Falar sobre a permanência da Chapecoense na Série A talvez fosse mais fácil nos anos anteriores. Poderíamos dizer que aquele era o ápice do nosso time: um herói no gol (Danilo), jogadores com raça e uma torcida unida, ou que tudo estava sobre controle e que nós brigávamos de igual para igual com os grandes. Mas, este ano o contexto é diferente, as lágrimas pela permanência não são de apenas por ter mais um ano na elite, mas também por termos conseguido deixar o time no mesmo lugar que estava quando eles nos deixaram.

Nossa jornada nunca foi fácil, mas tínhamos um diferencial. A maioria dos jogadores que passaram por Chapecó jogavam por amor ao time. Perto da fundação, muitos não recebiam nada, mas iam ao campo com garra e força, e esse costume se enraizou em toda a história da Chapecoense. Um clube que se tornou uma família, muito mais que onze jogadores. Foi esse diferencial que fez o time tomar caminhos inimagináveis até para os torcedores mais otimistas. Foi o amor que levou a Chapecoense às alturas

Eis que éramos um time pequeno no oeste de Santa Catarina, disputando campeonatos estaduais para alcançar a Série D. Quando alcançamos, muitos disseram que poderíamos até subir, mas que seria uma breve visita e que voltaríamos rapidamente. No dia 16 de novembro de 2013, a cidade cantou e chorou com o time, quando garantimos o acesso à série A pela primeira vez na história. Era hora de disputar contra os gigantes do Brasil.

Os anos se passaram, tornamo-nos o terror dos grandes. Apesar das diferenças, éramos um furacão em campo. Em 2016, estávamos na Série A anos depois que disseram que voltaríamos para a D. Nosso eterno presidente Sandro Pallaoro chegou a dizer: “Esse time vai longe”. E foi. O Brasil ficou pequeno demais para a Chapecoense, era hora de conquistar a América do Sul.

O pequeno time de Santa Catarina estava a um passo de chegar a uma final internacional. No dia 23 de novembro, aos 48 do segundo tempo, uma defesa incrível de Danilo e uma bola que não entrou. O coração Chapecoense nunca esteve tão feliz, era hora de conquistar a América. Seis dias depois, mudanças de planos, o time conquistou o mundo. 

Hoje faz um ano da tragédia e ainda dói no fundo da minha alma falar ou escrever sobre o assunto, as lágrimas ainda caem com o mesmo desespero. Mas, novamente em novembro, em 2017, nós conseguimos ultrapassar todas as barreiras mais uma vez. Após termos começado um time do zero, recebemos apoio do futebol mundial, o mundo chorou e cantou “vamos, vamos, Chape!”.

Livres de qualquer imunidade, o time ganhou no mérito mais um ano na elite. Não é só uma vaga, é a continuação de uma história, de um sonho, é a sensação de que honramos os que se foram. A Chapecoense está mais uma vez entre os maiores. O time que se recusa a ser grande, que carrega no peito o coração de uma cidade, e que agora o mundo inteiro também o carrega no coração. 

Ainda lutaremos, teremos momentos ruins e seremos diminuídos pela mídia e pelos outros, mas a história da Associação Chapecoense de Futebol merece ser lida, contada e admirada. Não é só mais um time pequeno na Série A. É uma nova chance de continuar escrevendo a nossa história, é o momento de surpreender o mundo mais uma vez.

Nós somos mais que 11, mais que os 71 guerreiros, nós somos uma cidade inteira, um país inteiro. Lutaremos de novo, mostraremos o nosso futebol mais uma vez, porque a história continua. Por aqueles que se foram e pelos que ficaram, a Chapecoense estará mais uma vez na série A. Nossas estrelas nos guiam do céu, nós nunca deixaremos de acreditar.

Julliana Paladino é torcedora da Chapecoense (Foto: Arquivo pessoal)

*Texto produzido por Julliana Paulino, escritora de 18 anos e torcedora da Chapecoense