O começo de ano do Botafogo está distante daquilo que a diretoria esperava: Felipe Conceição chegou ao cargo de treinador com uma alta expectativa, mas, com apenas sete jogos, foi demitido, por conta de resultados ruins, duas eliminações e um pobre futebol apresentado pela equipe. Dessa maneira, o clube de General Severiano precisou agir rápido e contratou Alberto Valentim.

Aos 42 anos, Alberto segue a linha da nova safra de treinadores que vem surgindo aos montes no futebol brasileiro nos últimos anos. Indicado por Cuca, Valentim é um estudioso do esporte e já começou a treinar a equipe, visando a preparação para a Taça Rio. A VAVEL Brasil preparou um especial falando sobre o panorama vivido pelo treinador e como suas ideologias podem se encaixar na equipe de General Severiano.

Trajetória

O lateral-direito Alberto Valentim se destacou em 1994 jogando pelo Guarani na Copa São Paulo de Futebol Júnior, quando o Bugre derrotou o São Paulo na grande final e o próprio Alberto cobrou a penalidade que definiria o título para a equipe de Campinas. Após alguns meses, se transferiu para o Inter de Limeira, sendo um dos principais nomes da equipe campeã invicta da Série A2 do Campeonato Paulista de 1996.

Nesse mesmo ano, foi para o Atlético Paraense, onde teria, de fato, o grande destaque de sua carreira: foi um dos principais nomes do Furacão, sendo um lateral muito técnico, que distribuía muitas assistências. Alberto foi um dos responsáveis pelo quarto lugar do CAP na primeira fase do Campeonato Brasileiro de 1996, competição em que foi eleito como o melhor lateral-direito.

Em 1999, foi se aventurar na Europa ao assinar com a Udinese. Defendeu a equipe alvinegra por seis anos, estando presente em 102 jogos, sendo uma importante peça para a equipe. Em 2005, foi para o Siena, disputando 77 partidas, onde ficaria até 2008, até que acertaria seu retorno ao Atlético Paranaense, sendo uma importante peça na permanência no Furacão no Brasileirão daquele ano e na conquista do Campeonato Paraense, em 2009.

(Foto: Rafael Augusto/VAVEL Brasil)

Após se aposentar, estudou em alguns clubes italianos e, em 2012, integrou a comissão técnica do Atlético Paraense. Dois anos depois, se juntou ao staff do Palmeiras, como auxiliar-técnico, tendo aprendido muito com Cuca nesse período. Em 2017, se aventurou como treinador pela primeira vez, com o Red Bull Brasil, mas seu desempenho foi abaixo do esperado e, com isso, retornou ao Palmeiras como membro da comissão, tendo uma chance como treinador no fim da última temporada.

O Palmeiras de Alberto Valentim

Após a demissão de Cuca, Alberto Valentim assumiria o Palmeiras nas últimas onze rodadas do Campeonato Brasileiro de 2017. Com pouco tempo para conseguir trabalhar seus conceitos, mas presente do dia a dia do clube, o jovem técnico conseguiu fazer com que a equipe do Palestra Itália chegasse, apesar de algumas derrotas capitais, ao seu melhor momento no ano, com muitos jogadores vivendo seus melhores momentos.

A equipe foi montada em um 4-2-3-1 que variava para o 4-3-3, já que Tchê Tchê, o segundo volante, avançava e era muito participativo nas partidas, tendo, nas mesmas, muitas oportunidades de remates à média distância e possibilidades de abrir as jogadas com as laterais. O primeiro volante, seja Felipe Melo, Thiago Santos ou Bruno Henrique, não se resumia apenas à defesa e, por vezes, conseguia participar das fases ofensivas da equipe – principalmente quando, junto da linha de zagueiros, buscavam lançamentos para os jogadores de ataque. Nesse contexto, o ‘Pitbull’, camisa 30, era muito importante, já que possui grande qualidade no passe.

A equipe prezava a posse da bola, o que mantém a mesma linha daquilo que Felipe Conceição imaginava. No Palmeiras de Alberto Valentim, porém, as jogadas pelos lados do campo eram a principal alternativa ofensiva. Dessa maneira, os jogadores que atuavam nessas faixas do campo – Keno e Dudu – foram os que mais se destacaram na mão do treinador, sendo, respectivamente, o maior assistente e o artilheiro da equipe verde no período. Outro fato que comprova a importância desse tipo de jogada são os números: grande parte dos gols marcados pelo Palmeiras surgiram em jogadas pelos lados do campo, o que representa uma equipe muito forte verticalmente.

Origem dos tentos da equipe de Alberto Valentim (Foto: Reprodução/Lineupbuilder)

Ou seja, a equipe de Alberto Valentim conseguia alternar diferentes ‘estágios’ nas partidas: por vezes, eram um time que se focava em trocar passes diretos e curtos, chegando perto da diagonal da área com muitas triangulações e outras por meio das ligações diretas ou lançamentos, como aconteceu em pelo menos três oportunidades no último Campeonato Brasileiro, com os passes vindos, no mínimo, de trás do círculo central do gramado. O Palmeiras, então, conseguia se adaptar ao que as respectivas partidas pediam.

Por vezes, o futebol praticamente era escasso em termos técnicos. A dificuldade em quebrar fortes defesas era suprido pelas rápidas cobranças de laterais, aproveitando que o impedimento não é válido nessas situações e nos espaços gerados nos contra-ataques, um dos fatores para o já citado crescimento dos pontas Keno e Dudu. Ou seja, a equipe de Valentim possuía ‘faces’ reativas e que conseguia propor o jogo, apesar de falhas de reprodução em ambas – o que era totalmente normal, visto o pouco tempo do torneio e a competitividade do campeonato nacional.

Nas oportunidades de ataque, era possível notar também a participação do atacante principal longe da grande área. Fosse Borja ou Deyverson, o atleta recuava, buscando abrir espaços para a entrada ou de Moisés ou de Tchê Tchê perto da área e a aproximação de Dudu e Keno nas diagonais no terço final do campo adversário. Nesse contexto, a presença dos laterais – que subiam simultaneamente em algumas oportunidades – era muito importante, já que um dos dois aproveitava o espaço gerado pela movimentação dos homens da frente para ter liberdade e tentar, por exemplo, um cruzamento ou manter a jogada em uma triangulação. 

(Foto: Reprodução)

Defensivamente, a equipe marcava por meio da última linha de jogadores em um nível alto, o que acabou resultando em muitas oportunidades reais de gol aos adversários por meio de passes em profundidade ou em falha de domínios de bola por conta dos próprios jogadores – ao jogar com uma linha alta, é preciso contar com que os defensores não falhem em conceitos básicos do esporte. Além disso, outra dor de cabeça ao treinador eram os contra-ataques, já que as equipes rivais possuíam muitos espaços nas rápidas transições, o que representou uma parte dos gols levados pelo Palmeiras de Valentim.

Números do Palmeiras no período

11 jogos: seis vitórias, um empate e quatro derrotas

23 gols marcados – média de 2,09 por jogo

16 gols sofridos – média de 1,45 por jogo

Principal artilheiro: Dudu, com seis gols

Garçom: Keno, com cinco assistências

46% dos gols saíram em jogadas pelo lado direito, 27% pelo lado esquerdo, 18% pela faixa central e 9% por meio de bolas paradas (números aproximados)

Opiniões

Como era o estilo de jogo da equipe?

Felipe Dias, torcedor do Palmeiras: “A equipe do Valentim buscava manter muito a posse de bola, a ideia central do jogo dele era essa, adepto da escola de Sarri (dito pelo próprio Alberto), buscava ter a bola a todo momento, a fase ofensiva era toda bem definida entre as linhas, tendo muita amplitude com as jogadas de Keno (melhor momento dele por aqui) e Dudu, no momento defensivo onde mais pecava, era um time em teoria mais "mordedor" buscava recuperar a bola na maioria das vezes no 1/3  do campo de ataque mesmo.”

Pedro Henrique Quiste, coordenador do São Paulo na VAVEL Brasil: “O Palmeiras do Valentim buscava sempre valorizar a posse de bola e fazer um jogo ofensivo e propositivo. Já em relação ao setor defensivo, Alberto tentou montar um esquema compacto e com linha alta, fazendo marcação por zona.”

Rafael Augusto, coordenador do Palmeiras na VAVEL Brasil: “Alberto Valentim ficou poucos jogos na frente do Palmeiras na temporada passada, mas já deu para perceber suas ideias de jogo, montou uma equipe que preza pelo controle da bola, marcação por zona e com pressão no campo do adversário, sempre com muita intensidade.”

(Foto: Nico Casamassima/AFP)

Pontos positivos

Felipe Dias: “Soube valorizar muito bem a posse de bola nos jogos iniciais; Potencializou alguns jogadores esquecidos no elenco, foram os casos de Keno, Borja, Deyverson etc; Muito conhecimento tático, falha na execução em alguns pontos explicados abaixo [no próximo item].”

Pedro Henrique Quiste: “Em relação aos pontos positivos, algumas características do time me agradaram. A importância de ter a bola nos pés, por exemplo, e a tentativa de implementar uma mudança no sistema defensivo, tentando fechar espaços e ser compacto.”

Rafael Augusto: “Controle de bola, chegada ao gol adversário em poucos toques, superioridade ofensiva.”

(Foto: Vitor Silva/SS Press/Botafogo)

Pontos negativos

Felipe Dias: “Marcação demasiadamente alta pros anseios do time, um time não pode se portar os 90 minutos da forma que Valentim fez em muitos jogos por aqui; Devido a esse primeiro ponto negativo escarou algumas deficiências individuais no elenco, Dracena e a velocidade, Felipe Melo x Thiago Santos que no esquema ficavam muito sobrecarregados; Demonstrou ainda certa dificuldade, apesar do tal conhecimento supracitado, faltou melhor leitura do futebol adversário em alguns jogos chaves, como contra Cruzeiro, Corinthians etc.”

Pedro Henrique Quiste: “A principal deficiência do time do Valentim em 2017 foi o setor defensivo. Apesar de os problemas serem causados também por falhas individuais (como as fracas laterais), o uso da linha alta dificultou a vida dos zagueiros razoavelmente lentos, que não conseguiam evitar muitos dos lançamentos nas costas.”

Rafael Augusto: “Marcação alta falha, deixando zagueiros mano a mano, defensores super avançados. Sofreu quando jogou com times que apostaram na bola longa e no contra-ataque, muito por conta pelo espaço livre deixado por sua linha defensiva.”