O que pode mudar em um período de 126 dias? A questão é relativa. A proporção pode estar nos extremos dependendo do contexto. No caso do confronto de ida da decisão da Recopa Sul-Americana, que será disputado na noite desta terça-feira (4) em Chapecó, tudo mudou para as equipes envolvidas.

A partida marca (infelizmente) o primeiro confronto da história envolvendo Chapecoense e Atlético Nacional-COL. Infelizmente, pois dois duelos estavam projetados para ocorrer no ano passado, na grande final da Copa Sul-Americana. Mas o sonho dos finalistas brasileiros tornou-se um pesadelo, com a tragédia aérea que vitimou mais de 70 pessoas.

Desde então, o mundo se solidarizou com o maior acidente envolvendo uma equipe de futebol em todos os tempos. Mas a reação e as ações principalmente dos habitantes de Medellín certamente jamais saíram da memória dos brasileiros. Dezenas de homenagens colombianas facilitaram e ajudaram as famílias das vítimas na compreensão e na aceitação do que havia ocorrido.

Em específico, o que aconteceu no dia seguinte ao acidente, no Estádio Atanasio Girardot, onde a bola rolaria justamente naquele dia para dar início a grande final: mais de 30 mil pessoas lotaram um dos templos do futebol colombiano para uma cerimônia emocionante.

A partir disso, ficou clara a aproximação e o quanto aquilo havia unido os colombianos do povo de Chapecó. E as atitudes honrosas não pararam por aí. Mandatários do Atlético Nacional abriram mão completamente da divisão do título. Com isso, os heróis se foram mas cumpriram sua missão: a Chapecoense foi declarada campeã da Copa Sul-Americana, garantindo, assim, vaga à Recopa Sul-Americana, onde enfrentaria o time vencedor da Copa Libertadores da América daquele ano. E quem era esse time? Isso, o Atlético Nacional. 

A Chapecoense foi a terceira equipe brasileira a conquistar a Sul-Americana

Pós-homenagens, encarando novamente a realidade futebolística do clube, inciou-se o projeto de remontada do clube catarinense, que se modificou completamente, desde comissão técnica até na montagem do elenco.

Início de temporada com Vagner Mancini 

Descartados técnicos renomados que se ofereceram, até voluntariamente, para comandar o clube, como Levir Culpi por exemplo, a Chapecoense apostou no trabalho de Vagner Mancini para assumir o legado de Caio Júnior. Com a missão inédita de ter que remontar um elenco praticamente do zero, Mancini evitou a procura por medalhões e acertou com jogadores que haviam realizado bons desempenhos no Campeonato Brasileiro do ano anterior.

Casos do lateral Reinaldo, do zagueiro Grolli e do centroavante Wellington Paulista. Destaque do Juventude, o goleiro Elias foi o escolhido para assumir o gol alviverde, tão bem protegido por Danilo anteriormente.

A última decisão continental entre brasileiros e colombianos aconteceu em 1999, com Palmeiras e Deportivo Cali pela Libertadores

Como seu primeiro torneio profissional desde o incidente, a Chapecoense começou sua campanha no Campeonato Catarinense. Com 15 jogos disputados, a Chape perdeu apenas dois e é líder do segundo turno - quem levou o primeiro turno foi o Avaí. Outro momento histórico aconteceu no mês passado, quando o Verdão do Oeste iniciou seu percurso na primeira Libertadores de sua história. E deu Chape na estreia. Vitória fora de casa por 2 a 1 contra o Zulia-VEN. Na primeira partida na Arena Condá, a mística foi quebrada com a derrota de virada para o Lanús

Viva, com possibilidades de avançar no torneio continental e despontando com um dos principais favoritos ao título regional, a Chape busca sua conquista na Recopa apostando fielmente no jogo de ida. E isso diante de seus torcedores, que certamente tornarão a Arena Condá um verdadeiro caldeirão, como ocorreu na campanha da Sul-Americana do ano passado - o Verdão irá retribuir as homenagens colombianas. Mas dentro de campo, seguirá com a ambição de buscar mais um capítulo histórico para o povo de Chapecó...