A manipulação de resultados é algo que assusta a Fifa, e não é de hoje. Há tempos a entidade realiza estudos e produz investigações com associações famosas, como a Interpol. No Mundial 2014, o interesse nos jogos de futebol é ainda maior, o que também aumenta o alerta da federação sobre possíveis fraudes, num bilionário mercado paralelo. Uma preocupação da organização paralela à infraestrutura do torneio. Na primeira fase ainda há uma partida de alto risco: Brasil x Camarões, na próxima segunda-feira (23), em Brasília.

"Vemos mais risco nesse jogo do que na abertura ou na final da Copa", afirmou o diretor de segurança Ralf Mutschke.

A suspeita vem do fato de os africanos já estarem eliminados - e ainda terem enfrentado problemas na negociação de premiações para o Mundial, e tal ponto é considerado muito importante na parceria investigativa Fifa/Interpol. Os camaroneses, capitaneados pelo atacante Samuel Eto'o, ameaçaram não viajar ao Brasil e chegaram até mesmo a atrasar o embarque ao país enquanto as negociações não se encerraram.

Há uma equipe da Fifa que irá verificar cada partida em vídeos à procura de lances bizarros. Em geral, as armações ocorrem por conta de apostas na Àsia que levam em conta número de gols, ou diferenças de placares. É esse tipo de assunto que será verificado pela federação, inclusive no último jogo da seleção na fase de grupos.

"Todo mundo vai apostar no favorito e dono da casa para vencer o jogo. A questão é o número de jogos", ressaltou o diretor.

Nesta sexta-feira (20), o dirigente explicou as ações que vem sendo tomadas na Copa até o momento. Até a realização da coletiva, 23 das 64 partidas da competição já haviam sido realizadas. Nenhuma suspeita foi oficialmente revelada, por mais que a atuação do assistente colombiano Humberto Clavijo tenha sido questionada - ele anulou, por impedimento, dois gols legítimos do atacante mexicano Giovani dos Santos contra Camarões, ainda na primeira rodada, em Natal.

"Não encontrar indícios no mercado de apostas não significa que possa haver situações que talvez sejam estranhas, bizarras. Existem coisas que não podem ser explicadas facilmente. Ainda não posso me pronunciar ou revelar. O meu antecessor passava muitas coisas à mídia enquanto o caso ainda estava sendo analisado. Eu respeito a integridade das pessoas por isso não vou me pronunciar nesta fase até que tenha provas de que algo aconteceu. Para mim, as pessoas não tem culpa até que seja provado o contrário", disse Mutschke.

O dirigente disse ainda que não foi constatado nenhum indício de armação de placares nos amistosos de pré-temporada da Copa, ao contrário do que aconteceu em 2010.

"Do dia 15 de maio a 11 de junho, monitoramos 89 partidas e não vimos atividades suspeitas. Já na África do Sul, podemos dizer que houve manipulação sim", afirmou o diretor de segurança.

O escândalo foi divulgado pelo jornal norte-americano "New York Times", no fim de maio. Um relatório interno da Fifa mostrou que o amistoso entre África do Sul e Guatemala, em 31 de maio de 2010, teve o resultado manipulado pelo juiz Ibrahim Chaibou, de Níger, para interferir nas apostas.

Segundo o documento, no dia do jogo entre África do Sul e Guatemala, o juiz foi a um banco da cidade com uma quantia em dinheiro que poderia chegar a US$ 100 mil, em notas de US$ 100, com a finalidade de depositar o valor para sua mulher, em Níger. Horas depois, Chaibou apitou a partida, na qual marcou três pênaltis duvidosos, dois a favor da África do Sul. O time anfitrião do Mundial venceu a partida por 5 a 0.

VAVEL Logo
Sobre o autor