“Nas alegrias e nas horas mais difíceis, meu furacão, tu és sempre vencedor”. O trecho do Hino da Chapecoense já deixa nítido o amor incondicional do torcedor junto à equipe. Imagine você, caro leitor, acordar e saber que aqueles que te fizeram comemorar gols, vibrar e chorar de alegria não voltarão mais. Imagine, leitor, pensar que seu clube poderia desmoronar devido a um acidente que vitimou mais de 70 pessoas. Em novembro de 2016, a torcida da Chapecoense viveu esse drama. Dias antes, os mesmos torcedores, derramavam lágrimas de felicidade com a defesa de Danilo diante do San Lorenzo. Nas alegrias. E nas horas mais difíceis. Eles estavam lá.

Durante esse ano, a Chapecoense se refez, renasceu. E, lá estavam eles, mesmo com um nó de choro preso na garganta, cantando e apoiando a instituição sem parar. Aos 71 minutos de jogo, por vezes, as lágrimas corriam junto ao canto de “Vamos, vamos, Chape”. E, foi. Depois de levar o clube da Série D para a Série A em sete anos, o torcedor do Verdão do Oeste também é responsável pela reconstrução da Chapecoense. Uma missão árdua, difícil e dolorosa.

"Não era minha Chape"

Buscando entender o ano difícil e de renascimento do torcedor alviverde, a VAVEL Brasil conversou com um dos representantes da Barra da Chape – principal torcida do Verdão do Oeste – em uma entrevista embebida de sentimentalidade e emoção. Afinal, como foi possível manter a festa atrás da baliza onde Danilo fez o milagre que levou a Chape à final daquela Sul-Americana?

"Vou te dizer que no começo foi difícil, até pensei em desistir, mas não fiz isso em memória deles. Sempre via em campo dois times desconhecidos. Não era minha Chape. Mas seguimos mais fortes. Não poderíamos parar. Tem que evoluir e seguir honrando o que aqueles jogadores fizeram pela Chapecoense", declarou um dos responsáveis pela Barra da Chape, Marcelo Weber, de 27 anos.

A Chapecoense não iria desmoronar. E isso ficou claro logo no começo do ano. Embalada pelos cânticos de seus torcedores, aquela “nova Chape” seguiu com seu espírito vencedor e destemido. Sagrou-se bicampeã catarinense, surpreendendo e dando continuidade à história daqueles que nos deixaram no trágico acidente aéreo de Medelín. Chapecó, então, votou a sorrir. A ruas que ecoavam um triste silêncio, em maio voltou a eclodir alegria e fogos de artifício.

“Chapecó vive futebol, vive o verde e branco”

“Vimos uma mobilização ainda maior da torcida. Aumentou consideravelmente a média de público, a cidade acolheu mais ainda a Chapecoense. Chapecó vive futebol, vive o verde e branco”, bradou Marcelo à reportagem. 

Superação. A palavra que descreveu o ano do Verdão do Oeste não se limitou ao Campeonato Catarinense. No Brasileiro, a Chape fez o que nem o mais otimista poderia imaginar. Se, no início do ano, as discussões eram sobre a imunidade ao clube perante o rebaixamento, no fim, o que se viu foi uma Chapecoense comemorando a classificação à Libertadores de 2018.

“Todos sabiam que era um ano que não dava para esperar muita coisa, um time que começou tudo do zero, desde a diretoria, mudou tudo, o time começou bem, caiu de produção e já era difícil acreditar que sairia do rebaixamento, até que conseguimos, e hoje estamos na Libertadores do ano que vem", lembrou o torcedor catarinense.

“Há um ano estava no mesmo lugar velando nossos jogadores, dirigentes, comissão técnica. Naquele domingo choramos de alegria, recordando as glórias passadas”

Foto: Divulgação/Chapecoense
Foto: Divulgação/Chapecoense

No mesmo gramado onde dezenas de corpos foram velados, na mesma trave onde Danilo fez milagre no último lance da semifinal da Copa Sul-Americana de 2016, lá estava Túlio de Melo, também na última bola da partida, aos 49 minutos do segundo tempo, de cabeça, colocando novamente a Chapecoense na história do futebol. Atrás daquele gol, aquela mesma torcida, com os mesmos bumbos e cânticos puderam perceber que a escolha por não desistir da equipe alviverde foi acertada. Junto com seus novos guerreiros fizeram história mais uma vez.

“A classificação veio com a cara Chapecoense. O sofrimento sempre foi marca registrada em Chapecó, nada foi conquistado de maneira fácil. O gol aos 49 minutos foi muito emocionante. Há um ano estava no mesmo lugar velando nossos jogadores, dirigentes, comissão técnica, naquele domingo choramos de alegria, recordando as glórias passadas e uma classificação para a Libertadores", finalizou Marcelo.

O choro naquele domingo foi de alegria ao lembrar que a história escrita pelas vítimas do trágico acidente teve continuidade. A volta olímpica simbólica liderada pelos sobreviventes do desastre selou a certeza de que a Chape jamais irá desmoronar se depender de sua torcida, que, hoje, não se resume aqueles atrás do gol cantando incondicionalmente. Hoje, a torcida da Chape está em todo o Brasil. Sempre recordaremos, a campeã Chapecoense. 

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