só porque eu sou filho do Dener. Óbvio que tem pessoas que já sabem, mas tenho certeza que me tratam bem por quem eu sou e não por eu ser filho do Dener. 

VAVEL Brasil: Vocês ainda mantiveram relações de amizade com os ex-companheiros de clube do seu pai?

Dener Gabino: Sim, com certeza. Grandes pessoas jogaram com meu pai, que também eram grandes amigos dele. O Tico é para mim como um pai, jogou com meu pai muitos anos, foi amigo de concentração dele, foi amigo de família. Até hoje, ele convive no nosso meio, nós temos uma amizade muito grande. O Sinval é um cara que eu sigo nas redes sociais, sempre faz questão de falar do meu pai quando nos vê, coloca a memória do meu pai viva. No último ano, houve um jogo festivo da Portuguesa.

Eu fui jogar representando meu pai. Estava o Zé Roberto, o Capitão, Evair, Zé Maria. Eu vi o carinho de todos. Eu vi Zé Roberto se emocionando ao falar comigo. Eu vi Zé Maria falando que meu pai foi o melhor de todos. Eu vi o Capitão chorando, quando soube que eu era filho do Dener, falando que meu pai foi o melhor que ele viu jogar. O carinho de todos os companheiros é muito grande. O contato é de carinho e de lembranças boas.

VAVEL Brasil: O Dener era tão craque que teve a oportunidade não só de enfrentar, mas também de impressionar um dos maiores jogadores de todos os tempos, o Maradona. O argentino ou algum outro jogador do Neweel's Old Boys chegou a ter algum contato com vocês?

Dener Gabino: Não. Mas é muito gratificante saber que um jogador desse peso ficou impressionado com o talento do meu pai. Quando, eu vejo jogadores grandes fazendo isso,eu vejo a dimensão que meu pai teve. Porque, como nós éramos muito pequenos quando meu pai faleceu — eu tinha quatro meses-, às vezes não consigo ter essa dimensão de quem foi meu pai. Mas, quando acontece isso, como o Pepe dizendo que depois de Pelé era Dener, fica marcado e é muito gratificante.

VAVEL Brasil: O que mais te perguntam quando as pessoas descobrem que você é filho do Dener?

Dener Gabino: As pessoas mais velhas ficam doidas. Me falam que meu pai era craque, me perguntam se eu tenho camisas do meu pai, lembranças do meu pai. Alguns não acreditam. Outros choram, se emocionam. É muito legal a reação das pessoas.

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