Quem acompanha o futebol sabe como o cargo de treinador é altamente transitório. Diferentemente do futebol europeu, onde um técnico é capaz de ficar várias temporadas em um mesmo time, no Brasil as coisas são inversas, principalmente, quando as mudanças se baseiam em resultados positivos ou negativos.

Pensando nisso, um treinador de futebol assumir o trabalho deixado por outro é muito comum em terras brasileiras. Um exemplo dessa realidade é que em todo encerramento do Brasileirão, alguém publica uma matéria sobre as equipes que mudaram de técnico durante a competição, e quantas vezes isso aconteceu. Tem time que chega a alterar o comando mais de três vezes. 

Vagner Mancini foi apresentado em 9 de dezembro de 2016 (Foto: Sirli Freitas/Chapecoense)

No entanto, a missão do atual técnico da Chapecoense, Vagner Mancini, é totalmente atípica. O treinador é responsável pelo recomeço do time de Chapecó dentro de campo, quando a equipe vivia seu melhor momento na história. Finalista da Copa Sul-Americana, a Chape viajava para Medellín, na Colômbia, para decidir o torneio contra o Atlético Nacional. Porém, um acidente aéreo pôs fim à vida de 19 jogadores da equipe brasileira, além da comissão técnica comandada por Caio Júnior

Foto: Sirli Freitas/Chapecoense

Vagner Mancini, 50 anos, treinador desde que encerrou a carreira no Paulista de Jundiaí, em 2004, treinou várias equipes do futebol brasileiro, iniciou temporadas e também recebeu equipes em andamento de outros trabalhos. Mas, certamente, nunca imaginaria receber em suas mãos a reconstrução de um time, como o próprio Mancini falou à revista Veja após sua apresentação na Chapecoense.

"Eu não tinha nenhuma relação com a Chapecoense, com a cidade de Chapecó, então foi de certa forma uma surpresa. É o maior desafio da minha vida não só como técnico, mas como ser humano, e seria assim para qualquer treinador. Neste momento, temos de escolher as pessoas certas e montar um time competitivo", declarou em 17 de janeiro de 2017. 

Embora tenha passagens por diversos clubes como jogador e treinador, Vagner Mancini foi campeão da Copa Libertadores da América de 1995 com o Grêmio, ainda como atleta, na equipe treinada por Luiz Felipe Scolari. Como treinador, classificou o Atlético-PR para a edição 2014 da Libertadores, mas acabou demitido no fim de 2013. 

Montagem do time, calendário apertado e campanha em 2017

Vagner Mancini assumiu e tinha como missão remontar a Chapecoense com um orçamento salarial médio, além de trazer jogadores com o perfil parecido com aqueles que encantaram os torcedores em 2016. Para tal, o treinador procurou cumprir à risca tudo o que fora proposto.

"Montamos uma equipe com a cara da Chapecoense, que tem um histórico de belas campanhas e uma união muito grande com a comunidade de Chapecó. Descaracterizar isso seria um perigo", explicou à revista Veja.

Foto: Sirli Freitas/Chapecoense

Foram contratados, ao todo, 25 jogadores. A maioria deles foi cedida por empréstimo de diversos clubes do Brasil e do exterior. Até o momento, a Chapecoense disputou apenas o Campeonato Catarinense. Foi vice-campeã do turno e lidera o returno com três pontos de diferença para o Joinville. 

Na Libertadores, a Chapecoense realizou duas partidas. Na estreia, venceu o Zúlia-VEN, fora de casa, por 2 a 1, mas perdeu em casa para o Lanús-ARG, por 3 a 1. No meio do caminho, teve a Copa da Primeira Liga, onde a Chape foi eliminada na primeira fase. Além desses torneios, a equipe de Chapecó terá pela frente o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e o Troféu Joan Gamper, onde foi convidada pelo Barcelona para disputar a taça no Estádio Camp Now, em Barcelona, Espanha. Com várias competições, Vagner Mancini elucidou seus objetivos na equipe.

"Temos objetivos grandes e para isso teremos de passar pelos menores. Hoje meu maior objetivo é formar uma equipe, desenhar os 11 jogadores iniciais, e implantar em todo o elenco uma forma de jogar. Queremos nos fortalecer com tudo o que aconteceu para que possamos queimar etapas. Queremos render cedo o que muita gente não espera. Não podemos contar com a tolerância de todos, temos de acelerar o projeto. Quem veio a Chapecó tem de estar decidido a fazer um grande ano. Oscilações serão normais, mas nossos objetivos são: ser campeão estadual, fazer uma boa Primeira Liga, disputar a Recopa Sul-Americana contra o Atlético Nacional (COL) em pé de igualdade, fazer uma Libertadores marcante e um bom Brasileiro", ressaltou a revista Veja.

Logo, percebe-se que não só a Chapecoense, mas também Vagner Mancini terão um ano cheio de compromissos e que, se bem cumpridos, será marcante para a história do clube de Chapecó e para a carreira de um dos principais treinadores da nova safra de técnicos do futebol brasileiro. 

Nós, que acompanhamos o acontecimento que chamou a atenção do mundo, viramos um pouco torcedores da Chapecoense. Mais do que isso, torcemos para que a passagem de Vagner Mancini seja vitoriosa.

VAVEL Logo
Sobre o autor