O Botafogo ficou marcado, nos últimos anos, por ser uma equipe com uma solidez defensiva quase perfeita, jogadores abertos pelos lados do campo que aproveitavam os espaços deixados pelo adversário para, então, criar um contra-ataque vertical e muito rápido. Desde 2016, esse foi o estilo que levou a equipe de General Severiano a uma grande evolução, saindo da zona de rebaixamento e chegando às quartas de final da Taça Libertadores, em 2017.

Dessa maneira, fica difícil conseguir desvincular os jogadores desse perfil criado por Jair Ventura com um novo treinador. No caso, Felipe Conceição, outro que trabalhava na comissão técnica do clube, assumiu o papel de treinador em 2018 e, diferentemente do seu antecessor, busca construir uma equipe propositiva, que busca criar as chances de jogo e controlar a posse da bola – o que pode ser considerado, em partes, como o contrário do que era apresentado anteriormente.   

Ao que tudo indica, pelas atuações apresentadas nas primeiras duas partidas do ano, o Botafogo jogará no 4-1-4-1, com uma variação ao 4-2-3-1, com um volante entrelinhas que consiga dar qualidade à saída de bola, e dois jogadores criativos por dentro. Pelos lados do campo, a presença de jogadores com capacidade de drible, que podem quebrar linhas defensivas adversárias. Até aqui, porém, a execução passa longe de ser perfeita, até pelo motivo da curtíssima pré-temporada, que não dá tempo para nenhum treinador consolidar suas novas ideias.

Maior qualidade técnica no campo ofensivo

Foto: LineUpBuilder

Com esse esquema tático, Felipe Conceição pensa em uma equipe que possa, ao mesmo tempo, ocupar espaços na fase defensiva e, quando atacarem, criar chances reais de gol com facilidade, já que, em tese, existem dois jogadores criativos entre as linhas, que são capazes de serem o cérebro de toda essa engrenagem.

Nesse contexto, a presença de João Paulo, até aqui o melhor jogador do clube na temporada, é essencial, já que o ex-Santa Cruz tem como principais atributos o controle da bola e a distribuição de jogo. Por outro lado, ficou claro que o chileno Léo Valencia não possui capacidade para jogar pelo meio, como o “segundo cérebro”, já que suas características são bem mais de finalização, o que contribuiria ao atleta jogar pelos lados do campo.

A tendência é que os jogadores de lado de campo, Luiz Fernando e Rodrigo Pimpão até aqui, tenham a capacidade de oferecer velocidade e dribles, com o intuito de quebrar linhas defensivas, abrir espaços aos avanços dos laterais e, consequentemente, criar chances para Brenner, principal atacante da equipe. Com a indefinição da vinda de Rony, Felipe Conceição não sabe o que esperar, já que o atleta, que seria envolvido na negociação de Bruno Silva, teria a capacidade de finalizar jogadas, diferentemente do ex-Atlético-GO, que é mais criador.

Em um cenário ideal, com todos os jogadores em forma, a formação ofensiva adotada por Felipe Conceição deverá ser João Paulo e Renatinho como jogadores por dentro, responsáveis pelas criações de jogadas, Leonardo Valencia aberto pela esquerda e Luiz Fernando pela direita, com os dois alternando durante os jogos, vista a capacidade de movimentação de ambos. Do banco de reservas, a presença de Leandro Carvalho pode ser importante, já que ele, com sua capacidade, pode ser um “elemento surpresa”.

Cenário defensivo

Nessas primeiras partidas, ficou claro que Matheus Fernandes será o “um” do esquema, responsável por, prioritariamente, defender, proteger os zagueiros e fazer o primeiro contato com a saída de bola. Atrelado a isso, está a capacidade do próprio jogador de driblar e sair jogando, características que eram vistas sob o comando de Jair Ventura e na categoria de base. Com isso, a ideia de Felipe Conceição é tornar o atleta em um volante “completo”, que consiga defender e contribuir na criação de jogadas.

Matheus Fernandes será importante no esquema de Felipe Conceição (Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)
Matheus Fernandes será importante no esquema de Felipe Conceição (Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Para isso, porém, a necessidade de laterais sólidos é importante. Atualmente, Arnaldo e Gilson, dois atletas com pensamentos ofensivos, são os titulares, o que resulta em muitos espaços para os jogadores adversários, principalmente em contra-ataques. Por isso, a solidez defensiva do Botafogo está refém, e as soluções para isso são a reutilização tática desses atletas, para que defendam mais, ou a presença de jogadores com características mais sólidas – Marcinho, jovem das categorias de base, é um lateral-direito mais equilibrado, por exemplo.

No miolo de zaga, a indefinição sobre o futuro de Igor Rabello, que já recebeu proposta de alguns clubes da Europa, preocupa, já que o defensor é um dos principais jogadores da equipe. Apesar de ser destro, o jovem Marcelo já afirmou, em entrevista coletiva, que pode substituir o atual titular, apesar do mesmo jogar pelo lado esquerdo da defesa – pela direta, a presença de Joel Carli, um dos líderes do elenco, é imprescindível.

Time alternativo

Diferentemente do ano passado, o Botafogo de 2018 terá muitas opções ofensivas no banco de reservas, como Leandro Carvalho, Ezequiel e Rodrigo Pimpão, três vezes mais do que em 2017, quando Guilherme, hoje na Chapecoense, era o único jogador de frente capaz de entrar durante os jogos e tentar mudar uma partida. Não apenas pelos lados do campo, mas também para o meio, com Marcos Vinícius.

Além disso, um dos fatores desse ano é a presença de jovens das categorias de base. Como o clube não possui uma situação financeira favorável, o uso desses jogadores é essencial, já que o trabalho feito por Eduardo Barroca, técnico do Sub-20, é bastante positivo. Yuri é o principal reserva da lateral-esquerda, Marcelo e Kanu nas posições de zagueiros, Marcinho é um dos nomes para a lateral-direita e Ezequiel, um dos xodós da torcida, pode ser opção ofensiva. 

Foto: LineUpBuilder
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