Completa-se, nesta quarta (29), um ano do acidente envolvendo o avião que levava a delegação da Chapecoense para enfrentar o Atlético Nacional, na Colômbia, pela Copa Sul-Americana. Ídolo no clube, o zagueiro Rafael Lima não foi relacionado e, por isso, não viajou junto com a equipe alviverde naquela ocasião. Um ano após a tragédia, o defensor foi o herói do título do América-MG, que está de volta à Série A do Brasileirão.

A trajetória do defensor pela Chapecoense é longa. Rafael Lima foi contratado pelo clube em 2012 para a disputa da Série C do Brasileirão. Graças à Chapecoense, o zagueiro pôde retomar sua carreira como jogador de futebol, já que estava desempregado na época, e seguir seu sonho profissional. Com a camisa alviverde,  participou de mais de 200 partidas e foi um dos líderes do clube.

“Eu passei um ano e sete meses desempregado e fui para o Hercílio Luz [no segundo semestre de 2011], que é um time da segunda divisão e ascendeu à primeira divisão do Campeonato Catarinense neste ano. Fui para a Chapecoense como a última oportunidade na minha carreira. Era para disputar a Série C e se não desse certo eu iria fazer um curso de Educação Física para conseguir ingressar no futebol na comissão técnica", contou o jogador em entrevista à VAVEL Brasil.

O zagueiro relembrou quem foi responsável por sua ida à Chape e retomada de fato no futebol. "Quem me levou e tirou informações de como eu era dentro e fora de campo foi o Cadu Gaúcho, que era diretor de futebol por lá e que também estava no voo", contou.

Pelos cinco anos que defendeu as cores da equipe, Rafael Lima traz boas recordações. Ele participou da ascensão da Chapecoense à primeira divisão e da campanha do título catarinense de 2016. Entre os momentos que mais o marcaram, o defensor fez questão de ressaltar a humildade da diretoria do clube com as pessoas que lá trabalhavam e demonstrou gratidão por tudo que viveu em Chapecó.

"A humildade e o pensamento positivo para que as coisas possam acontecer foi o que realmente fez a diferença na história da Chapecoense" - Rafael Lima. 

Apesar dos momentos de alegria, Rafael também presenciou o sentimento contrário. No ano passado, 71 pessoas morreram no acidente que vitimou jogadores, comissão técnica e jornalistas na Colômbia, mas o defensor não estava entre eles. Cortado pelo técnico Caio Júnior, o zagueiro permaneceu no Brasil e presenciou uma situação inimaginável.

“O que mais me marcou durante todo esse tempo na Chapecoense foi a diretoria, que infelizmente também estava no voo. Eles tratavam todos de forma igual, não interessava se era o jogador mais conhecido ou o rapaz que fazia a manutenção do campo. A humildade e o pensamento positivo para que as coisas possam acontecer foi o que realmente fez a diferença na história da Chapecoense”, disse. 

"Eu poderia ter viajado. Eu estava apto para viajar e tinha a possibilidade ir, mas por opção do Caio Júnior eu acabei não viajando e infelizmente aconteceu aquele trágico acidente. Logo depois o velório coletivo, que foi a situação mais triste que eu já vivi na minha vida. Foi uma situação difícil e inevitavelmente todos os dias quando acordo eu lembro, ainda parece mentira, mas nossa vida tem que continuar”, ressaltou.

Rafael Lima marcou o gol do título americano (Foto: Divulgação/América-MG)

Dispensado da Chapecoense no final do ano passado, Rafael Lima teve um novo recomeço no América-MG, quando foi contratado para defender o Coelho. A equipe mineira sagrou-se campeã da Série B do Brasileirão na última semana, e o defensor marcou o gol da vitória, que dava o título ao América-MG. Caso Rafael Lima permaneça na equipe, ele enfrentará o ex-clube no próximo ano na primeira divisão.

“Espero continuar aqui no América-MG e enfrentar a Chapecoense, porque será um grande prazer e também será diferente assim como foi enfrentar o Figueirense, que me deu a primeira oportunidade no futebol e fiquei por lá durante dez anos. Então, eu tenho um carinho enorme por esses clubes e quando chegar a data de enfrentar a Chapecoense com certeza vai ser um dia muito especial”, comentou.

Homem de fé, Rafael Lima superou momentos difíceis durante a sua vida pessoal. O jogador ressaltou a importância do apoio de sua família para seguir em frente.  

“Eu devo tudo isso a minha família. Nesse tempo que eu fiquei parado, entre 2010 e 2011, eu tive um início de depressão e a minha esposa e filha foram fundamentais e continuam sendo para minha vida. Na vida é preciso ter fé e pessoas que nos amam para nos ajudar a ter asas e conseguir voar”, concluiu.