Pele morena, estatura média, Belmiro usava um boné que esconde o pouco cabelo que foi perdendo com o tempo e carrega em seus olhos verdes os momentos de glória e dificuldade por quais passou naquele lugar. Assim que chegamos ao campo principal do Centro de Treinamento do Atlético-MG, ele veio nos receber. Mão estendida, sorriso no rosto, fez questão de nos chamar pelos nossos nomes desde o primeiro momento.

Era começo de treino dos jogadores e ele explicou que tinha de ir ao campo para auxiliá-los. Chegando lá, foi muito bem recebido, bateu bola com Rómulo Otero e em seguida organizou as bebidas dos atletas. O massagista é muito querido naquele lugar.

Massagista do clube desde 1968, Belmiro Oliveira chegou ao Atlético-MG com 17 anos. Por ser muito jovem, poucos acreditavam em seu potencial, mas aos poucos foi conquistando seu espaço lá dentro. Hoje, ele se tornou uma das referências do Atlético-MG fora de campo. “Ei, muchacho!”, bradou o lateral-direito Alex Silva ao passar pelo massagista na saída de campo. Simpático, ele retribuiu o gesto de carinho com um sorriso e um aceno para o jogador.

Esse não foi o único momento em que Belmiro parou para dar atenção a quem passava. Era sorriso dali. Aceno de lá. A todo o momento ele era requisitado e se não fosse uma mudança em sua formação acadêmica, provavelmente Belmiro não estaria ali sentado conosco. Sua trajetória profissional teve início como farmacêutico, mas foi convencido por alguns companheiros a mudar de ramo e se aventurou no curso de Enfermagem.

Essa mudança se tornou um ponto de partida para uma vida toda, já que um de seus professores era diretor do departamento médico do Galo, e fez o convite para que ele começasse a trabalhar no novo centro de treinamento do time mineiro, a Vila Olímpica, ainda aos 17 anos de idade.

Família e rotina no Galo

“Abaixo de Deus e minha família, o Atlético é tudo” - Belmiro Oliveira

“Abaixo de Deus e minha família, o Atlético é tudo”, contou. Com tanto tempo de casa, Belmiro é um dos poucos que passou por basicamente todas as fases do clube e tem uma ligação especial com a equipe. Ele saboreou os momentos de glória, como o título brasileiro de 1971, mas também passou por momentos difíceis, como a queda do Atlético-MG para Série B.

Na história recente, o massagista nos contou também como foi conviver com um dos maiores jogadores do mundo, Ronaldinho Gaúcho. Com um sorriso no rosto, ele falava de Ronaldo com muito carinho e exaltou a humildade do ex-jogador, que até hoje mantém contato e demonstra muito afeto por todos da equipe mineira.

“Eu vivo 48h com o Atlético. Eu sou igual babá, então eu sou responsável por tudo que eles precisam, às vezes ao invés de procurarem um médico, eles me procuram e depois eu vou falar com o médico sobre o que eles precisam”, bradou. A rotina de Belmiro dentro do clube é pesada, ele chega à Cidade do Galo às 8h da manhã e é um dos últimos a sair. Responsável por tudo o que os jogadores precisam para estarem em campo, sua função dentro do Atlético-MG não se resume a ser apenas massagista. Com tantas competições, viagens e treinamentos, ele disse que prefere ficar em casa junto de sua família nos períodos de descanso.

Belmiro foi homenageado pela torcida do Galo (Foto: Divulgação/Centim Vicentim)
Belmiro foi homenageado pela torcida do Galo (Foto: Divulgação/Centim Vicentim)

Para ele, sua família é um dos bens mais importantes da vida, mas mesmo em sua casa, Belmiro não consegue deixar o Atlético de lado. Muito apegado aos netos, um deles lhe surpreendeu com um vídeo da torcida alvinegra que o fez emocionar. Seu neto Luiz gravou uma filmagem da arquibancada onde mostrava a bandeira feita pelo Movimento 105 Minutos, em homenagem ao seu avô. Enquanto descrevia aquele momento, Belmiro respirou fundo e vimos seus olhos marejados de emoção ao receber o carinho do torcedor através de seu neto.

“As pessoas gostam do Belmiro por conta do Atlético e isso emociona porque a maioria das pessoas gostam de jogadores, dos artistas e a gente que fica por trás quase passa despercebido” - Belmiro Oliveira

O massagista é muito grato ao clube e a sua torcida. “As pessoas gostam do Belmiro por conta do Atlético e isso emociona porque a maioria das pessoas gostam de jogadores, dos artistas e a gente que fica por trás quase passa despercebido”, afirmou. Em tanto tempo de dedicação, Belmiro diz não ter nenhum arrependimento, mas que se prepara para o fim da longa jornada dentro do Galo.

Belmiro recebeu o carinho do pequeno torcedor (Foto:Clara Passos)

Já no final dos treinamentos dos atletas, percebemos a movimentação dos torcedores que estavam ali para falar com Belmiro. “Tira uma foto com ele?”, apontou uma mãe para um pequeno torcedor alvinegro que foi recebido com carinho por Belmiro e teve seu momento gravado ao lado de um dos maiores personagens da história do Clube Atlético Mineiro.

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Sobre o autor
Lara Pereira/Clara Passos
Estudante de Jornalismo.