O atacante argentino Alejandro Martinuccio foi um dos grandes nomes contratados pela Chapecoense no ano de 2016. O jogador, que era o único estrangeiro no elenco, foi de suma importância na campanha que levou a Chape à final da Copa Sul Americana daquele ano.

Martinuccio teve de passar por uma artroscopia no joelho que o deixaria de fora da grande final contra o Atlético Nacional de Medellín. A lesão acabou tirando o atacante do voo LaMia 2933, que levava 77 pessoas à Colômbia e  caiu próximo ao local chamado Cerro El Gordo, ao se aproximar do aeroporto de Rionegro, tirando a vida de 71 pessoas. Na tripulação estavam seus companheiros de clube, dirigentes, comissão técnica e amigos.

No dia seguinte ao acidente, Martinuccio não escondeu a tristeza. “É um momento muito difícil, acordei com esta notícia. Todo mundo estava me ligando. As coisas acontecem, e não sei o porquê. É muito difícil imaginar o que poderia ter acontecido. Todo mundo está muito triste, é muito difícil”, lamentou.

O jogador também destacava as boas lembranças de seus colegas. “Trabalhar aqui era muito bom. Ninguém aqui estava com raiva”, disse o argentino, que expressou seu apoio às famílias das vítimas. “Agora temos de pensar em nossos filhos. Eu mesmo tenho três. É muito difícil pensar que poderia estar no avião. Mas agora temos que ter força e seguir”.

Martinucciou também falou sobre seu sentimento ao lembrar seus ex-companheiros. "Estou em choque, é difícil, triste. É chorar e não parar de chorar e lembrar-se de cada companheiro porque a equipe é pequenina e conquistou uma vaga em uma final que ninguém podia acreditar. Se formou uma família, uma união e agora nada", pontuou, muito emocionado.

Em março de 2017, Martinuccio foi dispensado da Chapecoense após fazer um desabafo em suas redes sociais sobre não estar sendo escalado. "Muitos falam que estou sem vontade e isso é mentira. Nunca duvidem de mim", bradou o argentino. "Para tirar dúvidas, e malas falas sobre mim. Estou 100%, não estou machucado. São escolhas destas grandes mudanças e tenho que respeitar", completou.

O discurso do atleta irritou os dirigentes que optaram por dispensar o atleta. "Conversamos com ele hoje e formalizamos a decisão de desligar o jogador do clube. Ele chegou aqui em uma condição difícil e mereceu todo respeito dos profissionais que o ajudaram nessa recuperação", disse o diretor de futebol Rui Costa.

"Tenho certeza que o Martinuccio que volta ao mercado está muito mais preparado agora. A decisão foi do clube, da presidência e foi tomada a partir de uma série de questões que nos avaliamos. De nossa parte fica o respeito para com o jogador e a decisão da instituição. Eu respeito o atleta e a instituição então me resguardado em revelar os motivos do desligamento. Claro que o episódio de ontem teve um peso significativo, mas eu paro por aí nesta questão", acrescentou.

Pouco depois do anúncio da decisão, o jogador usou novamente as redes sociais para falar sobre a Chapecoense e se despedir. O argentino postou uma foto do ex-presidente Sandro Pallaoro ao lado dos dirigentes Maurinho e Cadu, todos mortos no acidente na Colômbia. No texto, o jogador agradeceu a oportunidade dada pelos três no clube verde e branco e disse que a tragédia marcou um antes e um depois em sua vida.

"Hoje termina um ciclo pra mim, e não quero me despedir sem falar muito obrigado a esses três caras que me deram uma oportunidade no clube, e a torcida por sempre gritar meu nome. Isso aqui é futebol e as coisas acontecem mas a dignidade é o primeiro, não me arrependo de nada", disse o jogador, em um dos trechos da publicação.

Martinuccio se transferiu para o Nueva Chicago, da Argentina. Já na nova equipe, o atleta relembrou a Chape em entrevista. "Não deve ser fácil começar o clube de novo do zero. Não se seguiu com a mesma linha que nos levou à final e aos primeiros colocados na tabela e a ser um clube muito bem organizado. Quem vê de fora nunca vai entender as coisas que começaram a acontecer lá dentro", salientou. 

O jogador também revelou que ainda sonha com os ex companheiros. "Eu sonho com meus companheiros. Sonho e penso em como seria a vida dos meus filhos, da minha mulher sem mim. Em como teria ficado os meus pais se eu tivesse subido naquele avião. Passa muito na cabeça, imaginar a vida das pessoas que você convive sem você. Eu vivia perto do estádio. Então aqui é mais fácil, por ficar mais perto da minha família e dos meus amigos", relatou.

Martinuccio, de 29 anos, retornou ao Nueva Chicago, clube situado no bairro mataderos, dentro da cidade de Buenos Aires, onde começou sua carreira. A equipe do jogador disputa a segunda divisão da Argentina.