Uma grande roda gigante. O famoso brinquedo, presente em vários parques de diversão, é a definição perfeita para a temporada do Botafogo, que ficou no topo do mesmo durante muito tempo, vendo algumas crianças se mexendo nas posições de baixo, mas terminando  com essas posições invertidas, com o clube de General Severiano sucumbindo à uma não-classificação para a Taça Libertadores.

O Botafogo conseguiu terminar o Campeonato Brasileiro na décima posição e vai jogar a Sul-Americana em 2018. A parte boa da temporada ficou pelas campanhas na Libertadores e na Copa do Brasil que terminaram, em respectivamente, quartas e semi-final. Com o calendário enxuto, o Campeonato Carioca acabou sendo “descartado”, o que resultou em uma outra fraca trajetória.

Começo de ano de decisões

Com a quinta colocação no Brasileirão de 2016, o Botafogo já começaria 2017 em um clima de decisão, já que passaria por duas eliminatórias pelas fases preliminares da Libertadores ainda em fevereiro, encurtando uma possível pré-temporada e um planejamento, que teve que ser montado às pressas para se adaptar a essas circunstâncias.

Os triunfos sobre, respectivamente, Colo-Colo e Olímpia credenciaram uma das mais virtudes desse Botafogo: a vontade. O time sabia se comportar em campo e se focava na parte defensiva, dificultando a vida de seus adversários e tendo os rápidos contra-ataques como principal arma ofensiva, que resultou em muitos gols para o Botafogo durante a temporada.

O bom desempenho na fase de grupos da Libertadores, garantindo a primeira posição do mesmo, e as boas atuações nas outras competições representava um grande início e/ou metade de ano para a equipe, que recebeu a alcunha de “Demolidor de campeões”, por deixar os dois já citados na fase preliminar da competição continental, além de Atlético Nacional e Estudiantes, que ficaram pelo caminho.

As decepções Camilo e Montillo

Ainda em 2016, Walter Montillo seria anunciado como o grande reforço para 2017, sendo o grande nome contratado pela diretoria. Dentro de campo, porém, as lesões falaram mais alto, e o argentino não conseguiu engatar uma sequência de jogos, o que resultou em atuações ruins, uma grande decepção e uma aposentadoria precoce forçada, anunciada em junho.

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

O argentino foi contratado justamente para fazer uma dupla com Camilo, principal jogador do clube em 2016. Nas quatro linhas, mais uma decepção: Jair Ventura não conseguiu encaixar os dois atletas no mesmo esquema tático, já que ambos não conseguiam percorrer grandes distâncias, o que era necessário para acompanhar os jogadores da equipe adversária.

Para os dois jogarem juntos, Camilo seria deslocado para o lado esquerdo do campo, posição que não era de seu agrado e que foi o estopim para a sua gritante queda de rendimento. Incomodado com o banco de reservas, o cabeludo confirmaria a sua transferência ao Internacional logo após. Seria o fim de uma dupla que não passou da utopia.

Problemas com lesões

O elenco já era curto, mas a missão de conduzir o calendário brasileiro ficaria mais difícil durante a temporada. Além de Montillo, outros jogadores, principalmente na lateral-direita, sofreram com lesões, atrapalhando a vida de Jair Ventura, que perdia peças e, assim como em 2016, tinha que achar soluções rápidas e acessíveis para esses problemas.

Luís Ricardo voltava de uma grave lesão e ainda não estava em sua plenitude físicas, Jonas, contratado no começo do ano, e Marcinho, jovem promessa da base, se machucaram ainda nas primeiras partidas da temporada e perderiam boa parte dos campeonatos. Foi aí que surgiu Arnaldo, lateral que veio do Ituano e que assumiu a posição com muita autoridade.

Além deles, Airton, comandante do meio-campo alvinegro, e Jefferson, que voltou apenas em agosto, também perderam boa parte do ano por conta de problemas com lesões. Mais tarde, surgiria a notícia do tumor de Roger, que, graças à competência dos médicos, seria benigno, mas que afastaria o atacante dos gramados até o ano que vem.

Novos protagonistas surgem

Mesmo com a ausência daqueles que seriam os ícones da equipe, o Botafogo chegou ao seu auge no meio do ano, com a evolução de alguns jogadores que antes não ganhavam muito destaque, como Igor Rabello – que assumiu a vaga na defesa da equipe -, Bruno Silva e João Paulo. A equipe de Jair Ventura conquistava os resultados apresentando um grande futebol, que resultavam em um saldo positivo.

As vitórias sobre o Nacional, do Uruguai, na Libertadores, a lendária atuação contra o Atlético-MG pela Copa do Brasil e a grande campanha no returno do Campeonato Brasileiro, colocando o Botafogo de vez no G-6 eram as provas de uma boa temporada do clube, que estava indo bem em todas as competições que estava disputando.

Bruno Silva assumiu a responsabilidade da equipe (Foto: Apu Gomes/AFP)
Bruno Silva assumiu a responsabilidade da equipe (Foto: Apu Gomes/AFP)

O ano, até então, era mágico. Time e torcida estavam em total sincronia o trabalho de Jair Ventura era incontestável, já que o jovem treinador conseguia, mesmo com um time pouco técnico, ser competitivo e apresentar seu padrão de jogo contra qualquer adversário. O Botafogo sonhava alto. E com total direito.

Eliminações e gráfico decrescente

Um ponto crucial da temporada havia chegado. Com o tempo, as competições foram se afunilando e, consequentemente, ficaram mais difíceis. Era a hora dos confrontos decisivos. As duas grandes campanhas do Botafogo em competições eliminatórias teriam seus fins decretados: na Copa do Brasil, com dois jogos de atuações ruins contra o Flamengo e para o Grêmio, na Libertadores.

Com esses dois baques, era inevitável que o psicológico do time iria cair. Mas, com ele, também caíram, em parte, as atuações apresentadas pela equipe. Apesar disso, Jair Ventura manteve sua equipe íntegra, que chegou a liderar o returno do Campeonato Brasileiro, sonhando com uma vaga no G-4 e, consequentemente, na fase de grupos da Libertadores

Estado de melancolia

Porém, o que se viu da equipe após um tempo foi apatia preocupante. O time que encantou a América no começo/meio do ano havia se tornado um sem vida, que lembrava o Botafogo de anos anteriores, quando o clube brigou contra o rebaixamento para a Série B. A queda de rendimento da equipe de General Severiano era gritante e o clima com os torcedores, que abraçaram o clube no começo, era ruim.

Algo que exemplifica esse fato são os últimos três jogos da equipe no Campeonato Brasileiro. O Botafogo somou apenas um ponto nas partidas contra Atlético-GO, Atlético-PR e Cruzeiro, o que resultou em uma tragédia anunciada. A deprimente reta final da temporada do Botafogo foi fechada sob um clima de melancolia, já que o clube terminaria em décimo lugar no Campeonato Brasileiro, ficando de fora da Libertadores após permanecer mais de 15 rodadas no G-6.

O treinador Jair Ventura

Jair Ventura foi um dos grandes responsáveis pela ascensão do Botafogo desde 2016. Pegou um time sem esperanças e conseguiu transformá-lo em competitivo o suficiente para fazer um jogo de igual a igual com o campeão da América. Os dois primeiros terços da temporada do Botafogo foram fora da curva, mostrando o time aguerrido e muito tático que o jovem treinador havia montado.

(Foto: Lucas Uebel/Getty Images)
(Foto: Lucas Uebel/Getty Images)

Jair, junto com o Botafogo, entraria na prateleira dos grandes nomes do Brasil no período de auge, sendo reconhecido por seu trabalho e pela intensidade que sua equipe apresentava, conseguindo derrotar equipes tecnicamente superiores. A eliminação para o Grêmio na Libertadores, porém, trouxe um ar de decepção aos arredores de General Severiano, tirando o brilho daquele esquadrão, que sucumbiu nas seguintes partidas. 

Com o passar do tempo, porém, ficou claro que os jogadores não estavam com o mesmo ânimo para atuar, o que representa que os adversários “descobriram” a forma de como o Botafogo jogava e conseguiram montar estratégias para conter isso. Jair Ventura, porém, não mudava sua maneira de jogar e, mesmo empilhando resultados negativos, não admitia seus erros. A relação entre o treinador e o clube terminou muito abalada.

O que esperar para 2018?

Na entrevista coletiva após a partida contra o Cruzeiro, Jair Ventura deu a entender que ficará no clube para 2018. A missão, porém, será mais difícil, já que o fluxo de caixa, sem a participação na Libertadores, ficará menor e o clube passará por um período financeiro ainda mais complicado no ano que se inicia o mandato de Nelson Mufarrej.

Muitos jogadores que fizeram parte da espinha dorsal da equipe no ano devem deixar o clube. Igor Rabello, com propostas do futebol italiano, Bruno Silva, Victor Luis, que retornará ao Palmeiras após ficar dois anos emprestado, Roger, já acertado com o Internacional, além de outros jogadores que compõem elenco não devem continuar em 2018, o que resultará em um Botafogo com muitas caras novas. 

Ezequiel deverá receber mais chances em 2018 (Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
Ezequiel deverá receber mais chances em 2018 (Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

A tendência é que o clube aposte em jogadores fora do grande eixo do Brasil, apostando em jovens promessas de equipes que disputaram divisões inferiores ou experientes jogadores, já marcados no futebol brasileiro, que estavam em equipes no primeiro escalão. A base será crucial, já que, com toda essa dificuldade, apostar nas pratas da casa será uma solução viável. Será a chance de Ezequiel, Matheus Fernandes e outros brilharem.